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Turquia segue prendendo militares após tentativa de golpe; 70 generais foram detidos

Kenan Gurbuz/Reuters
Imagem: Kenan Gurbuz/Reuters

Do UOL, em São Paulo

17/07/2016 16h42

Restabelecida a ordem após a tentativa fracassada de golpe na última sexta-feira, o governo da Turquia deu sequência neste domingo (17) às prisões de militares do alto escalão das Forças Armadas do país suspeitos de estarem envolvidos na ação. Segundo a agência de notícias Anadolu, uma das principais do país, pelo menos 70 generais e almirantes da Marinha foram presos por ligação com a tentativa de golpe.

O número de militares presos supera os 6.000, segundo o Ministério das Relações de Exteriores da Turquia, que afirmou que mais de 190 cidadãos morreram ao se opor ao golpe. Entre os golpistas, também de acordo com o governo do país, há mais de 100 mortos. No total, são 290 os mortos desde sexta-feira.

Na manhã deste domingo, foi preso o general que comandava a estratégica base aérea de Incirlik, onde estão caças dos EUA, Reino Unido, Alemanha, Catar e Arábia Saudita, e outro na base de Denizli, junto a mais 52 militares. Entre os detidos está Akin Oztürk, ex-comandante da Força Aérea, que seria nomeado chefe do Estado-Maior caso o golpe prosperasse.

Provocou surpresa a prisão do coronel Ali Yazici, assistente militar do presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, desde agosto, um cargo de confiança que o líder escolhe entre os militares.

Em comunicado, a chancelaria turca atribui a responsabilidade do golpe à "Organização Terrorista Fethullah Gülen (Fetö)", termo usado pelo governo para se referir à rede Hizmet, formada por seguidores do clérigo, exilado nos Estados Unidos. Gülen negou qualquer envolvimento no golpe, e o secretário de Estado americano, John Kerry, pediu que a Turquia apresente provas da participação do clérigo antes de considerar sua extradição.

Um comunicado militar divulgado neste domingo, o primeiro desde o golpe fracassado, usa termos similares ao governo turco, ao atribuir a responsabilidade da ação a "membros de uma organização terrorista ilegal que se infiltrou nas Forças Armadas".

A nota promete "punir da maneira mais severa, dentro da lei, aqueles que se sublevaram". Além disso, destaca o papel do povo, que freou o golpe ao tomar as ruas do país, apesar de também ressaltar que a ampla maioria dos membros das Forças Armadas rejeitou a ação.

Apesar de o comunicado afirmar que todos os golpistas já foram "neutralizados", algumas operações ainda foram realizadas neste domingo, sendo noticiadas pela imprensa local.

Uma ampla operação policial ocorreu na base aérea de Konya, no centro da província de Anatólia, que terminou com a prisão do coronel comandante da instalação e outros seis militares.

A detenção de outro militar perto do aeroporto de Sabiha Gökçen, em Istambul, ocorreu após tiros de advertência, mas sem mortos ou feridos, de acordo com o jornal "Sabah".

Imagens publicadas pelo jornal "Hürriyet" mostram 11 soldados amarrados, deitados no chão, cercados de homens armados.

Vários soldados de baixo nível na hierarquia militar, que estavam fazendo o serviço obrigatório, afirmam que não sabiam sobre o golpe e obedeceram às ordens de sair dos quartéis.

Pena de morte

Várias das vítimas do golpe foram enterradas neste domingo em uma série de cerimônias públicas. Uma delas, na mesquita de Fatih, em Istambul, contou com a presença de Erdogan.

Em discurso, o presidente prometeu que dialogará com a oposição para avaliar a possibilidade de reintroduzir a pena de morte na Turquia, abolida em 2004, como pediam aos gritos seus seguidos.

"No tema da pena capital, com certeza tomaremos uma decisão. Irmãos, no governo, escutamos esse pedido de vocês. Não podemos ignorá-lo. Na democracia, o que o povo disser, será", disse Erdogan, sendo aplaudido pelos presentes. (Com Efe)