Em Amatrice, "todos conhecem alguma vítima"

Salvatore Aloïse

Drone revela estragos em Amatrice após terremoto

Francesca está quase chorando. Ela passou o dia inteiro diante dos escombros da casa de sua amiga Giulia, e em nenhum momento parou de acenar para os socorristas que passavam para tentar convencê-los a intervirem. Sua colega foi retirada de lá e levada para o hospital pouco depois do terremoto, mas seus pais continuaram embaixo dos escombros.

Um tremor de terra de magnitude 6,2 atingiu a pequena cidade de Amatrice e várias outras comunas do centro da Itália, na quarta-feira (24) às 3h36, resultando em pelo menos 250 mortos e quase 400 feridos, um número que não para de aumentar.

"Pode ser que um vazio tenha sido criado por colunas que resistiram e onde, mesmo feridos, eles podem estar vivos", espera Francesca. "Só que não estamos os ouvindo, e sei que o resgate está concentrado onde se conseguem ouvir barulhos, vozes."

Um espeleólogo foi alertado e chegou junto com um cão farejador, mas logo desistiu. Seriam necessários recursos mecânicos para liberar o telhado. Um bombeiro prometeu que talvez mais tarde conseguissem.

"Estamos aqui mas nos sentimos impotentes", diz um voluntário, recém-chegado de Roma, a capital, situada 150 km a sudoeste.

Do outro lado da rua, justamente, há uma escavadeira trabalhando lentamente, para evitar desmoronamentos. Era um alerta falso, ali também não havia nenhum sinal de vida. Então seria preciso correr para outro lugar.

O sistema de resgate foi acionado bem rapidamente no norte da região montanhosa do Lazio. A coordenação, bem ou mal, começa a funcionar, ainda que por força do hábito. Umbria em 1997, San Giuliano em 2002, Áquila em 2009, Emilia Romagna em 2012: a lista de terremotos recentes é longa na região.

Desde o amanhecer de quarta-feira, as filas de veículos equipados para grandes catástrofes começaram a correr na direção de Amatrice, que mais parece ter sido bombardeada. Seu centro histórico ficou praticamente arrasado, e foi fechado para jornalistas e pessoas não diretamente envolvidas nos resgates, pois os riscos de desmoronamento persistem.

Um dos hotéis mais renomados da cidade, o Roma, na avenida principal, que estava lotado, desabou como um castelo de cartas. Dois primeiros corpos foram retirados durante a tarde. Muitos outros podem estar ainda sob os escombros.

Pelo menos 70 turistas estavam presentes, pois sábado deveria ser um dia de festa em Amatrice, com a 50ª edição do Festival da Amatriciana, o molho de massa que tornou a cidade famosa no mundo inteiro.

Várias réplicas

O vilarejo não foi o único a ser devastado. Accumoli, também no Lazio, e Arquata del Tronto, na região de Marcas, foram especialmente afetados pelo desastre. E as réplicas continuam. Nada menos que 300 delas foram registradas ao longo do dia e da noite de quarta para quinta-feira.

Algumas delas, cuja magnitude atingiu 4,5 pontos, foram sentidas até em Áquila, a cidade da região de Abruzzo devastada pelo terremoto de 6 de abril de 2009, e em Roma, inclusive nos estúdios da RAI, a estatal de TV que transmitia uma edição especial sobre o terremoto.

Cada novo abalo traz de volta o pavor da noite anterior. No parque da cidade, que virou um acampamento improvisado, os sobreviventes, com um ar meio perdido, observam os socorristas andando de um lado para outro em sua cidade devastada.

Lucia, uma senhora idosa que sofre de hipertensão arterial, está afundada em uma cadeira, de camisola e enrolada em um cobertor, pois assim que o Sol se põe nessa cidade montanhosa, começa a fazer frio.

"É como se o chão subisse para a barriga", ela diz, tentando explicar o que sentiu quando foi acordada pelo resgate no meio da noite. Ela teve de ir abrindo caminho entre os escombros. Uma jovem médica lhe trouxe medicamentos e a tranquilizou. Depois que recebeu cuidados Luisa pareceu se acalmar, mas já está preocupada com seu neto, ele também de pijama.

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Outras famílias se refugiaram no ginásio esportivo que virou o centro de acolhimento para a distribuição de alimentos e de cobertores. Marie-Teresa está lá com seus pais. "Foi um pânico geral", ela conta. "Longos segundos onde todos os móveis se abriram, os objetos caíam de todos os lados e você se sentindo impotente, no escuro..."

O pior, ela diz, é que nada havia alertado a população, nenhum pequeno abalo precursor. Foi o que também constatou Francesco, que vive fora da cidade e veio ajudar nas operações de resgate na casa de um de seus amigos que desabou, mas sem grandes esperanças de encontrá-los ainda vivos.

"Aqui todos conhecem alguém entre as vítimas", ele conta amargurado.

Um pouco adiante, a escola foi transformada em centro operacional para coordenar os resgates. No total, em todo o território que foi arrasado pelo terremoto, quase 4.500 agentes trabalhavam na quarta-feira. Luigi D'Angelo, do departamento de Defesa Civil, afirma que as mil e poucas pessoas que perderam suas casas em Amatrice logo foram acolhidas nos acampamentos de tendas e no ginásio esportivo.Outras estruturas serão criadas no resto do território.

"Nossa maior dificuldade", ele reconhece, "é que temos que lidar com um povoamento disperso ao longo de nada menos que 69 vilarejos só em Amatrice, o que multiplica o número de intervenções a serem feitas. Hoje, conseguimos ir a cada um desses lugares para avaliarmos a situação."

É preciso agir rápido. As primeiras horas, ou até os primeiros dias, são decisivas. Pessoas ainda podem ser salvas. Foi por isso que as operações de resgate continuaram ao longo de toda essa segunda noite, iluminadas por células fotovoltaicas.

Walter, que coordena as equipes de espeleólogos, conta que ele se enganou em sua primeira impressão, logo após o terremoto. Só depois é que a extensão dos danos se revelou à luz do dia.

Mais de 24 horas depois da tragédia, surgem questões para se explicar como tantas pessoas morreram em uma região relativamente pouco povoada e composta unicamente por vilarejos. O presidente do Conselho Italiano, Matteo Renzi, entrevistado na quarta-feira, citou a presença de muitos turistas e de centros históricos com vários séculos de existência.

O chefe do governo, que foi até os locais afetados na tarde de quarta-feira, deve presidir no final da tarde de quinta-feira um conselho de ministros que decidirá o estado de emergência para as regiões afetadas por esse terremoto. Ele anunciou a liberação imediata de 50 milhões de euros, afirmando: "O objetivo é reconstruir e recomeçar".

Tradutor: UOL

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