Análise: Haddad deve apostar em agenda social para reverter alta rejeição

Luiz Alberto Gomes

Do UOL, em São Paulo

  • Pedro Ladeira/Folhapress

A pesquisa Ibope divulgada na última segunda-feira (15) mostrou que a taxa de rejeição do presidenciável Fernando Haddad (PT) está em 47% e supera a do seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL), de 35%. A desaprovação atinge o pico entre os evangélicos e os mais ricos, segmentos em que 6 em cada 10 eleitores não votariam no petista de jeito nenhum.

A alta rejeição aparece após o primeiro turno, em que Bolsonaro alcançou 46% dos votos válidos contra 29% de Haddad. Nesta campanha de segundo turno, o petista vem sofrendo para conseguir apoio de outros partidos, além de ver sua campanha ser alvo de críticas de aliados.

Em 13 dos 25 segmentos entrevistados pelo Ibope, 50% ou a maioria das pessoas afirma que não votaria no ex-prefeito de São Paulo. O candidato é rejeitado inclusive entre os que estudaram até o ensino médio e que possuem renda familiar mensal de dois a cinco salários mínimos.

Haddad só tem rejeição menor ou igual à do seu adversário em 5 dos 25 dos grupos: entre quem tem renda familiar abaixo de um salário mínimo; nordestinos; quem estudou até a 4ª série do ensino fundamental; outras religiões sem ser católica ou evangélica; e pretos e pardos.

Cientistas políticos ouvidos pelo UOL dizem que essa alta desaprovação é explicada por ataques de Bolsonaro, a circulação de notícias falsas contra o petista e à maior associação do nome do candidato ao PT, atraindo para Haddad a reprovação ao partido.

"Bolsonaro virou as propagandas dele para falar do Haddad. Tem as questões morais e tem de associar com a imagem do PT. As propagandas têm sido sobre isso", afirma Glauco Peres da Silva, professor de ciência política da USP (Universidade de São Paulo).

Ele também destaca que os casos de fake news contra o petista podem ter aumentado sua rejeição, sobretudo em parcelas mais conservadoras dos evangélicos, e o que os eventuais estragos não serão revertidos mesmo nos casos em que a Justiça Eleitoral decida por retirar as mentiras da internet.

Já para o cientista político e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru (SP), Jefferson Oliveira Goulart, esse fenômeno também pode ser explicado pelo "sentimento de condenação ética e política do PT" nos últimos anos, "que ganha uma envergadura muito personalizada na figura do Lula" e depois "transborda e contamina o candidato Haddad."

Como diminuir a rejeição?

Em busca de fortalecer sua campanha, o candidato do PT tem ressaltado o discurso radical de Bolsonaro e tem acenado ao centro. Para Goulart, entretanto, esse "espólio de centro diminuiu muito" com a boa votação do presidenciável do PSL no primeiro turno.

Pesquisas realizadas no fim do primeiro turno apontavam uma rejeição semelhante entre Bolsonaro e Haddad, mas, como se trata de cenário diferente, os dados não podem ser comparados. 

Após um primeiro turno onde pouco atacou Bolsonaro, o PT elevou o tom na segunda fase da campanha. Os petistas vêm tentando mostrar como votou e se posicionou o deputado federal em temas polêmicos, acusam o adversário de promover notícias falsas sobre Haddad e sua vice, Manuela D'Ávila (PCdoB), além de afirmar que seu discurso radical legitima atos violentos contra eleitores do PT ou minorias.

Na opinião de Peres da Silva, a temática econômica e social precisa voltar à discussão para Haddad conseguir convencer indecisos ou eleitores que não são antipetistas, mas indicam voto em Bolsonaro nesta eleição. Para o cientista político, o partido também precisa relembrar que em seu período no governo federal pautas que poderiam ofender os mais conservadores não avançaram. Isso pode ajudar em uma reconquista do eleitor evangélico.

Insistir no fato de que vão conseguir criar mais oportunidades formais de emprego, que a expansão do salário mínimo foi concreta durante os governos do PT, que o poder de compra dessas categorias aconteceu por conta de programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida e outros. Me parece que isso pode funcionar
Glauco Peres da Silva, professor de ciência política da USP

No caso dos evangélicos, que hoje aparecem com a maior rejeição contra Haddad, Goulart diz que isso se explica pelo apoio de lideranças neopentecostais a Bolsonaro, mas que há uma disputa neste grupo, "que é heterogêneo", e "há margem", apesar da "visão consolidada muito negativa contra Haddad."

Goulart aponta que o cenário de rejeição pode ser temporário, mas que o primeiro turno mostrou que assuntos polêmicos envolvendo Bolsonaro não são um problema para ele e que dificilmente Haddad terá apoio de políticos de centro. Assim, o petista precisa apostar em uma agenda popular para ter alguma chance de vitória contra um adversário que parece ter "opiniões contraditórias" sobre economia.

"Não resta outra alternativa que não seja apostar no eleitorado popular em torno de uma agenda social", diz o professor da Unesp.

"Tem questões que vêm sendo pouco discutidas e mereciam um exame prioritário. Essa seria a possibilidade da candidatura de Haddad, que é a discussão de política social e de política econômica, como tirar o país de uma crise econômica, alternativas de desenvolvimento, quais são os caminhos de geração de emprego e renda."

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