"Não me pertence mais", diz autor do slogan "Je suis Charlie"

Frédéric Potet

Ele também é um dos homens mais "procurados" do país, pelo menos pela imprensa da França, mas também da Alemanha, do Reino Unido, dos Estados Unidos, "do mundo inteiro", ele diz... Joachim Roncin, 39, é o criador do slogan "Je suis Charlie" ["Eu sou Charlie"] que, desde o atentado terrorista cometido na quarta-feira (7) na sede do "Charlie Hebdo", foi repetido pelo mundo todo em sinal de apoio aos chargistas assassinados.

Por acaso, mas nem tanto, Joachim Roncin também trabalha em um semanário, no caso o gratuito "Stylist", distribuído em uma tiragem de 450 mil exemplares nas saídas do metrô de Paris. Ele é seu diretor artístico desde sua criação, há dois anos.

Embora essa publicação estilosa, financiada unicamente pela publicidade, não tenha nenhum ponto em comum com o "Charlie", seu diretor artístico sentiu a necessidade de exprimir sua indignação tuitando algumas palavras --três, no caso--, meia hora após o anúncio da carnificina.

"Essa frase me veio naturalmente"

"Estávamos em uma reunião de redação, quando um de meus colaboradores nos informou que havia ocorrido um tiroteio em Paris", ele conta. "Fomos correndo olhar as notícias em nossos computadores. Senti como se tivesse sido alvo desse atentado, como todo mundo.

Como trabalho no universo das imagens, preferi simbolizar minha tristeza em vez de falar sobre ela. Essa frase me veio naturalmente. Escrevi 'Je suis' com a tipografia de nossa revista e embaixo coloquei o logo do 'Charlie Hebdo'. Só isso."

As redes sociais fizeram o resto. Cinco horas após a publicação de sua curtíssima mensagem (15 caracteres) em seu perfil do Twitter – que contava então com 500 seguidores (ante os 4.400 de hoje) - , dezenas de milhares de pessoas marchavam em Paris e no interior bradando a frase ou a exibindo em folhas de papel.

O fato de contar com a jornalista da TF1 Valérie Nataf (com 24 mil seguidores) e o ator Sylvain Quimène, conhecido como Gunther Love (com 35 mil seguidores) entre seus "followers' certamente contribuiu muito para sua fulgurante propagação. "Foi inacreditável!", ele diz, ainda atônito.

"Isso não me pertence mais"

Louco por  cultura pop, Joachim Roncin jura que não calculou nem antecipou nada ao lançar essa mensagem na imensidão digital como se lança uma garrafa ao mar: "Foi totalmente espontâneo".

A célebre frase pronunciada por John Fitzgerald Kennedy em 1963 na sacada da prefeitura de Schöneberg ---"Ich bin ein Berliner"--provavelmente estava adormecida em algum canto de seu inconsciente.

Ou não: "Não pensei nela ao bolar esse slogan", ele afirma. Ele prefere se lembrar dos conselhos que davam na escola de artes gráficas Penninghen, na época em que era estudante: "Less is best. Um bom slogan deve ter no máximo oito palavras. Mais do que isso, já era." Hoje seus professores diriam que "Je suis Charlie" seria difícil de superar.

Joachim Roncin tomou o cuidado especial de não registrar seu slogan junto a nenhum órgão de proteção intelectual. "Ele não me pertence mais. Só o criei. Ele deve permanecer acessível a todos. Não fui eu que criei o movimento de solidariedade que se formou em toda a França, foram as redes sociais", ele diz.

Pelo menos duas propostas comerciais foram apresentadas a ele com o intuito de fazer de "Je suis Charlie" uma marca, com copyright, produtos derivados e tudo mais. "Se alguém quiser registrar o nome e ganhar dinheiro com isso, azar o deles", ele já diz antecipadamente ofendido. "Eu tenho minha consciência."

Comovido com a maneira como seu slogan hoje se desdobrou (painéis humanos nas escolas, sinalizações nas estradas, manchetes de capa dos jornais...), e emocionado de saber que Madonna, Mia Farrow e Elton John o retuitaram, Joachim Roncin recebeu uma visita não exatamente divertida na quinta-feira.

Dois oficiais de polícia passaram para se certificar de que a senha da porta da entrada de seu local de trabalho estava funcionando. "Não temo por minha segurança", ele diz. "O assunto passa um pouco pela minha cabeça, mas tudo bem."
 

Tradutor: Do UOL

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