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Tensão entre Coreias alimenta histórias de complôs para matar a família Kim

A partir da esq.: Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un - Reuters e Kyodo
A partir da esq.: Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un Imagem: Reuters e Kyodo

Do UOL, em São Paulo

05/05/2017 14h31

A acusação norte-coreana de que a CIA (a Agência Central de Inteligência dos EUA) e a Coreia do Sul estão conspirando para assassinar Kim Jong-un, o atual ditador da Coreia do Norte, é o mais novo episódio de uma série de histórias de difícil verificação de supostos planos para matar um líder norte-coreano. Com a "denúncia" desta sexta-feira (5), todos os três líderes da história da Coreia do Norte na era da dinastia Kim já foram citados como alvos de possíveis assassinatos.

O fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung, que governou o país de 1948 a 1994, teria sido alvo da ira de militares sul-coreanos. Em 1983, o presidente sul-coreano Chun  Doo-hwan sobreviveu a um atentado a bomba em Yangun, Mianmar. O ataque matou 17 dirigentes sul-coreanos e quatro birmaneses. Mais tarde, um militar norte-coreano chamado Kang Min Chol reivindicou a autoria do ataque.

Em retaliação, militares sul-coreanos teriam criado um grupo para assassinar Kim Il-sung. Após o treinamento e a preparação de um plano, os militares teriam pedido autorização de Doo-hwan para executar o ataque. O presidente teria recusado o plano com o argumento de que não buscava vingança. Outra versão diz que o líder sul-coreano foi convencido por diplomatas norte-americanos a evitar um confronto que poderia dar início a uma guerra. Ainda um outro argumento seria que um conflito poderia prejudicar a realização dos Jogos Asiáticos, que aconteceu em Seul em 1986.

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Kim Il-sung morreu em 1994, aos 82 anos, vítima de parada cardíaca.

Kim Jong-il sucedeu seu pai no poder. Em 2008, quando seu estado de saúde já era alvo de especulações, a Coreia do Norte acusou a Coreia do Sul de ter contratado um agente para seguir Kim Jong-il e envenená-lo.

O comunicado da Coreia do Norte sugeria que o agente, identificado apenas como Ri, teria planejado matar o líder antes de ser preso. O agente Ri, ainda segundo os norte-coreanos, teria sido treinado pela Coreia do Sul para monitorar Kim Jong-il.

"A organização enviou para ele dispositivos de busca acústicos e de voz para rastrear os movimentos do líder e, no final, envenená-lo", diz o comunicado que foi lido na televisão estatal norte-coreana.

A nota não cita o nome Kim Jong-il, mas fala em "missão terrorista para ferir o principal líder" do país. Em outras ocasiões, a mídia norte-coreana já havia usado desse tipo de expressão para se referir ao ditador.

Na época, o Ministério da Unificação sul-coreana, que lida com as relações com a Coreia do Norte, disse não ter condições de confirmar o comunicado.

O anúncio foi feito em dezembro de 2008. Em fevereiro do mesmo ano, o conservador Lee Myung-bak havia assumido o poder na Coreia do Sul com a promessa de implementar uma política mais rígida em relação ao vizinho do Norte. A relação ficou ainda pior no início daquele dezembro, quando a Coreia do Norte restringiu o tráfego entre os dois países.

Nessa época, especulava-se que Kim Jong-il estava doente, teria sofrido um derrame e feito cirurgia cerebral. Kim Jong-il morreu em 2011 de ataque cardíaco, segundo fontes oficiais.

As acusações desta sexta-feira (8) sobre uma conspiração para matar o ditador atual Kim Jong-un, filho de Kim Jong-il, também surgem em um momento de tensão.

Nas últimas semanas a guerra verbal entre Coreia do Norte e Estados Unidos se intensificou. O governo de Donald Trump adotou uma retórica áspera, dizendo estar pronto para, sozinho, resolver a questão norte-coreana.

Há poucos dias, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, afirmou na ONU que "todas as opções estão sobre a mesa" a respeito da Coreia do Norte e as ameaças de testes nucleares.

O anúncio de Pyongyang também acontece após o assassinato em fevereiro na Malásia do meio-irmão do líder norte-coreano, Kim Jong-Nam. Ele foi envenenado com VX, um poderoso agente neurotóxico, e tanto a Malásia quanto a Coreia do Sul acusaram o regime comunista.

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Em seu comunicado divulgado pela agência oficial de notícias KCNA, o ministério norte-coreano da Segurança do Estado afirma que a CIA e os serviços de inteligência sul-coreanos (IS) "corromperam ideologicamente e subornaram um cidadão norte-coreano chamado Kim" para executar o ataque contra o líder do país.

Cita um "assassinato usando substâncias químicas que incluem substâncias radioativas e nano-substâncias venenosas", que "é o melhor método, pois não requer aproximação do objetivo, e seus efeitos letais aparecerão depois de seis ou 12 meses", afirma o comunicado, citado pela imprensa estatal.

Segundo o comunicado, o ataque poderia ser realizado durante um desfile militar no mausoléu que abriga os corpos do pai do líder norte-coreano, Kim Kong-Il, morto em 2011, e de seu avô, Kim Il-Sung, o pai fundador da nação.

Mas uma operação deste tipo seria extremamente difícil de preparar e executar, estando o líder norte-coreano constantemente cercado de medidas de segurança.

O comunicado não revela mais informações sobre como o complô teria sido desbaratado ou o que aconteceu com o suposto espião que deveria executar o crime.