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"Brasil é o país do tapinha nas costas", diz Joaquim Barbosa

14.nov.2013 - O presidente do STF e relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa - Nelson Jr/ASICS/TSE
14.nov.2013 - O presidente do STF e relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa Imagem: Nelson Jr/ASICS/TSE

Do UOL, em São Paulo

23/03/2014 00h56

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Joaquim Barbosa, disse que o "Brasil é o país dos conchavos, do tapinha nas costas" na madrugada deste domingo (23) em entrevista ao canal GloboNews.

Barbosa disse que não pretende se candidatar a cargo político em 2014 - ele já negou que iria tentar a Presidência - mas não descartou investir na vida política durante as próximas eleições. "Recebo inúmeras manifestações de carinho, pedido de cidadãos comuns para que me lance nessa briga [candidatura], mas não me emocionei com a ideia ainda”, relatou.

O ministro defendeu que o Brasil tem responsabilidade por estar entre as 10 maiores democracias do mundo: "Isso aqui não é lugar para brincadeira". Também criticou a tomada de decisões dos três poderes: "Se faz muita brincadeira no Brasil no âmbito do Estado, dos três poderes. Muitas decisões são tomadas (...) superficialmente. Não se pensa nas consequências".

Questionado sobre se as penas aos condenados no processo do mensalão foram muito pesadas, discordou: "ao contrário". Ele deu a entender que a Corte tem histórico de penalizar mais quem chamou de "pessoas comuns". "O Supremo chancela em habeas corpus coisas muito, mas muito mais pesadas", completou.

Ao conversar sobre racismo no Brasil, Barbosa disse esperar que os presidentes nomeiem homens e mulheres negras "de maneira natural" e que "não façam estardalhaço disso". O ministro criticou convites que Lula teria feito a ele quando era presidente para ir à África. Entre outros motivos para a recusa, Barbosa entendeu que "era uma estratégia de marketing para os países africanos".

Ele lembrou que fez uma acusação contra o jornalista Ricardo Noblat por crime racial.

Ministro foi relator do mensalão

Barbosa foi o relator do processo do mensalão, que acabou com a condenação de nomes importantes do PT, como José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha.

O ministro foi nomeado à Corte em 2003 pelo então presidente Lula e atinge a idade de aposentadoria compulsória no tribunal, 70 anos, em 2024.

Em novembro, quando completa a gestão de dois anos como presidente do STF, ele será substituído na liderança da Corte pelo ministro Ricardo Lewandowski.

Na entrevista ao canal, Barbosa sinalizou que não deve esperar a aposentadoria para deixar a Corte: "Pretendo ficar mais um 'tempinho', mas vou decidir o que fazer".

Ministro pode se afiliar até 6 de abril

Pela lei, Barbosa pode deixar o cargo e se filiar a algum partido até 6 de abril (seis meses antes das eleições) caso queira disputar algum cargo.

Pesquisa do Datafolha realizada em fevereiro apontou que só uma eventual candidatura de Joaquim Barbosa e Marina Silva à Presidência poderiam forçar o 2º turno com Dilma. Barbosa já disse que não será candidato à Presidência.

Debates e provocações com colegas

Barbosa já entrou em debates acalorados com colegas do STF. Ele acusou Lewandowski de fazer “chicana” durante sessão do julgamento do mensalão em agosto de 2013 - em termos jurídicos, chicana é o ato de retardar um processo judicial com base em um detalhe ou em um ponto irrelevante. A palavra também pode ser entendida como "trapaça" ou "tramoia".

Em fevereiro de 2014, sugeriu que o colega Luís Roberto Barroso, mais novo integrante do colegiado, tinha "voto pronto" sobre o mensalão antes mesmo de se tornar ministro. Também criticou os argumentos de Teori Zavacki e Barroso quando estes votaram pela absolvição de oito réus do mensalão do crime de formação de quadrilha.