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Ex-sindicalista e milionário, presidente da África do Sul diz que "povo virá em 1º lugar"

9.out.2015 - Cyril Ramaphosa (direita) conversa com o presidente Jacob Zuma durante um evento do partido ANC - Guercia Gianluigi/AFP - Guercia Gianluigi/AFP
9.out.2015 - Cyril Ramaphosa (direita) conversa com o presidente Jacob Zuma durante um evento do partido ANC
Imagem: Guercia Gianluigi/AFP

Do UOL, em São Paulo

15/02/2018 14h23

Nesta quinta-feira (15), após a renúncia do presidente Jacob Zuma na noite de quarta-feira, o empresário Cyril Ramaphosa, vice-presidente, foi eleito o novo presidente da África do Sul por unanimidade do parlamento sul-africano.

Ramaphosa é presidente do partido governista Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) desde dezembro de 2017. Com sua eleição, se torna o quinto presidente sul-africano após o fim do apartheid e ascensão de Nelson Mandela ao poder em 1994.

"Quando alguém é escolhido para este tipo de posição, basicamente se transforma em um servidor do povo da África do Sul", disse Ramaphosa, em seu primeiro discurso após a eleição.

O novo presidente agradeceu a oportunidade e prometeu que, sob o seu comando, o interesse da África do Sul e de seu povo virá "primeiro" em tudo que se faça e que se comportará com "humildade" e "dignidade". Também afirmou que irá trabalhar para enfrentar a corrupção, melhorar a economia e buscar a unidade do país. No entanto, disse que os detalhes sobre seu governo serão informados na sexta-feira (16).

Mapa, África do Sul, Cidade do Cabo - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

O novo presidente também é um dos políticos mais ricos da África do Sul, com fortuna estimada em cerca de US$ 540 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhão).

Nascido em Soweto, nos arredores de Johannesburgo, em 1952, Ramaphosa ingressou na política cedo, ainda durante a faculdade de direito, protestando contra o apartheid, o que o levou a prisão por 11 meses em 1974.

Nos anos 1970 foi preso em duas ocasiões: em 1974 e em 1976, acusado sob as leis de terrorismo que o governo segregacionista branco usava para fustigar à maioria negra.

Nos anos 1980 sua vida se inclinou para o sindicalismo, o que o levou a cofundar o Sindicato Nacional de Mineiros Negros (NUM), o maior da África do Sul.

De sua secretaria-geral brigou pela melhoria dos salários e pelas condições dos trabalhadores e, em 1987, dirigiu os mineiros sul-africanos em uma das greves mais longa da história do país.

A essa etapa remonta sua fama de estrategista, que depois lhe transformaria em um dos jovens políticos com mais projeção do CNA.

Sua eleição em 1991 como secretário-geral do partido - na primeira reunião da organização após 30 anos de proscrição - significou sua saída do NUM para passar a transformar-se em uma figura-chave das negociações do fim do apartheid.

Ramaphosa já aparecia entre os candidatos a tornar-se o primeiro vice-presidente da África do Sul democrática, sob a presidência de Nelson Mandela (1994-1999), mas naquela ocasião não alcançou essa posição.

Em 1982, fundou a União Nacional de Mineradores (NUM). Sob seu comando, a União cresceu e reuniu 300 mil membros. Em 1987, Ramaphosa esteve diretamente envolvido na grande greve do setor, o que chamou a atenção dos líderes do ANC.

Nos anos 1990, em meio a luta pelo fim do apartheid no país, Ramaphosa ajudou no processo de saída de Nelson Mandela da prisão e no seu reingresso na vida política. Foi Mandela quem colocou o sindicalista para negociar a transição política com "poder branco".

Segundo descrição do próprio Mandela, Ramaphosa era "um dos mais talentosos da nova geração".

Por isso, o sindicalista esperava ser reconhecido pelo líder e colocado na posição de vice-presidente em 1994. Quando não conseguiu o cargo, desistiu de compor o governo. Na sequência, entrou para o parlamento e presidiu a assembleia constituinte que elaborou a constituição pós-apartheid do país.

13.abril.1996 - Presidente Nelson Mandela, esquerda, cumprimenta o Secretário Geral do ANC Cyril Ramaphosa após ele anunciar sua renúncia ao parlamento - AP - AP
Presidente Nelson Mandela, esquerda, cumprimenta Cyril Ramaphosa após ele anunciar sua renúncia como membro do parlamento
Imagem: AP

Em 1997, abandonou a vida política para se dedicar exclusivamente aos negócios. Para o empresariado branco, foi difícil aceitar a entrada de um ex-líder sindical negro que organizou a maior greve de mineiros da África do Sul no setor.

Por isso, Ramaphosa comprou ações de quase todos os principais setores econômicos sul-africanos. Desde empresas de telecomunicação, mídia, bebidas, redes de fast food (era dono da rede de franquias do McDonald's no país) e até empresas de mineração.

Em 2012, enquanto estava na diretoria da mineradora Lonmin, se envolveu em uma grande polêmica por conta de suas declarações antes do massacre de Marikana.

Em meio a uma série de protestos de mineiros pedindo por melhores salários, 34 trabalhadores foram mortos pela polícia no que foi o pior massacre policial depois do fim do apartheid.

Na véspera do ocorrido, Ramaphosa, ex-líder sindical, declarou em uma troca de e-mails com executivos que os acontecimentos da greve geral eram "atos criminosos e deveriam ser tratados como tal". Mais tarde, ele se desculpou por suas declarações.

No dia 25 de maio de 2014, assumiu como vice-presidente da África do Sul ao lado de Zuma. Em dezembro de 2017, se tornou presidente do partido ANC e liderou o grupo que pedia pela renúncia do presidente.

Após a renúncia, o atual presidente declarou que a África do Sul está saindo de um "período de incerteza e escuridão para entrar em uma nova fase". (Com informações de agências internacionais)