Libaneses apontam tratamento desigual após ataques em Beirute e em Paris

Benjamin Barthe

"E nós?". Essas duas palavras resumem a reação de muitos habitantes do mundo árabe diante da comoção mundial suscitada pelos massacres de Paris. Passados o espanto e o terror, sentidos quase que unanimemente, um sentimento de amargura logo atravessou as redes sociais no Oriente Médio.

No Líbano, por exemplo, comentários compartilhados na internet lamentam o fato de que o atentado em Burj el-Barajne, no subúrbio da capital Beirute, onde 43 pessoas morreram, na quinta-feira (12), não desencadeou a mesma reprovação internacional que os ataques cometidos 24 horas depois em Paris.

"Para nós não criaram um botão de confirmação de status de segurança no Facebook", afirmou indignado o blogueiro libanês Joey Ayoub, referindo-se à função ativada pela rede social após os tiroteios, que permite ao usuário avisar a seus amigos que está em segurança.

"Não recebemos declarações da parte dos homens e mulheres mais poderosos do mundo", completou ele, em alusão às mensagens de solidariedade enviadas pelo presidente americano Barack Obama e vários outros chefes de Estado. "Meu corpo não interessa ao mundo. A maior parte de nós continua excluída das preocupações dominantes do 'mundo."

Ao contrário do ataque de janeiro contra o jornal satírico "Charlie Hebdo", que havia suscitado certo mal-estar na opinião pública árabe, em razão das polêmicas caricaturas de Maomé publicadas pelo semanário francês, a tragédia de sexta-feira foi condenada sem reservas. Os tiros aleatórios contra os cafés, destinados a fazerem o máximo possível de vítimas, sem qualquer distinção de religião, de sexo ou de etnia, provocaram um repúdio imediato, mesmo entre círculos islâmicos.

Na Faixa de Gaza, por exemplo, o Hamas, autor de atentados suicida contra israelenses nos anos 1990 e 2000, condenou os acontecimentos como "atos de agressão e de barbárie", enquanto a Jihad Islâmica, outro grupo armado palestino, os criticou como "um crime contra inocentes".

"As pessoas estão tendo muito mais facilidade para exprimir sua solidariedade e sua simpatia em relação às vítimas do que na ocasião dos atentados de janeiro", analisa Yazan al-Saadi, um jornalista sírio residente em Beirute.

"Mas junto da tristeza também há apreensão. Muitas pessoas temem que essa carnificina relance a terrível suposta guerra ao terrorismo. Além disso, existe uma espécie de despeito diante do relativo silêncio do Ocidente em relação a nossos sofrimentos na Síria, na Palestina e no Iraque. É só em Paris que há seres humanos?"

Um outro popular blogueiro libanês, o Blogbaladi, também se espantou com o fato de a função "Safety Check" do Facebook não ter sido ativada após os atentados de Burj el-Barajne. "Poderia ter sido muito útil para Beirute e o mundo árabe também. No Líbano, tivemos mais de 20 explosões e ataques desde 2014 e pelo menos dez deles foram contra civis", escreve o autor.

A acusação de que o Facebook teria dois pesos e duas medidas não tardou a chegar aos ouvidos de Mark Zuckerberg. No sábado (14), o fundador e CEO da empresa declarou em seu próprio perfil ter levado em conta essas "críticas legítimas". Ele anunciou que a função "Safety Check", criada para as situações de catástrofes naturais, agora será disponibilizada em casos de "desastres humanos."

Tradutor: UOL

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