Sem citar Dilma, Ciro diz que PT quer 'outro poste' para substituir Lula

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, declarou nesta sexta-feira (3) que o PT quer "apontar um outro poste" caso seja confirmada a inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba desde abril.

Sem citar a ex-presidente Dilma Rousseff, que assumiu a Presidência em 2011 após oito anos de mandato do líder petista, Ciro disse que o objetivo do Partido dos Trabalhadores é "criar uma comoção no país" para viabilizar uma candidatura no pleito deste ano. Para isso, empenharia-se em desidratar a candidatura do pedetista.

Na quarta-feira (1º), o PT --que ainda estuda alternativas caso Lula não possa concorrer-- se comprometeu a apoiar os candidatos do PSB aos governos de Amazonas, Amapá, Paraíba e Pernambuco em troca da neutralidade dos socialistas na eleição presidencial. A negociação, que ainda não foi sacramentada, criou um problema para o PDT, que encaminhava uma aliança com os socialistas.

"Eles querem criar uma comoção no país para que no dia em que o Lula for declarado inelegível eles apontem um outro poste. A questão é: o Brasil aguenta outro poste? Ou não devemos parte grave da situação que estamos vivendo hoje à escolha de um poste pelo Lula?", afirmou o pedetista.

As declarações foram dadas durante a convenção do PDT no Rio de Janeiro, no centro do Rio. O evento oficializou a candidatura do deputado Pedro Fernandes ao governo do estado.

JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Ciro Gomes participa da convenção do PDT no Rio

A convenção transformou-se desde o início em um ato político de apoio a Ciro e de ataques ao PT. O presidente da legenda, Carlos Lupi, afirmou que Ciro tem como adversários tanto a "direita raivosa", em referência à chapa encabeçada por Jair Bolsonaro (PSL) como os "muy amigos" petistas. "Do outro lado estão os nossos primos do PT que, se puderem, nos matam em vida", afirmou Lupi.

O objetivo dessa aproximação, no entendimento dos pedetistas, seria "impedir o crescimento de Ciro". Para tal, estariam agindo nos bastidores para prejudicar a campanha de "um candidato livre, leve e solto", segundo Lupi definiu Ciro Gomes --uma ironia pelo fato de Lula estar preso em Curitiba e condenado na Lava Jato.

O concorrente do PDT ao Planalto também se disse surpreso porque, caso a costura com o PSB seja confirmada, o PT abriria mão de candidaturas em estados importantes, como a da recifense Marília Arraes.

"O que não parecia para nós razoável era o PT sacrificar uma jovem liderança em Pernambuco para tirar segundos da minha possibilidade de falar ao povo brasileiro. Isso me surpreendeu muito", afirmou Ciro.

Na visão de Ciro, a estratégia do PT ao supostamente interferir na dobradinha entre PDT e PSB seria reduzir o seu tempo de propaganda na TV e no rádio. "Fazer uma aliança na qual o objeto é retirar segundos de um parceiro, não deixar um cara falar e impedir um cara de se expressar? Isso é absolutamente 'inusual'. Mas em tempos de golpe até isso a gente acaba entendendo."

"Desleal" e "traiçoeira"

Ciro não poupou palavras duras ao atacar o PT pela aproximação com o PSB e revelou que publicará uma carta em suas redes sociais, ainda nesta sexta, para pedir serenidade a seus apoiadores.

"Vou publicar hoje uma carta para o povo brasileiro nas redes sociais em que eu peço 'muita calma nessa hora'. (...) Nossa militância ficou muito frustrada e muito irritada com a forma desleal e traiçoeira que aparentemente fomos tratados."

O desfecho do namoro entre PT e PSB também pode atrapalhar os planos de Ciro em relação à indicação do vice. Ele garantiu, porém, que já está pensando em alternativas. "O 'backup' nosso já está pronto", declarou ele. Uma das possibilidades confirmadas pelo próprio candidato seria uma chapa puro sangue.

Apesar de não esconder a surpresa, Ciro disse que "a política é uma arte onde se revelam os extremos da alma humana: de nobreza e de vilania". "Eu sou muito treinado nisso."

A viagem inesperada de Ciro à convenção pedetista (a presença dele só foi confirmada na véspera) lotou o pequeno auditório da sede do partido, no centro do Rio. Prefeitos, parlamentares, assessores e líderes dos municípios do estado compareceram ao ato. A briga por espaço foi árdua, e o próprio Ciro teve dificuldade para acessar o local.

Pedro Fernandes, confirmado na disputa ao governo do RJ, chegou a ter seu nome especulado para vice do amigo e concorrente pelo Democratas, o ex-prefeito Eduardo Paes. Porém, o partido decidiu manter a candidatura e tem negociado apoios no campo da esquerda.

Lupi disse ter conversas adiantadas com os diretórios estaduais do PSB e do PCdoB. Também corteja o PPL (Partido Pátria Livre). As legendas realizarão as suas convenções neste fim de semana.

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