Aliviado por soltura do pai, Picciani conduz MDB-RJ arrasado pela Lava Jato

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

A eleição para o governo do Rio de Janeiro em 2018 será diferente para o MDB. À frente do estado há 12 anos, o partido deverá ter um candidato pouco conhecido na disputa para tentar manter o comando do Executivo fluminense, conforme admitiu o novo presidente do diretório estadual da sigla, Leonardo Picciani, deputado federal e ex-ministro do Esporte no governo do presidente Michel Temer (MDB).

"O MDB-RJ trabalha com a possibilidade de lançar uma candidatura própria [ao governo do Estado]. Fará internamente uma discussão sobre esse cenário e as alternativas, os quadros que o partido teria à disposição para apresentar. O partido está bastante renovado, bastante oxigenado nessa direção", disse Picciani em entrevista ao UOL na última sexta-feira (20).

Com o declínio político do MDB no Rio, capitaneado pela grave crise financeira no estado e as prisões decorrentes dos escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato na gestão do ex-governador Sérgio Cabral, o ex-ministro do Esporte tornou-se o principal líder do partido no Rio.

No começo deste mês, assumiu a presidência da executiva estadual --em substituição ao pai, Jorge Picciani, réu em ação penal derivada da Operação Cadeia Velha (ramificação da Lava Jato) e acusado de receber propina para favorecer empresas e agentes do setor privado.

Enquanto comanda as negociações estaduais do MDB e prepara sua candidatura para tentar um quinto mandato consecutivo como deputado federal, Leonardo Picciani se diz aliviado com a saída do pai da cadeia, após a concessão do direito de prisão domiciliar, em 28 de março. "A reação da família foi de alívio [pela domiciliar]. Conhecemos o tratamento que ele fez, a gravidade dos procedimentos que foram feitos, e nos preocupava muito", declarou.

Candidato desconhecido e debandada

Em entrevista ao UOL, Leonardo Picciani afirmou que, com a saída do ex-prefeito Eduardo Paes --que se filiou ao Democratas-- e com as prisões de antigos líderes, como a do próprio pai, quadros que antes ficavam limitados a pleitos municipais ganharam projeção interna e despontam para a composição de uma chapa "renovada" e "oxigenada".

Entre as possibilidades de nomeação estão Vinícius Medeiros Farah, ex-presidente do Detran e ex-prefeito de Três Rios, cidade da região sul do Estado, e Max Lemos, ex-prefeito de Queimados, município da Baixada Fluminense.

Reprodução/Facebook
Vinícius Medeiros Farah (à esq.) e Max Lemos (à dir.) são cotados para concorrer ao governo do RJ pelo MDB

"O partido tem opções. Contamos com diversos ex-prefeitos que encerraram mandatos em 2016 muito bem avaliados. Com experiência de gestão ampla, comprovada e eficiente. São quadros que têm trânsito político no Estado e capacidade de diálogo e gestão", completou.

A falta de nomes de expressão reflete ainda uma debandada vivida pelo MDB. Ao todo, 11 parlamentares deixaram o partido, sendo seis deputados federais e cinco estaduais.

Para Picciani, o MDB não foi a única agremiação política atingida pelo furacão da Lava Jato, tanto no Rio quanto no Brasil. Segundo ele, as investigações, delações e condenações no âmbito da operação que revelou grandiosos esquemas de corrupção no país golpearam toda a engrenagem política, sendo um "reflexo do que era o sistema" e "da forma como se financiava as campanhas".

Problemas do sistema partidário não foram restritos ao MDB. Foram problemas de todos os partidos
Leonardo Picciani, deputado federal e presidente do MDB-RJ

"Há um desgaste do sistema político que está em todas as legendas. Em todo o sistema partidário, que terá nesta eleição, com novas regras e com financiamento feito de forma pública através do fundo eleitoral, a oportunidade de se reorganizar e se reinventar", disse.

Questionado sobre a redução dos quadros do MDB, o presidente da executiva fluminense declarou não acreditar que o MDB traria, no entendimento dos que debandaram, um "ônus eleitoral".

Taís Vilela/UOL
Para Picciani, o MDB "tem o que mostrar" nas eleições deste ano. "O partido vai para disputa de cabeça erguida."

"Alguns candidatos tinham, por exemplo, um afinamento ideológico com o governo anterior [do PT], e aí foram para partidos desse campo político. Outros foram por uma razão meramente matemática. Julgavam que, com essa grande profusão que se tem de novos, pequenos e médios partidos, teriam condições de maior competitividade. (...) Nenhum teve como fundamento a questão de um possível ou suposto desgaste da legenda."

Especificamente sobre Eduardo Paes, Picciani afirmou que, diferentemente de alguns quadros do MDB no Rio, não considera a saída do ex-prefeito uma "traição". E declarou acreditar que a opção de Paes pelo DEM se deve a uma indecisão por parte do ex-prefeito sobre concorrer ou não ao governo do Estado.

"Se ele permanecesse no MDB, evidentemente que, até por ser o candidato natural do partido há muito tempo e por ter exercido os seus dois mandatos de prefeito pelo MDB, levaria quase que a uma obrigação de disputar essa eleição. Meu sentimento é que o Eduardo foi movido por uma busca de mais liberdade para, se for o caso, decidir pela não participação nas eleições."

Para Picciani, Paes tem como "característica" em sua carreira política mudar de partido constantemente. "Não é uma crítica ao Eduardo, mas um fato. Ele não é propriamente um quadro da política que possamos dizer que tem a formação partidária, a formação de se construir partidariamente. Ele já foi do PV, do PFL, do PSDB, do PMDB, do Democratas, do PTB... Ou seja, alguém que já passou por muitas siglas. Vai agora a uma nova sigla, o Democratas, é um pouco da característica da sua carreira política".

Indecisão sobre candidatura levou Paes a deixar MDB

Eleição presidencial

A reportagem do UOL apurou que a candidatura do MDB ao governo do RJ, ainda que sem um nome de expressão, é uma das estratégias da cúpula do partido para impulsionar uma eventual chapa encabeçada por Temer ou pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles na corrida presidencial.

Na avaliação da sigla, ações como a intervenção federal na segurança pública fluminense e o regime de recuperação fiscal, criado para salvar o Rio e outros estados em situação de penúria financeira, podem ter um importante impacto eleitoral no pleito deste ano.

Ao defender a gestão Temer, Picciani afirmou que "o governo tem o que mostrar" e que a candidatura à chefia do Executivo fluminense é também uma forma de "representar esses avanços", em referência às reformas propostas pelo governo federal e aos resultados na economia.

Drama familiar

Em 28 de março, Jorge Picciani deixou a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte carioca, onde estava recluso junto a outros presos da Operação Lava Jato, para cumprir prisão domiciliar. Ele havia sido detido em novembro do ano passado, meses depois de passar por três cirurgias, sendo uma para retirada de um câncer na bexiga.

O patriarca da família ficou preso por quase quatro meses, período no qual, de acordo com o deputado federal, não teve acesso "a nenhum tipo de atendimento, acompanhamento ou exames". "Verificou-se uma regressão muito grande da recuperação, o que preocupou bastante os médicos."

Saúde de Jorge Picciani piorou na cadeia, diz filho

Com a prisão domiciliar, Jorge Picciani retomou o tratamento e está passando por uma bateria de exames para verificar a situação clínica. Em uma das cirurgias, os médicos fizeram a reconstituição da bexiga com parte do intestino. "É um quadro que ainda inspira cuidados, mas nos dá uma tranquilidade maior porque agora ele está podendo fazer o tratamento", diz o filho.

De acordo com Leonardo Picciani, o pai não considera a possibilidade de retornar à política. "Ele agora tem uma idade avançada e pretende primeiro se defender, esclarecer os fatos e se dedicar a sua vida pessoal fora da política. Se dedicar à família, aos filhos, eu tenho irmãos pequenos, irmãos ainda crianças. Ele pretende se dedicar à criação deles, à formação deles."

Wilton Jr/Estadão Conteúdo
Jorge Picciani se apresentou à sede da PF em novembro de 2017. Ele ficou preso por quase 4 meses

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