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Exilados esperam recriar área cristã na Turquia
Susanne Güsten
Em Idil (Turquia)
Escalando os escombros daquela que já foi sua cidade natal, Robert Tutus apontou para o local mais adiante na estrada onde ficava a casa de sua família. "Este é o local onde meu pai foi assassinado", ele disse. "Dois homens se aproximaram dele enquanto ele voltava para casa certa noite, e o mataram com uma bala na cabeça." Seu pai, Sukru Tutus, foi o último prefeito cristão de Azeh, conhecida como Idil em turco, uma cidade no sudeste do país cujo cristianismo remonta os tempos dos Apóstolos. Um mês após o assassinato, que ocorreu em 17 de junho de 1994, o restante da população cristã da cidade, várias centenas de pessoas na época, reuniu seus pertences e fugiu em busca de asilo na Europa Ocidental, segundo Tutus. A partida marcou o fim da era cristã em Azeh, que contava com um bispo já no século 2º e foi lar de uma população cristã de vários milhares até o final dos anos 70. Apenas ruínas espalhadas na encosta restam da cidade deles atualmente, enquanto acima, prédios de concreto em mau estado se erguem para formar a nova cidade de Idil, habitada pelos curdos e árabes locais, assim como por alguns poucos administradores turcos em cargos temporários no leste. E há Tutus, 42, acampado em um apartamento em um desses prédios, enquanto tenta retomar as propriedades de seu pai e reconstruir sua casa entre as ruínas na encosta. "Esse é o nosso lar, lar do povo siríaco", disse Tutus. "Nós não desistiremos." O planalto de Tur Abdin, no qual Idil se encontra aninhada entre a planície síria e as cadeias de montanhas do sudeste da Turquia, é o coração histórico da igreja Ortodoxa Siríaca, cujo patriarca residiu aqui até as tensões com a república turca o obrigarem a se mudar para a Síria em 1933. A região ainda é pontilhada por igrejas siríacas como Mor Gabriel, que foi fundada no ano 397 e é um dos mosteiros em atividade mais antigos do mundo. Mas fora os monges, restam muito poucos siríacos. Há um século, eles chegavam a 200 mil aqui, segundo a União Siríaca Europeia, uma organização da diáspora. Aproximadamente 50 mil sobreviveram aos massacres de cristãos anatolianos durante a Primeira Guerra Mundial, quando o povo siríaco compartilhou o destino dos armênios. Hoje, não mais que 4.500 cristãos siríacos, que falam um dialeto local da língua aramaica assim como árabe, turco e curdo, permanecem em Tur Abdin.