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"Irma parece um monstro sem controle", diz brasileiro em Miami; veja relatos

Prateleiras de supermercado em Miami estão vazias por conta da passagem do furacão Irma -  Mark Wilson/Getty Images/AFP
Prateleiras de supermercado em Miami estão vazias por conta da passagem do furacão Irma Imagem: Mark Wilson/Getty Images/AFP

Bárbara Paludeti

Do UOL, em São Paulo

07/09/2017 17h56Atualizada em 07/09/2017 20h15

O furacão Irma atravessou a República Dominicana em direção ao Haiti nesta quinta-feira (7) após devastar uma série de ilhas caribenhas e matar ao menos 10 pessoas. Ela é tida como uma das tempestades mais poderosas do Atlântico em um século e vai em direção ao Estado americano da Flórida. Cerca de 650 mil moradores do condado de Miami-Dade serão obrigatoriamente evacuados, anunciou o prefeito Carlos A. Gimenez.

Julio Schneider, consultor internacional e corretor de imóveis, mora em Miami desde 1999 e conta que nunca viu nada igual.

Já passei por vários furacões em todo este tempo nos EUA, mas este parece um monstro sem controle. Está um clima bem tenso aqui na cidade"

Irma deve atingir a Flórida como uma tempestade de categoria 4 muito poderosa no domingo (10), com tempestades e inundações nas próximas 48 horas, de acordo com o NHC (Centro Nacional de Furacões, na sigla em inglês). A escassez de gás na área de Miami-Fort Lauderdale piorou hoje, com vendas até cinco vezes acima do normal. Segundo Julio, já existe ordem de evacuação em algumas áreas da Flórida, começando por Key West.

Julio Schneider mora desde 1999 em Miami (Flórida) e disse que nunca viu algo igual ao Irma - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Julio Schneider mora desde 1999 em Miami (Flórida) e disse que nunca viu algo igual ao Irma
Imagem: Arquivo pessoal
"Quase todos os mercados estão sem água. As filas dos postos estão grandes, alguns já não têm mais mais gasolina. Hoje vi uma briga por madeira em uma loja [para reforçar as fachadas das casas]. Fui ao Walmart [supermercado] hoje pela manhã tentar comprar uma bateria extra para meu celular e ela já não existe mais em lugar nenhum. Ninguém está trabalhando e as lojas estão fechando", contou à reportagem do UOL.

O corretor de imóveis se precaveu e carregou o carro com comida e água já na terça-feira e ficará em um hotel que foi construído para resistir aos furacões em Fort Lauderdale --longe da praia, segundo ele. "Moro numa ilha perto do mar, aqui as enchentes são o maior problema".

E ao contrário do que se pode imaginar, Schneider conta que nesta quinta faz um dia lindo de sol, mas o silêncio dos pássaros assusta. "A natureza é sábia. Todos os animais e pássaros já foram embora."

O também corretor de imóveis, Osvaldo Schwarz disse que todos estão muito preocupados em Miami, mas procurando manter a calma. "Devo ficar em casa, já passei por mais de duas experiências dessas aqui, em 29 anos, e penso que, no meu caso, o melhor é ficar, como a maioria da comunidade onde estou", explica.

Homem trabalha para reforçar fachada do balé da cidade de Miami, na Flórida, por causa da passagem do furacão Irma - Marta Lavandier/AP - Marta Lavandier/AP
Homem trabalha para reforçar fachada do balé da cidade de Miami, na Flórida, com tábuas de madeira
Imagem: Marta Lavandier/AP

Terra do Mickey também se prepara

A cidade de Orlando, também na Flórida e distante cerca de 380 km de Miami, é destino turístico de muitos brasileiros por conta dos parques de diversões da Disney e da Universal Studios. Apesar de não haver ordem de evacuação, eles também estão se preparando para o Irma.

Aline Rezener, blogueira do Malucas e Piradas, que fala sobre turismo, mora em Orlando há três e meio e conta que, aparentemente, as coisas estão normais, até você chegar em algum supermercado. "Já está faltando água e gasolina em alguns postos. As pessoas estão se preparando caso alguma coisa aconteça. A gente espera que não vá acontecer nada de catastrófico", afirma.

Segundo Aline, o governador suspendeu todos os pedágios nas estradas porque tem muita gente vindo do Sul, principalmente de Miami, mais para o Norte da Flórida. "A gente acha que vai ter toque de recolher, como teve com o Matthew [furacão de 2016], e esperamos que não passe disso mesmo", diz, mas, para garantir, há baterias extras para os celulares, lanterna, água e alimentos em sua casa.

Homem carrega o carro com sacos de areia em Orlando, na Flórida, para se preparar para a passagem do furacão Irma - Red Huber/Orlando Sentinel via AP - Red Huber/Orlando Sentinel via AP
Homem carrega o carro com sacos de areia em Orlando, na Flórida, para se preparar para a passagem do furacão Irma
Imagem: Red Huber/Orlando Sentinel via AP

Diego Talberg, criador do canal Coisas de Orlando e morador da cidade há quatro anos, acredita que nesta sexta-feira a cidade deverá ter avisos mais "pesados" sobre manter-se em casa ou ir para abrigos. "Tivemos ano passado o Matthew, foi bem tenso, mas no fim, ele perdeu força e no dia seguinte a vida voltou ao normal. No supermercado não tem mais nada de água, pão e algumas coisas perecíveis, a galera se antecipou bastante esse ano, o que é bom, mas para quem está meio desavisado, fica ainda mais preocupado por não encontrar nada", explica.

Como os locais dizem, a gente se prepara para o pior, mas espera sempre pelo melhor, essa é a frase mais falada por aqui" conta Aline.

O governador da Flórida, Rick Scott, disse que não estava claro se o Irma atingiria a costa leste ou oeste do Estado, mas recomendou os residentes a ficarem atentos às ondas provocadas por ventos poderosos. O presidente dos EUA, Donald Trump, está monitorando o progresso do Irma e aprovou a decretação de emergências no Estado, em Porto Rico e nas Ilhas Virgens Americanas, mobilizando recursos federais de assistência a desastres.

Rastro de destruição

Com ventos de cerca de 290 km/h, a tempestade assolou várias ilhas pequenas no nordeste do Caribe, incluindo Barbuda --que teve 90% das suas construções destruídas--, St. Martin e as Ilhas Virgens Britânicas, arrancando árvores, derrubando casas e provocando danos generalizados.

O olho do furacão não atingiu diretamente Porto Rico, passando ao norte do território norte-americano no início desta quinta, com ventos rápidos e chuvas pesadas que deixaram quase 70% da população sem eletricidade, disse o governador Ricardo Rossello. No entanto, deixou três mortes por lá. Além disso, 221.214 clientes do serviço de água (18% do total) tiveram o fornecimento cortado.

Rossello também advertiu que o solo está saturado, o que pode gerar deslizamentos e transbordamentos em rios.

A brasileira Cynara Rennó Leite Bueno, farmacêutica, mora há dois anos em Guaynabo, a cerca de 10 km da capital porto-riquenha San Juan e conta que houve muitos estragos por lá. "Estamos sem energia e sem água potável e não há previsão de volta".

Ela disse que o governo evacuou as áreas de riscos na costa e que os abrigos estão lotados. No momento da passagem do Irma, Cynara disse que houve chuva forte e muito vento, o que derrubou muitas árvores e queimou geradores.

Na hora pior entramos com as crianças em um quarto seguro. Definitivamente, fomos abençoados. A previsão era catástrofe e se afastou de repente" conta aliviada.

Dominike Essenfelder mora em San Juan há três meses e conta que ficou muito angustiada com a passagem do Irma. "Estamos no gerador do condomínio e sem sinal de celular. Há muita lama e sujeira. A escola dos meus quatro filhos ainda não tem previsão de quando irá reabrir".

Homem observa destroços após passagem do furacão Irma por Nagua, na República Dominicana - Tatiana Fernandez/AP - Tatiana Fernandez/AP
Homem observa destroços após passagem do furacão Irma por Nagua, na República Dominicana
Imagem: Tatiana Fernandez/AP
Irma também passou ao norte da República Dominicana, outro destino turístico de muitos brasileiros, principalmente Punta Cana, por seus resorts e mar azul. Ao que parece, os estragos não foram tão grandes.

Leandro Ramos Lisboa, que trabalha com turismo para brasileiros, mora há 14 anos em Punta Cana e conta que foi tranquilo.

"Houve chuva leve e ventos, porém não houve falta de energia. Muitos turistas se desesperaram antes da chegada e tentaram de tudo para conseguir passagem de volta, mas os hotéis se preparam muito bem", afirma. (Com agências internacionais)