Com Lula, assistência social iguala educação em gastos federais, diz Ipea
Estudo divulgado nesta terça-feira (4) pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) --órgão do governo federal-- mostra que, ao final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, as políticas de assistência social consumiram R$ 44,2 bilhões dos gastos federais, montante equivalente ao utilizado em educação (R$ 45,5 bilhões).
Intitulado “Gasto Social Federal: prioridade macroeconômica no período 1995-2010”, o estudo aponta que, durante as duas gestões de Fernando Henrique Cardoso, os gastos federais com assistência social subiram de R$ 1,7 bilhão (0,08% do PIB) em 1995 para R$ 15,8 bilhões em 2002 (0,60% do PIB).
Já no primeiro ano de Lula (2003), os gastos federais com assistência social saltaram para R$ 17,4 bilhões (0,66% do PIB) e chegaram a R$ 44,2 bilhões (1,07% do PIB) em 2010, último ano do petista no governo.
Durante os oito anos de FHC, os gastos com educação mantiveram-se estáveis e caíram na comparação com a evolução do PIB. Em 1995, o governo gastou R$ 19,7 bilhões ou 0,95% do PIB com educação. Já em 2002, os gastos foram de R$ 19,9 bilhões, o que representava 0,76%.
Com Lula, os gastos federais com educação subiram de R$ 18,8 bilhões, ou 0,71 do PIB, em 2003, para R$ 45,5 bilhões, ou 1,11% do PIB em 2010 --valor próximo ao gasto com educação no mesmo ano.
Gasto social cresce 173%
O Ipea considera gastos sociais federais todo o dinheiro que o governo aplica em previdência social, benefícios a servidores públicos, saúde, assistência social, alimentação e nutrição, habitação e urbanismo, saneamento básico, trabalho e renda, educação, desenvolvimento agrário e cultura.
O estudo, que não traz dados referentes aos anos de 2011 e 2012, mostra que, entre 1995 e 2010, os gastos sociais aumentaram 173%.
De acordo com o Ipea, o total dos gastos sociais federais saltou, durante os governos de FHC, de 234 bilhões (11,24% do PIB) em 1995 para R$ 340 bilhões (12,92% do PIB), em 2002. Já durante os governos de Lula, os gastos sociais subiram de R$ 343 bilhões (12,95% do PIB) para R$ 638,5 bilhões (15,54% do PIB), em 2010.
Já considerando o gasto social per capta, a evolução foi de R$ 1.471 ao ano em 1995 para R$ 3.325 em 2010 --em 2002, o valor era de R$ 1.946 e, no ano seguinte, passou para R$ 1.941.
“A área de assistência social foi, sem dúvida, a que obteve maior crescimento relativo no seu volume de recursos”, diz o estudo, acrescentado que o processo está fundamentalmente relacionado à expansão das políticas de garantia de renda. “Nos primeiros anos, a implantação do Benefício de Prestação Continuada determinado pela Constituição; na segunda metade do período, o surgimento das políticas de transferência de renda com condicionalidades, e logo em seguida, a criação e veloz expansão do Bolsa Família”.
Previdência
Em 2010, a previdência concentrava 47,5% dos gastos sociais do governo federal, o que representava R$ 303,5 bilhões. Na sequência, apareciam os gastos com benefícios de servidores públicos federais (93,1 bilhões, 14,6% do total), saúde (R$ 68,8 bilhões, 10,8% do total), educação, assistência social, políticas de emprego e defesa do trabalhador (R$ 33,8 bilhões, 5,3%) e habitação e urbanismo (R$ 33,1 bilhões, 5,2%).
O estudo informa que, junto com o aumento da parcela do PIB destinada à área de previdência social cresceu o número de beneficiados: “partindo de 14,5 milhões em 1995, chegou a 17,5 milhões em 2000; 21,2 milhões, em 2005; e 24,4 milhões de beneficiários em 2010”.
“O poder aquisitivo do piso do benefício também se elevou. Vinculado ao salário mínimo – que teve aumento real acima de 130% no período de 16 anos aqui analisado–, o piso é o valor recebido por cerca de 2/3 do total de beneficiários do RGPS”, diz a nota, sendo RGPS o regime de previdência social geral.
Segundo o Ipea, nos anos de 2007 e 2008, “o crescimento real da economia como um todo foi superior à elevação nas despesas dessa área nesses anos”. A crise econômica, que freou o crescimento na virada de 2008 para 2009, fez com que a trajetória dos gastos da previdência social voltasse a exigir maior fatia do PIB, afirma o estudo. “Mesmo com a retomada do crescimento econômico acelerado, os gastos destinados a essa área cresceram também fortemente, e o percentual do PIB elevou-se para 7,38 em 2010”.
Os benefícios previdenciários dos inativos e pensionistas da União, além dos gastos com assistência médica e outros benefícios e auxílios diversos, como auxílio-alimentação e auxílio-creche estão reunidos na área chamada de “benefícios a servidores públicos” (veja tabelas abaixo).
O levantamento aponta crescimento nas despesas dessa área ao longo de quase todo o período. “Apenas em 2003 houve uma queda de patamar importante – consequência principalmente dos impactos do ajuste fiscal na folha salarial da União. Em seguida, mesmo nessas novas bases, o crescimento acima da inflação foi retomado”, ressalta a nota, acrescentando que o número de servidores federais inativos e/ou pensionistas passou de 802 mil para 931 mil de 1995 a 2000 e, “a partir daí, continuaria crescendo, apenas um pouco mais lentamente: para 971 mil vínculos em 2005; e 983 mil em 2008”.
Em R$ Bilhões Constantes Dez/2011 (corrigidos pelo IPCA mensal)
Áreas de Atuação | 1995 | 2002 | 2003 | 2010 |
Alimentação e Nutrição | 2,3 | 2,3 | 2,3 | 4,5 |
Assistência Social | 1,7 | 15,8 | 17,4 | 44,2 |
Benefícios Serv. Púb. Federais | 51,5 | 67,9 | 63,4 | 93,1 |
Cultura | 0,5 | 0,5 | 0,5 | 1,7 |
Desenvolvimento Agrário | 3,2 | 3,1 | 2,8 | 4,9 |
Educação | 19,7 | 19,9 | 18,8 | 45,5 |
Emprego e Def. do Trabalhador | 11,1 | 14,9 | 14,7 | 33,8 |
Habitação e Urbanismo | 2,3 | 9 | 7,8 | 33,1 |
Previdência Social | 103,7 | 160,2 | 172,9 | 303,5 |
Saneamento | 0,7 | 2,2 | 0,9 | 5,4 |
Saúde | 37,3 | 44,2 | 41,9 | 68,8 |
Total | 234 | 340 | 343,3 | 638,5 |
Em % do PIB
Áreas de Atuação | 1995 | 2002 | 2003 | 2010 |
Alimentação e Nutrição | 0,11 | 0,09 | 0,09 | 0,11 |
Assistência Social | 0,08 | 0,60 | 0,66 | 1,07 |
Benefícios Serv. Púb. Federais | 2,46 | 2,57 | 2,38 | 2,26 |
Cultura | 0,03 | 0,02 | 0,02 | 0,04 |
Desenvolvimento Agrário | 0,16 | 0,12 | 0,11 | 0,12 |
Educação | 0,95 | 0,76 | 0,71 | 1,11 |
Emprego e Def. do Trabalhador | 0,53 | 0,56 | 0,55 | 0,82 |
Habitação e Urbanismo | 0,11 | 0,35 | 0,29 | 0,81 |
Previdência Social | 4,98 | 6,08 | 6,52 | 7,38 |
Saneamento | 0,03 | 0,09 | 0,03 | 0,13 |
Saúde | 1,79 | 1,68 | 1,58 | 1,68 |
Total | 11,24 | 12,92 | 12,95 | 15,54 |
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