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Incêndio na Chapada Diamantina já dura 45 dias e ameaça chegar a casas

Incêndio na Chapada da Diamantina (BA) já dura 45 dias e se aproxima de casas - Acervo pessoal/Marcelo Issa
Incêndio na Chapada da Diamantina (BA) já dura 45 dias e se aproxima de casas Imagem: Acervo pessoal/Marcelo Issa

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

15/12/2015 06h00Atualizada em 15/12/2015 18h19

Um incêndio consome a mata do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na região central da Bahia, há pelo menos 45 dias. Além de equipes do Corpo de Bombeiros, cerca de 50 brigadistas voluntários estão nas serras tentando combater o fogo desde o início de novembro.

O parque abrange sete municípios baianos, três deles já com focos de incêndio: Palmeiras, Lençóis e Ibiocara. No último final de semana, novos focos surgiram na região do Vale do Capão, em Palmeiras, em uma área próxima a casas.

A Chapada Diamantina é uma das principais rotas de turismo ecológico da Bahia por ter sua rica biodiversidade e inúmeras nascentes. O Vale do Capão é a entrada para algumas das paisagens listadas entre as mais deslumbrantes do mundo pela Fundação National Geographic.

Segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o fogo devastou 22,3 mil hectares de mata ao longo deste ano, o equivalente a 14,6% do total da área da reserva natural. A reserva da chapada tem 152 mil hectares. Os incêndios destruiram as trilhas da Cachoeira da Fumaça, as margens dos rios Mucugê e Mucugezinho, e áreas dos morros Pai Inácio e Branco.

Entre os focos, há incêndios de origem natural, causados por raios, e criminosa, segundo a coordenadora substituta de emergência ambientais do ICMBio, Ângela Barbara Garda, Ela explica que raios que caíram na região e atingiram a mata seca ocasionaram fogo, mas as equipes do parque também flagraram focos na beira das estradas.

“A região também tem garimpos ilegais e ainda fogueiras que turistas fazem na mata. Vamos investigar onde realmente o fogo começou para saber a real origem do fogo, com a sua causa. Tudo isso vai ser analisado posteriormente porque nossas equipes estão focadas no combate ao fogo. Porém, precisamos conscientizar as pessoas a não atearem fogo”, explicou Garba.

Governo vai equipar voluntários

Para combater os diversos focos de incêndio, o Corpo de Bombeiros tem usado 60 bombeiros militares, além de 40 brigadistas e nove aeronaves. Contudo, a equipe não é suficiente. No último domingo (13), a Justiça Federal obrigou o governo do Estado e a União a fornecerem 400 kits de material e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) para os brigadistas voluntários que estão na linha de combate aos incêndios que atingem a Chapada Diamantina desde o mês de novembro.

A determinação judicial ainda pede a disponibilização de cinco veículos, mais um helicóptero para o combate do incêndio. Além da contratação de 30 brigadistas.

Morador há dois anos do Vale do Capão, o jornalista Marcelo Issa está atuando na linha de combate ao fogo como voluntário. "Passamos a madrugada da quinta-feira para sexta-feira para o sábado na mata, todos os homens do Vale do Capão, entraram na mata para fazer o aceiro, cortando a mata e o chão para ao fogo não expandir. As casas que estão em cima das serras estão ameaçadas”, disse Issa.

“A situação é triste não só pela extensão das queimadas, mas porque atingiu dezenas de nascentes de rios. E isso é grave quando observamos que a maior parte da água potável consumida no Estado da Bahia vem exatamente das nascentes de rios da Chapada Diamantina”, completou a moradora do Vale do Capão, Emmanuela Vilar Lins.

Turismo prejudicado

A ACV (Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão) disse que os incêndios vêm afugentando turistas e os moradores estão apreensivos com o impacto ambiental e econômico. Cerca de 50% das reservas feitas para o fim de ano foram canceladas e a procura por hospedagem diminuiu. “Passamos o ano esperando as festas de Réveillon, quando temos uma boa movimentação de turistas para rentabilizar a região, porém este ano será complicado. Muitos turistas estão cancelando as viagens achando que o parque foi devastado. As áreas que foram incendiadas não eram, em sua maioria, áreas visitadas. O Vale do Capão é imenso e, mesmo com o incêndio, ainda tem muita beleza para ver”, disse a brigadista Tila Silvany.

Na pousada Lendas do Capão, dos 22 quartos existentes apenas quatro estão reservados. Segundo o gerente Cristiano Argolo, o incêndio na região impactou diretamente nas vendas dos pacotes de hospedagem. "Estamos a quase duas semanas do réveillon e nesta época, pelo menos 60% dos quartos já estariam reservados."