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Nova York com energia verde? É o que o governo de lá quer tentar

Brian Stauffer/The New York Times
Imagem: Brian Stauffer/The New York Times

Justin Gillis

Em Nova York

18/05/2016 06h00

O governador quer ser um líder em energia verde. As empresas de fornecimento de energia elétrica do Estado estão nervosamente correndo atrás. Jovens empresários parecem ocupados, determinados a fazer parte de uma geração que finalmente resolveu o problema das mudanças climáticas.

Para a maior parte das pessoas, isso pode soar como algo da Califórnia, onde todas essas coisas e mais algumas estão acontecendo. Mas também descreve Nova York.

Nova York?

O Estado talvez não surja na mente como protagonista da vanguarda da economia verde. Mas sob o comando do governador Andrew Cuomo, a região mais populosa do nordeste está em uma corrida acirrada com o parceiro do oeste no estabelecimento de metas ambiciosas para o clima. E, de algumas maneiras, Nova York pode estar quase chegando na frente da Califórnia.

Sem muito barulho, Cuomo começou um grande esforço para reequipar as empresas de fornecimento de energia do Estado para a nova era, tentando aplicar regras do mercado para transformar a maneira como a eletricidade é produzida, transmitida e consumida.

Decisões importantes estão previstas para as próximas semanas na agência do Estado, a Comissão de Serviço Público. Dependendo dos detalhes, o programa de Cuomo pode se provar o esforço mais ambicioso do país, e possivelmente do mundo, para atrair a motivação do lucro como aliada na luta contra o aquecimento global.

Cuomo tem falado muito sobre a questão das mudanças climáticas desde que o Estado sofreu o trauma do furacão Sandy em 2012. O governador visitou o que restou de casas centenárias reduzidas a estilhaços por causa da tempestade. Os cientistas afirmaram que o prejuízo foi agravado pela elevação do nível do mar induzida pelas emissões humanas de gases do efeito estufa.

"No caso das mudanças climáticas, a negação não é uma estratégia de sobrevivência", avisou Cuomo em outubro na Universidade Colúmbia. "As mudanças climáticas são uma realidade, e não tentar resolvê-las é uma negligência grosseira por parte do governo e uma irresponsabilidade nossa como cidadãos."

Nova York começa com vantagens. O Estado já produz cerca de 26% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis. Uma grande parte vem de barragens ao norte, mas os parques eólicos estão surgindo em toda a região, e a produção de energia solar aumentou em 575% em quatro anos. Já as emissões pelos meios de transporte estão entre as menores do país porque a cidade de Nova York possui um enorme sistema de transporte.

O Estado desligou muitas usinas de carvão, e Cuomo pretende fechar todas até 2020. Ele tem como objetivo conseguir que 50% da eletricidade do Estado venha de fontes renováveis até 2030.

Cuomo também espera fechar a usina nuclear Indian Point, no norte da cidade de Nova York, por razões de segurança, mas recentemente ofereceu planos para salvar usinas nucleares do norte do Estado. Elas correm o risco de fechar porque a queda do preço do gás natural baixou o valor da eletricidade, mas ele argumenta que perder essas usinas poderia fazer com que o Estado retrocedesse na questão das emissões. Com isso, Cuomo atraiu a oposição de alguns grupos ambientais, que em grande parte apoiam sua abordagem do assunto.

O coração da política de Cuomo é sua intenção de mobilizar as forças do mercado para agitar a indústria de energia elétrica. Esse plano tem um nome: Reformar a Visão sobre Energia. Sim, realmente parece algo sonhado pelos hippies em suas comunidades nas montanhas.

Na verdade, Cuomo está entre os governadores mais amistosos para os negócios entre os democratas do país, e seu plano está sendo conduzido por um antigo sócio da Goldman Sachs, Richard L. Kauffman.

Kauffman argumenta que os serviços que distribuem energia estão entre os negócios mais conservadores e menos inovadores do país. Historicamente, eram monopólios que ganhavam dinheiro vendendo mais eletricidade, construindo todas as usinas necessárias para produzi-la e recolhendo o dinheiro para pagar por aquelas usinas e outros equipamentos, em um tipo de modelos de negócio de custo aumentado. Algumas das usinas podiam ficar ociosas, esperando para ser ativadas apenas para atender a demanda dos picos que aconteciam algumas horas por ano -- um imenso desperdício de dinheiro.

O Estado de Nova York tem tentado sair desse sistema há anos, adotando regras que reduzem o incentivo para os serviços que tentam vender mais e mais energia. Teve sucesso ao introduzir a competição no mercado de energia no atacado. Mas ineficiências substanciais permanecem. E agora, a queda dos custos da energia renovável, a invenção de dispositivos como termostatos inteligentes e medidores elétricos e outros desenvolvimentos criaram a possibilidade de uma mudança radical.

"Precisamos abrir o sistema de energia elétrica para a inovação", afirmou Kauffman em uma entrevista.

Como, exatamente, o Estado pretende fazer isso?

Os detalhes precisos ainda estão sob sigilo na Comissão do Serviço Público. Mas algumas das possibilidades foram expostas nos relatórios e discutidas extensivamente em reuniões públicas.

É provável que o Estado mude as regras de pagamento da energia elétrica. Nova York pode estabelecer metas -- por exemplo, dizer para as empresas de eletricidade reduzirem a média de consumo de energia por moradia ou cortarem a demanda nas horas de pico dos dias mais quentes -- e então permitir que ganhem mais dinheiro atendendo ou superando essas metas.

A chave para esse sistema é dar às empresas que fornecem energia um motivo lucrativo para cooperar com companhias menores que estão trazendo inovações para a rede elétrica. Por exemplo, empresas que estão participando do crescimento nacional de instalação de painéis de energia solar.

Em grande parte do país, elas são vistas como uma ameaça aos serviços de fornecimento de energia, e as fornecedoras as combatem agressivamente. Em Nova York, os dois lados fizeram uma tentativa de acordo de paz, esperando influenciar nos detalhes do plano do Estado para que seus interesses sejam alinhados no longo prazo.

Outras pequenas companhias querem ajudar as pessoas a gerenciar suas demandas de eletricidade em tempo real, instalando aquecedores de água e máquinas de lavar pratos que ligam e desligam de maneira a coincidir com o fornecimento intermitente de eletricidade que vem de parques eólicos e painéis solares. Outras querem ganhar dinheiro consertando casas com corrente de ar que gastam imensas quantidades de energia, como milhões em todo o país, por janelas que possuem vazamentos e porões mal isolados.

"Quando passo pela rua e observo as casas, tudo o que vejo é dinheiro saindo pelos sótãos", conta Andy Frank, presidente de uma pequena empresa chamada Sealed, em Long Island. A Sealed já está consertando casas com correntes de ar e garante aos clientes que vão economizar na conta de luz. Mas Frank vê o potencial para um negócio muito maior se as empresas de eletricidade tiveram um incentivo mais forte para fazer acordos com companhias como a dele.

Enquanto dão os toques finais no projeto, os comissários de serviços públicos de Nova York estão, sem dúvida, divididos entre o desejo de se mover rapidamente e o medo de mexer com uma rede elétrica que, apesar de suas falhas, funciona. Eles podem muito bem optar por começar com pequenos ajustes às regras, o que significa que levaria anos para saberem se o plano dará certo.

Mas se der, Cuomo pode ser capaz de transformar Nova York, o Estado em que Thomas Edison inventou a rede elétrica no século 19, em uma potência global de inovações para o século 21. Kauffman acredita que o sistema de energia como um todo poderia se tornar muito mais eficiente, e assim as contas dos clientes ficariam mais baixas, as emissões de gases do efeito estufa cairiam -- e se as empresas de energia forem suficientemente criativas, seus lucros aumentarão.