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Ele largou o emprego no 'Charlie Hebdo' - e salvou vidas no Stade de France

Patrick Pelloux, ex-colunista do "Charlie Hebdo", mostrando a capa do jornal logo após o atentado de janeiro deste ano. O médico participou da operação de socorro após o ataque no Stade de France, nos atentados de 13 de novembro em Paris - Martin Bureau/AFP
Patrick Pelloux, ex-colunista do "Charlie Hebdo", mostrando a capa do jornal logo após o atentado de janeiro deste ano. O médico participou da operação de socorro após o ataque no Stade de France, nos atentados de 13 de novembro em Paris Imagem: Martin Bureau/AFP

Carolina Vila-Nova

Do UOL, em Paris

26/11/2015 06h00

Patrick Pelloux era colunista do "Charlie Hebdo" quando o semanário satírico foi alvo de um ataque terrorista em 7 janeiro deste ano. Médico especializado em resgates, foi o primeiro a prestar socorro a alguns dos feridos, mas viu 12 de seus colegas morrerem, entre eles Charb --o cartunista e editor-chefe Stéphane Charbonnier--, seu "melhor amigo".

Em setembro, Pelloux, 52, anunciou sua saída do jornal. "Minha época acabou. Charb não está mais lá, não faz mais sentido", explicou, na ocasião. "Nós somos sobreviventes, sim e não. Uma parte de nós parou naquele momento."

Ele assumiu então a chefia do serviço de emergência francês, o Samu.

Ironia do destino ou não, na manhã do dia 13 de novembro sua equipe havia realizado um treinamento específico para atendimento em caso de atentados terroristas simultâneos.

"Assim que ouvi as explosões no Stade de France, eu soube: ‘é um atentado’. Corri para a emergência. Estávamos bem preparados. Enviamos o máximo de pessoas para os locais e em três horas abrimos umas 60 mesas de operação para tratar os feridos", afirmou, em declarações à imprensa francesa.

Além do estádio, terroristas atacaram naquela mesma noite a casa da shows Bataclan e uma série de bares e restaurantes na capital francesa. Cento e trinta pessoas morreram.

"A equipe tentou salvar mais gente, mas os ferimentos eram horríveis, provocados por balas de fuzis automáticos. A maioria tinha intenção de matar, era na cabeça, no tórax, no abdômen. Outros eram ferimentos de defesa, como quando a pessoa levanta as mãos para proteger o rosto”, descreveu.

"Outros ferimentos eram provocados pela explosão de cintos explosivos, em que haviam colocado também pregos e pedaços de metal que foram projetados contra outras vítimas", relatou.

Pelloux manifestou apoio ao presidente francês, François Hollande, quando este disse, após os ataques, que a França estava em guerra.

"Sim, estamos em guerra. Naquela noite, estávamos tratando ferimentos de guerra, feitos com armas de guerra, com balas que entram tão rapidamente que quebram e queimam, causando estragos imensos", disse.

Questionado pela CNN, Pelloux minimizou a experiência de passar por dois atentados em menos de um ano: "Fiz um trabalho de abstração para esquecer meus próprios sentimentos e servir da melhor maneira possível".

Pelloux acaba de lançar na França o livro "Toujours là, toujours prêt" (Sempre lá, Sempre pronto, em tradução livre), em que ele conta sua experiência no "Charlie Hebdo" e presta uma homenagem aos antigos colegas.