Economista de Meirelles diz que reformas de Temer serão "aplaudidas"

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

  • Waldemir Barreto/Agência Senado

    O coordenador econômico da pré-campanha de Henrique Meirelles (MDB), José Márcio Camargo, afirmou que se focará nas reformas pendentes propostas por Michel Temer

    O coordenador econômico da pré-campanha de Henrique Meirelles (MDB), José Márcio Camargo, afirmou que se focará nas reformas pendentes propostas por Michel Temer

Embora reconheça a impopularidade do governo do presidente Michel Temer (MDB), o coordenador econômico da pré-campanha de Henrique Meirelles (MDB) à Presidência, economista José Márcio Camargo, está disposto a insistir na importância de reformas para eleger o ex-ministro da Fazenda ao cargo do ex-chefe no Palácio do Planalto. As mais importantes, disse, são a previdenciária e a tributária. "Tenho certeza de que, na campanha, as reformas serão aplaudidas."

"Achei que valia a pena aceitar [ser coordenador econômico do Meirelles], porque acho que a gente precisa tocar para frente novas reformas, que é o futuro. Sem novas reformas, o futuro não vai ser muito brilhante. Então, é tentar ajudar a criar uma situação em que essas reformas sejam viáveis e consigam manter o Brasil numa trajetória de crescimento com inflação baixa, como já aconteceu em 2016 e 2017 com a implementação delas nos últimos dois anos", declarou.

Em entrevista ao UOL, José Márcio Camargo falou dos projetos a serem apresentados por Meirelles, o cenário político-eleitoral e como tentar driblar a associação da imagem do candidato à de Temer. Isso porque, segundo pesquisa Datafolha de 10 de junho, 82% da população considera o atual governo ruim ou péssimo.

Ele também rechaçou a possibilidade de o pré-candidato desistir da campanha antes do primeiro turno, mas confessou que, no momento, nenhum candidato de centro "deslanchou".

Juca Varella/Folhapress
Economista é professor da PUC Rio e foi consultor em diversos órgãos internacionais

Economista próximo a Maia e ao MDB

José Márcio Camargo faz parte do grupo de economistas próximos a Temer e ao presidente da Câmara e também pré-candidato à Presidência, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, conhecido como Conselhão. Os integrantes do comitê são escolhidos pelo presidente da República.

Camargo atuou diretamente para a aprovação de reformas defendidas pelo Planalto sob a batuta de Temer, como a da Previdência e a emenda constitucional do teto de gastos públicos pelos próximos 20 anos. A última foi aprovada pelo Congresso, assim como as reformas do ensino médio e trabalhista. A previdenciária ficou no caminho por falta de votos favoráveis.

Embora já circulasse entre políticos e tenha ajudado a formular os programas de governo do MDB "Ponte para o Futuro", de 2015, e sua continuação "Encontro com o Futuro", de maio deste ano, Camargo acabou se aproximando de Meirelles em meio às conversas com parlamentares sobre as reformas. Na época então ministro da Fazenda de Temer, Meirelles intensificou conversas com o Congresso Nacional na tentativa de aprovar as medidas.

Além de auxiliar Meirelles, Camargo é professor de economia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro e economista-chefe de uma empresa de investimentos. Ele já foi consultor do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), da OIT (Organização Internacional do Trabalho), do Banco Mundial e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Reforma da Previdência e propostas econômicas

Na economia, a ideia é que haja uma continuidade do que foi aprovado e proposto durante o governo Temer. O foco de Meirelles, confirmou Camargo, são as reformas da Previdência e tributária, que não foram a votação por falta de apoio.

Camargo ressaltou que o governo federal gasta em torno de 57% de seu orçamento com a Previdência Social e o índice está aumentando com o envelhecimento da população. Para contornar o problema e liberar recursos para outras áreas como saúde, educação e segurança pública, Camargo afirma não haver outra saída que não seja uma reforma no sistema previdenciário. O aumento de impostos neste âmbito está descartado, falou, por ser um paliativo.

O coordenador não cravou uma idade mínima, mas disse que a medida de Meirelles seguirá a mesma linha da de Temer. Na proposta do ano passado, esta era de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres.

A intenção da equipe de Meirelles é que o período de transição seja menor que 20 anos e equiparar servidores públicos a trabalhadores da iniciativa privada. No entanto, reconheceu que isso não será feito "de uma hora para outra".

"Essa é a prioridade número um de um governo Meirelles. [...] A ideia toda é tornar o sistema o mais igualitário possível", disse. A expectativa é que, se eleito, Meirelles consiga aprovar a reforma da Previdência no primeiro ano de mandato. A tributária viria em seguida.

A reforma tributária vem sendo discutida há anos no Congresso e no mercado, mas nunca saiu do papel. A proposta da candidatura de Meirelles é manter a carga tributária no atual patamar do PIB (Produto Interno Bruto), mas simplificar ao máximo o recolhimento dos impostos por meio da criação do IVA (Imposto sobre o Valor Agregado) a nível nacional.

O IVA substituiria o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços), ISS (Imposto Sobre Serviços) e o PIS/Cofins. O período de adaptação poderia ser de cerca de 15 anos.

Um ponto que está sendo estudado, destacou Camargo, é se adotariam o imposto sobre dividendos com a extinção ou diminuição da alíquota do imposto sobre lucros. Quanto ao imposto de renda de pessoas físicas, não descarta criar novas alíquotas.

Meirelles também lutará para aumentar a desvinculação de parte do orçamento para que a União consiga destinar despesas para áreas de sua preferência ano a ano no Congresso Nacional. Nos últimos anos, o governo tem expandido a porcentagem da receita desvinculada, mas Meirelles pretende ampliá-la dos atuais 30% permitidos.

Para o Banco Central, o coordenador econômico de Meirelles propõe institucionalizar a autonomia da instituição.

Pedro Ladeira/Folhapress
Meirelles cumprimenta Temer em evento do MDB que selou sua pré-candidatura

Como propagandear reformas impopulares?

A impopularidade de Michel Temer cresceu junto ao aperto fiscal instituído pelo Planalto, aos escândalos de corrupção de seu grupo político e às reformas aprovadas ao longo dos últimos dois anos.

Indagado sobre como fazer propaganda de reformas impopulares para a sociedade e confiar a campanha de Meirelles a elas, José Márcio Camargo bateu na tecla de que basta mostrar o histórico do pré-candidato.

"Ele serviu o Brasil duas vezes. Nas duas vezes pegou o governo em uma situação extremamente delicada. Conseguiu entregar ao sucessor uma situação muito melhor do que quando pegou os cargos. Isso é o que ele tem para mostrar para a população", defendeu. "Se Meirelles se eleger, é um sinal claro de que a população está entendendo a necessidade das reformas."

Ainda para Camargo, a impopularidade do presidente Temer não está relacionada às reformas, mas às acusações de corrupção, as quais chamou de "difíceis de provar".

"A impopularidade tem a ver com questões conjunturais. Não acho que tenha a ver com as reformas não. Acho que há um engano, uma confusão", acrescentou.

ProUni para crianças

Na educação, a campanha de Meirelles se focará em ampliar bolsas do ProUni (Programa Universidade para Todos) atendendo desde crianças em creches até o ensino fundamental em instituições privadas. Camargo afirma que haverá ênfase na educação infantil e na avaliação dos professores.

A equipe de Meirelles acredita não haver necessidade de mudanças radicais no ensino superior, já que este teria a qualidade melhorada com a implementação da reforma do ensino médio, etapa anterior à entrada nas universidades, a qual chamam de "super  bem-feita".

Questionado pela reportagem, Camargo preferiu não revelar as propostas na saúde nem na segurança pública. No entanto, disse que uma proposta para o SUS (Sistema Único de Saúde) está relacionada à automatização dos sistemas para evitar filas.

Em relação à segurança pública, Henrique Meirelles declarou anteriormente ser contra a distribuição de armas à população. Ele defende a contratação de mais policiais, compra de equipamentos, intensificação da rede integrada de inteligência por meio do Susp (Sistema Único de Segurança Pública) e a assinatura de acordos diplomáticos com países vizinhos para a prevenção ao contrabando de armas e ao tráfico de drogas.

A manutenção ou não da intervenção federal no Rio de Janeiro não está sendo discutida pela equipe da pré-campanha por ora, afirmou Camargo.

Renato S.Cerqueira/FuturaPress/Estadão Conteúdo
Última pesquisa Datafolha mostra Meireles com 0 a 1% das intenções de voto

Corrida para se destacar no centro

No último mês, após ser oficializado como pré-candidato à Presidência pelo MDB, Henrique Meirelles intensificou conversas com diretórios do partido a fim de garantir a aprovação de seu nome na convenção nacional emedebista. O evento será realizado no final de julho ou no início de agosto, mas ainda não tem data definida.

Isso porque Meirelles não é unanimidade dentro do MDB e sofre forte resistência de caciques como Roberto Requião (PR), Eunício Oliveira (CE) e Renan Calheiros (AL) devido a interesses eleitorais nos respectivos estados. Parte da sigla também flerta com outros candidatos do centro, como Geraldo Alckmin (PSDB). Questionado sobre a situação pelo UOL, Meirelles já afirmou que conseguirá uma "vitória substancial".

José Márcio Camargo afirmou que Meirelles está ganhando apoio das bases do partido e "bem-encaminhado". Sobre uma possível desistência e a unificação do centro, o economista reconheceu que o espectro político precisa ter votos, mas, "por enquanto, nenhum candidato do centro deslanchou". Portanto, a ordem é seguir com o trabalho.

Na pesquisa Datafolha mais recente de intenções de voto à Presidência, de 10 de junho, nenhum pré-candidato considerado de centro alcançou mais de 10% de preferência em cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O mais bem colocado é Geraldo Alckmin, que ficou em quarto lugar, com 7% a 10% das intenções. Henrique Meirelles oscila entre 0 e 1%.

"O importante é que cada um faça a sua campanha para ficar claro qual é o candidato que tem voto. Isso vai acontecer ao longo do primeiro turno. Então, é tocar a campanha no primeiro turno. Esse é o processo", argumentou Camargo.

Na avaliação feita por assessores do Palácio do Planalto, embora tenha melhorado, a economia brasileira reagiu mais lentamente do que o esperado para fazer com que Meirelles estivesse melhor situado na pré-campanha. Questionado pela reportagem, Camargo disse que esse pensamento é um "equívoco" e houve uma "reviravolta" com Meirelles à frente da Fazenda devido às reformas.

"Na verdade, o Brasil estava caminhando rapidamente para se transformar em alguma coisa parecida com a Argentina da Cristina Kirchner ou a Venezuela do Nicolás Maduro", rebateu.

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