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Ferroviários param trens contra reforma de Macron, e Paris vive segundo dia de caos

Multidão se aglomera em vias da estação de trem Gare de Lyon, em Paris, durante paralisação  - Iudovic Marin/AFP Photo
Multidão se aglomera em vias da estação de trem Gare de Lyon, em Paris, durante paralisação Imagem: Iudovic Marin/AFP Photo

Yann Le Guernigou e Richard Lough

Em PAris

04/04/2018 13h15

Milhões de usuários franceses dos transportes intermunicipais enfrentam o segundo dia consecutivo de caos nesta quarta-feira (4), com os ferroviários em greve, em uma disputa contra as propostas de reforma do presidente Emmanuel Macron.

Passageiros de Paris e arredores se espremeram nos poucos trens em funcionamento durante o horário de pico enquanto muitas plataformas das estações mais movimentadas da capital francesa permaneciam vazias.

No primeiro dia de greve, um em cada três trabalhadores ferroviários (34%) fez greve e mais de três em quatro condutores de trem (77%), afirmou a direção do SNCF, companhia nacional ferroviária. O sistema de trens é usado por 4,5 milhões de franceses diariamente.

Os sindicatos programaram uma greve de dois dias a cada cinco até o final de junho, totalizando 36 dias.

O tráfego internacional também foi afetado, mas em menor escala, com três a cada quatro trens Eurostar, que liga Paris a Londres, em operação e uma circulação praticamente normal da linha Thalys que viaja à Bélgica.

Porém, não houve nenhuma viagem para Espanha, Itália e Suíça nesta terça-feira.

Os garis e funcionários do setor de energia também estão em greve para exigir um serviço público nacional.
Ao mesmo tempo, os trabalhadores da companhia Air France organizam o quarto dia de greve em um mês para exigir um aumento salarial de 6%.

Reformas

Macron diz que quer transformar a estatal altamente endividada, que perde cerca de 3,7 milhões de dólares por ano, em um serviço público que poderá ter concorrência estrangeira a partir de 2020, quando acaba seu monopólio.

Os sindicatos da SNCF protestam contra a supressão do estatuto especial de seus trabalhadores que, assim como o do funcionalismo público, garante a estabilidade no emprego.

Também criticam a abertura do serviço ferroviário à concorrência e a transformação da empresa em sociedade anônima, abrindo a via para uma futura privatização, algo que o governo nega.

Diante da série de protestos, mobilizados contra a reforma do setor, "o governo resistirá pela via da escuta, da harmonia e do diálogo", afirmou a ministra dos Transportes, Elisabeth Borne.

O primeiro-ministro, Édouard Philippe, declarou que ouve "tanto os grevistas" como "aqueles que querem ir trabalhar".

As pesquisas mostram que a opinião pública rejeita a greve, mas os sindicados esperam convencer os franceses, pois em 15 dias o apoio ao movimento subiu de 42% a 46%.

Até agora, o presidente francês, eleito com a promessa de "transformar" o país, conseguiu aprovar sem grande resistência suas reformas, incluindo uma delicada reforma trabalhista, apesar de vários protestos.

Mas desta vez Macron enfrenta uma tarefa muito mais difícil ao apontar para uma empresa de 147.000 funcionários, que obteve recuos de vários governos franceses nas últimas décadas.

Credibilidade

Para justificar a reforma, o governo recorda a enorme dívida da empresa pública, a necessidade de preparar a SNCF para a abertura à concorrência e os elevados custos de operação.

"Fazer circular um trem na França custa 30% mais caro do que em outros lugares", repete o executivo. Macron joga parte de sua credibilidade na questão, já que não pode recuar diante dos ferroviários depois de ter acusado os antecessores de imobilismo.

(Com AFP e Reuters)