Google pode passar a administrar seu dinheiro

Éric Albert

  • Paul Sakuma/AP

É um dos grandes temores do centro financeiro de Londres. Não há conferência ou colóquio que se passe sem que seja mencionada a possibilidade de ver o Google, o Facebook e a Amazon repentinamente virando do avesso a indústria das finanças. Depois de revolucionar a indústria da música, dos jornais, dos táxis, dos livros, dos supermercados, será que os gigantes da internet ameaçarão o confortável domínio dos tradicionais pesos-pesados dos setores de bancos e gestão de ativos?

A ideia está longe de ser absurda. O centro financeiro de Londres afinal pouco mudou desde a chegada da internet. É claro, as novas tecnologias deram sua contribuição em mudanças: a negociação em alta frequência, onde as transações são feitas centenas de vezes mais rápido que um piscar de olhos, é um de seus exemplos mais evidentes. Mas a estrutura da indústria, especialmente na gestão de ativos, permanece essencialmente a mesma.

Para simplificar, a pirâmide é a seguinte: pequenos poupadores procuram consultorias financeiras, que lhe recomendam, por exemplo, planos de economias para sua velhice; o dinheiro deles vai para fundos de pensão, que passam ordens para diversas empresas de gestão de ativos, onde diferentes gestores especializados serão encarregados de multiplicar seus capitais. No total, os intermediários são muitos e cada um deles recebe uma comissão. A grande maioria dos gestores não tem nenhum contato com o cliente final, aquele que investiu sua poupança.

Mas os gigantes da internet são particularmente talentosos em acabar com intermediários. O papel das gravadoras na distribuição de música diminuiu muito; hoje as bandas conseguem atingir diretamente os fãs. O mesmo fenômeno pode se repetir nos investimentos.

Calafrios

O chinês Alibaba é prova disso. Em meados de 2013, o site de comércio eletrônico lançou chamados fundos de "money market", ou seja, investimentos de curto prazo destinados a gerar um excedente de liquidez. Seus produtos financeiros, destinados ao grande público, podem ser pedidos diretamente por um smartphone. O sucesso deles foi imediato: no terceiro trimestre de 2014, o Alibaba estava gerenciando US$ 87 bilhões (R$ 270 bilhões) em ativos.

Os gigantes do Vale do Silício também agregam uma vantagem única: o conhecimento abrangente que eles têm dos usuários. O Google e o Facebook conhecem os hábitos de cada um, podem prever com uma certa precisão se em breve os usuários vão querer ter um filho, se pretendem comprar uma casa, se têm problemas de dívidas... Todas essas informações podem ser utilizadas para sugerir produtos financeiros adequados. "O Google e os outros são bem melhores do que nós nisso", explica Christian Dargnat, presidente da Associação Europeia de Gestão de Ativos e de Fundos de Investimentos. "Nenhuma empresa de gestão tem um conhecimento tão apurado assim de seus clientes."

Isso causa calafrios nas grandes empresas que a associação representa, ainda mais que o Google parece estar bem interessado no assunto. Em 2013, o motor de busca encomendou um estudo sobre a melhor maneira de ingressar na gestão de ativos. Desde então, ele parece ter guardado seus planos na gaveta e hoje ele nega querer se expandir para esse setor. Pelo menos por enquanto...

Mas o Google não está dando seus primeiros passos no domínio financeiro. Em 2009, ele lançou o Google Wallet, um método de pagamento que lembra um pouco o PayPal. Até agora ele ainda não teve muito sucesso, mas isso poderá mudar em breve.

Desde janeiro, no Reino Unido, usuários do Gmail, o serviço de mensagens eletrônicas do Google, passaram a ver no final de seus e-mails um novo ícone, em forma de "£". Isso permite que se transfira dinheiro através de e-mail, de forma fácil e sem custos. É preciso primeiramente informar suas coordenadas bancárias. Depois, basta indicar a soma a ser transferida, dar o endereço de e-mail do destinatário, e inserir um código PIN. A transação leva menos de um minuto.

Outro exemplo: a Apple instalou em seu iPhone 6 um sistema de pagamento automático. Em uma loja, os usuários devem simplesmente aproximar seus telefones do leitor de transação (o equivalente à caixa registradora de antigamente) e fazer o reconhecimento de sua impressão digital no telefone.

Tudo isso está longe da gestão de ativos em larga escala, mas aos poucos os clientes vão criando o costume de confiar seu dinheiro à Apple ou ao Google. Assim como com o comércio eletrônico, as barreiras psicológicas estão caindo: hoje pagar pela internet se tornou algo comum, sendo que até uma década atrás o grande público ainda hesitava.

Existe o fator de que os grandes bancos ficaram com uma imagem particularmente degradada, após a crise. Talvez seja preciso esperar ainda alguns anos antes de ver a indústria financeira sendo revolucionada pelos gigantes do Vale do Silício, mas isso deve ser só uma questão de tempo.

Tradução: UOL

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