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50% dos eventos naturais extremos foram causados pelo aquecimento, diz relatório

Em Washington

06/09/2013 12h02Atualizada em 15/04/2015 14h33

As mudanças climáticas provocadas pelo uso humano de combustíveis fósseis tiveram papel importante em metade dos eventos climáticos extremos no ano passado, informaram cientistas americanos nesta quinta-feira (5).

O furacão Sandy, que devastou a cidade de Nova York, por exemplo, foi decorrente de uma enorme tempestade, mas a inundação que causou os principais impactos também foi influenciada pela maré alta. Segundo as pesquisas, o aumento no nível do mar causado pelo aquecimento global quase duplica a probabilidade anual de ocorrer tais enchentes se comparado com 1950. Assim, eventos naturais aliados a ações do homem garantem que inundações como a do Sandy vão ocorrer com mais frequência no futuro e com tempestades menos intensas.

Uma equipe de especialistas examinou 12 episódios climáticos extremos em 2012, de secas nos Estados Unidos e na África a fortes chuvas na Europa, na Austrália, na China, no Japão e na Nova Zelândia.

Em seis dos eventos selecionados, foi demonstrado algum indício de terem sido piores do que o esperado, devido a elementos como água do mar ou temperaturas mais quentes, causados por emissões de gases estufa e aerossóis na atmosfera.

O relatório, intitulado "Explicando os Eventos Extremos de 2012 de uma Perspectiva Climática" (em tradução livre), foi publicado no Boletim da Sociedade Meteorológica Americana. O estudo, revisto por pares, incluiu 18 temas de pesquisa de todo o mundo.

"Todos os eventos extremos de 2012 considerados neste relatório, baseados nas análises dos autores, provavelmente teriam ocorrido independentemente das mudanças climáticas", disse Thomas Karl, diretor do Centro de Dados Climáticos Nacionais da Agência Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês).

O objetivo do esforço de pesquisa é compreender se eventos extremos são propensos a ocorrer mais frequentemente no futuro e "se a sua intensidade está mudando por causa de fatores naturais ou de mudanças causadas pelo homem", disse Karl a jornalistas.

Segundo cientistas, a influência humana no clima pode ser em parte culpada pelas fortes chuvas na Austrália e na Nova Zelândia e na seca recorde de inverno no sudoeste da Europa.

No entanto, chuvas incomuns em China e Japão, ainda que extremas, não parecem ter tido um vínculo claro com as mudanças climáticas causadas pelo homem. Nem a seca de 2012 nos Estados Unidos parece ter sido influenciada pelas mudanças climáticas, embora o mesmo grupo de cientistas tenha reportado no ano passado que um clima severamente seco a partir de 2011 parece ter sido agravado pelo aquecimento global antropogênico.

 

A atribuição de eventos extremos é difícil porque as mudanças climáticas podem ser um fator contribuinte, mas não o único, afirmou Tom Peterson, principal cientista do Centro de Dados Climáticos da NOAA.

Se a variabilidade natural no clima puder ser comparada a motoristas que dirigem perigosamente ou ruas escorregadias, ele considerou que pisar fundo no acelerador é como o aumento na intensidade das chuvas e no nível do mar, que são causados pelo aquecimento global.

"Nós sabemos que o mundo está esquentando e a razão principal é a queima de combustíveis fósseis", disse Peterson.

Um dos exemplos mais fortes da influência humana foi vista na incomum onda de calor registrada no leste dos Estados Unidos entre março e maio de 2012. A contribuição humana para o evento foi estimada em 35%, elevando o risco de ocorrer tão onda de calor em 12 vezes.