Saiba como o Femen é financiado

Solène Cordier

  • Kestutis Vanagas/Reuters

    Policial da Lituânia segura uma ativista do movimento feminista Femen durante um protesto em Vilnius, capital do país, em 2013

    Policial da Lituânia segura uma ativista do movimento feminista Femen durante um protesto em Vilnius, capital do país, em 2013

Há um tanto de mistério e muitos rumores que cercam o Femen. As ações muito elaboradas dessas jovens, que bradam suas mensagens com os seios de fora e palavras de ordem escritas no peito, chocam os meios católicos e irritam algumas feministas. Esse movimento, que reivindica como objetivo "a abolição total do patriarcado sob todas suas formas", se tornou em menos de dois anos um dos alvos preferidos da direita e da extrema direita.

Femen França, uma associação sem fins lucrativos

O movimento Femen nasceu na Ucrânia em 2008. Ele reúne militantes que reivindicam um feminismo radical, o "sextremismo". Uma de suas líderes, Inna Shevchenko, fugiu para a França no verão de 2012, perseguida em seu país por ter quebrado uma cruz em apoio às cantoras russas do Pussy Riot. Ela se tornou presidente do braço francês do Femen.

No plano jurídico, o Femen França é uma associação sem fins lucrativos cuja criação foi ratificada no dia 3 de dezembro de 2012. Três categorias de pessoas a compõem: os membros ativos e contribuintes, os membros patrocinadores e os membros honorários, todos voluntários. "Cerca de trinta ativistas e uma centena de membros no total", estima o Femen. Os contribuintes devem pagar uma cota anual que em 2013 chegava a 10 euros.

A associação tem seu endereço registrado na Casa das Associações do 10o arrondissement de Paris, sinal de uma proximidade com o gabinete municipal socialista, segundo seus detratores. Só que cerca de outras 140 associações têm esse serviço de registro de endereço nesse bairro, como a Liga dos Jogos de Damas de Île-de-France, a associação ACT-Toxicologia ou a Federação Francesa de Xadrez.

Doações são 44% de seu financiamento

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Durante a primeira assembleia geral da associação, no dia 24 de janeiro, as contas de resultados para 2013, às quais o "Le Monde" teve acesso, foram aprovadas. Eles listam tanto as despesas quanto as receitas da associação para o ano, ou seja, 20.965,76 euros de débito e 24.225,41 de crédito. Até a data presente, na conta bancária da associação constava um saldo positivo de 3.259,65 euros.

 

Quarenta e quatro por cento dos fundos da associação são provenientes de doações (10.669 euros em 2013). "Em média, as doações variam entre 5 e 100 euros", explicam Esther e Charlotte [elas preferem manter o anonimato], as tesoureiras da associação, que garantem que se trata unicamente de doações de pessoas físicas. Vinte e três por cento dos fundos (ou seja, 5.543.30 euros) provêm de direitos autorais recebidos pela presidente Inna Shevchenko por sua obra "Femen", que ela reverteu integralmente este ano à associação, 19% de indenização paga pela seguradora devido ao incêndio na sua sede e 6% de sua bilheteria (o Femen organizou três "Femen parties" em 2013), 3% de cotas e 5% da venda de produtos derivados em seu website.

Nenhum euro de subsídio público em 2013

Na internet, as redes de extrema direita dão a entender que o Femen obteve subsídios públicos. Tanto que uma deputada do UMP [União por um Movimento Popular], Valérie Boyer, levantou essa questão para Manuel Valls, que exigiu uma resposta do Ministério do Interior teoricamente em um prazo de dois meses.

"Sabemos muito pouco das mulheres que fazem parte do movimento e que parecem ser recrutadas por critérios exclusivamente físicos, assim como sabemos muito pouco da proveniência e da natureza dos subsídios que as sustentam. O Femen afirma que seu financiamento é garantido pelos ativistas, pela venda de produtos com a marca Femen, bem como por doadores generosos. No entanto, uma jornalista infiltrada declarou ter descoberto que as militantes ucranianas receberiam uma remuneração de US$ 1000 por mês, sendo simples ativistas voluntárias", afirma a deputada em seu questionamento, publicado no Diário Oficial de 31 de dezembro de 2013.

"Eu leio muitas coisas sobre o Femen mas nada confirmado, ainda mais por não haver nenhuma informação a respeito de seu financiamento no site da internet", explica ao "Le Monde" a deputada, que se diz "profundamente chocada com o silêncio da esquerda após a profanação da igreja de La Madeleine."

Por esse episódio, no qual ela simulou na igreja parisiense um "aborto de Jesus", uma ativista do Femen, Eloïse Bouton, foi convocada a comparecer no dia 14 de março perante o juiz de instrução. Ela pode ser condenada a uma pena máxima de um ano de prisão e 15 mil euros de multa. Em caso de condenação, o Femen explica que "não tem como antecipar o que quer que seja de um ponto de vista financeiro", mas "considera que é dever da associação pagar as multas e fazer de tudo para apoiar suas ativistas."

A respeito de possíveis subvenções públicas, a prefeitura de Paris e o Conselho Regional são categóricos. Nenhum dinheiro público teria sido pago até hoje. O Femen confirma: até hoje nunca pediram nenhum tipo de subsídio. "Mas não descartamos a possibilidade, caso os projetos que pretendemos conduzir se prestarem a isso", declara a tesoureira do grupo.

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Cálculo das atividades voluntárias

Com esse intuito, as tesoureiras do Femen chegaram a realizar um cálculo do custo total de suas atividades, hoje efetuadas em caráter voluntário. "Contribuições voluntárias em espécie" que elas avaliam em 48 mil euros; 32 mil euros equivalem ao voluntariado das ativistas (o equivalente a dois salários mínimos durante um ano), 1.800 euros correspondentes às cotas em espécie gentilmente cedidas por artistas nas Femen parties, 15 mil euros estimados para o pagamento de um ano de aluguel de um local com uma área equivalente ao que hoje elas ocupam de forma clandestina.

"Incluir essas contribuições voluntárias em nosso balanço e em nosso orçamento provisional nos permite, ao determinar a situação real dos custos de nossa atividade, avaliar o orçamento necessário a seu funcionamento levando em conta volumes financeiros reais", explicam Esther e Charlotte. E essa avaliação permitirá, se for o caso, justificar uma eventual demanda por subsídios públicos.

Tradutor: UOL

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