A família foi humilhada por 37 anos, diz filho de Herzog sobre novo atestado de óbito
Morte causada por “lesões e maus tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2.º Exército (DOI-Codi)". A partir desta sexta-feira (15) é assim que fica reconhecida oficialmente a causa da morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
A família dele recebeu o novo atestado de óbito, revisado após decisão judicial, que derruba a tese por anos sustentada pelo regime militar, de que Vlado, como era conhecido, teria se suicidado (versão de "asfixia mecânica por enforcamento").
A entrega foi feita por Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade para a viúva Clarice Herzog, em cerimônia no início da tarde no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo.
No evento, o filho de Vlado, Ivo Herzog, ressaltou a batalha dos parentes por este reconhecimento. "A família, durante 37 anos, cinco meses e 20 dias, foi humilhada com um documento mentiroso", disse. "A luta continua. A gente quer ainda que sejam investigadas as circunstâncias em que meu pai morreu. Essas pessoas têm que ser identificadas."
Clarice Herzog diz que recebe o atestado com felicidade. "É uma conquista da sociedade. Várias famílias vão ter esse direito. Nunca tínhamos tido um reconhecimento da União. É um ato histórico", diz.
Ela também ressalta que o fato abre caminho para que outras famílias façam o mesmo, mas afirma que a família insistirá que os responsáveis pela morte de Vlado sejam identificados.
Para o coordenador da Comissão da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, o atestado registra que a luta daqueles que combateram a ditadura não foi em vão e que é reflexo da trajetória democrática que o país vive desde o fim do regime militar. "O fato de hoje haver a Comissão da Verdade é uma demonstração de que estamos caminhando nessa direção", disse.
O local do evento foi escolhido como homenagem aos 40 anos da morte de dois estudantes do curso de Geologia da USP, Alexandre Vanucchi Leme e Ronaldo Mouth Queiroz, em 1973. Vanucchi Leme, morto aos 22 anos, recebeu o atestado de anistiado político. Foi feito um pedido oficial de desculpa à família do jovem.
A ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que essa entrega revela a falsidade de tantos atestados feitos por quem tinha o poder. Ela destacou o trabalho feito por familiares de vítimas da ditadura para que hoje existam mecanismos respaldados pelo governo federal para esclarecer as mortes ocorridas no período, como a Comissão da Verdade. "Foram as famílias que nos trouxeram até aqui."
Herzog foi preso no Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-Codi) em 1975 e morreu na prisão em 25 de outubro daquele ano. Na época, o laudo sobre sua morte apontava asfixia mecânica, o que levou o regime militar da época a defender a tese de suicídio. Em setembro do ano passado, no entanto, a Justiça de São Paulo determinou que o atestado de óbito fosse alterado.
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