Fazer fake news é barato e pode causar estrago bilionário, dizem estudiosos
Quer fazer uma campanha com ataques mentirosos contra um adversário político nas redes sociais? É possível comprar o serviço por 2.000 dólares (cerca de R$ 7.700). Ou que tal difamar um jornalista que atrapalha seus negócios? Pague 55 mil dólares (R$ 212 mil) e destrua sua reputação.
Com custo relativamente baixo e potencial destrutivo bilionário, as fake news têm se tornado objeto de estudo de cientistas do mundo todo. Na última semana, especialistas brasileiros e norte-americanos se reuniram para discutir abordagens para tratar do fenômeno, que foi tema de uma das mesas da Fapesp Week New York, nos Estados Unidos, promovida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo em parceria com o Instituto Wilson, um centro de pesquisas dos EUA, e a Universidade da Cidade de Nova York (CUNY, na sigla em inglês).
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Vieram desses especialistas os cálculos dos custos e dos impactos das fake news.
?Somente na África foram perdidos 3,4 bilhões de dólares (cerca de R$ 13 bilhões) em 2017 com esse tipo de cybercrime?, diz Marie-Michelle Strah, especialista em cybercrime e cybersegurança, da John Jay College da CUNY.
Ela diz que, embora as fake news tenham se transformado em um fenômeno associado à política, essa forma de comunicação tem sido utilizada pelo crime organizado com diversas finalidades, inclusive fraudes financeiras.
?As ferramentas de marketing, análise de audiência e SEO, utilizadas por negócios legítimos o tempo todo, são cooptadas para esse novo modelo de crime", afirma.
Strah diz que as fake news se tornam mais potentes com a proliferação dos agentes que as produzem. ?E você nem precisa entender de tecnologia para fazer isso. É possível terceirizar o serviço, da mesma maneira que uma agência que anunciam comida para gato contrata uma de SEO (otimização de mecanismos de pesquisa)?, compara a especialista.
Fenômeno antigo
Ainda que o assunto seja novo, Marie-Michelle ressalta que o fenômeno é muito antigo ? há exemplos de uso de fake news desde o século 17, e a tática foi usada até em crimes contra a humanidade.
Mas a velocidade e o alcance atuais não têm precedentes, por causa das redes sociais.
Parte da culpa é atribuída ao fato de que essas plataformas decidiram competir diretamente com a mídia há alguns anos. Mas o problema é mais amplo ? envolve também as pessoas, que participam e espalham as notícias.
O declínio na confiança da população na imprensa também facilitou a adesão das pessoas a informações de fontes duvidosas, na visão de Barbara Gray, pesquisadora da escola de jornalismo da CUNY.
Ela relatou algumas iniciativas recentes, nos EUA, que utilizam conceitos como transparência e contato mais próximo com as comunidades para engajar o leitor no exercício do ?fact checking? (verificar os fatos), prática que ela vê como a única solução possível para o problema. ?Todos nós temos nossos vieses, mas o processo de fact check é objetivo?, diz.
Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), mencionou levantamentos realizados por diferentes instituições, com base nas últimas eleições presidenciais nos EUA e no Brasil, que mostram que fenômeno tem forte associação com o conservadorismo de direita.
É o caso dos trolls disparados pela Rússia com o objetivo de manipular a opinião contra a candidata Hillary Clinton, em 2016: a maior parte dos retweets partiu dos estados conservadores do Tennessee e do Texas, revelou um estudo do MIT. ?Não estou dizendo que é exclusivo da direita, mas que o comportamento é mais frequente entre eles, segundo as pesquisas?, afirma.
O jornalista e professor Carlos Eduardo Lins da Silva, da Fapesp, enfatizou a ausência de estudos mais profundos sobre o fenômeno, que avaliem não apenas o número de pessoas alcançadas, mas também o tipo de impacto que as fake news provocam.
?Enquanto isso não é feito, não podemos tirar informações precipitadas?, acredita, lembrando que todas as novas mídias provocaram reações apocalípticas na história da comunicação.
De qualquer forma, ele vê algumas iniciativas de controle ou restrição, como tem se discutido na França, medidas equivocadas. A única solução, de acordo com ele e os especialistas da mesa, é as plataformas se ajustarem. E, claro, as pessoas se educarem para saber diferenciar fatos de notícias fabricadas.
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