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Major Curió ainda atemoriza testemunhas da Guerrilha do Araguaia, diz Comissão da Verdade

Sebastião Curió, conhecido como Major Curió, coronel da reserva do Exército - Edinaldo de Sousa/Folhapress
Sebastião Curió, conhecido como Major Curió, coronel da reserva do Exército Imagem: Edinaldo de Sousa/Folhapress

Bruna Borges*

Do UOL, em Marabá (PA)

16/09/2014 06h00Atualizada em 17/09/2014 02h33

A Comissão Nacional da Verdade realizou uma diligência de reconhecimento na "Casa Azul" em Marabá (PA), nesta segunda-feira (15), e coletou testemunhos que mostram que o coronel reformado Sebastião Rodrigues de Moura, o major Curió, foi um dos principais comandantes na violenta repressão à Guerrilha do Araguaia. Relatos da Comissão Estadual da Verdade mostram que a influência de Curió na região persiste até hoje.

As testemunhas confirmaram que o militar da reserva esteve inúmeras vezes na "Casa Azul", atual sede do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que era usada pelo Exército como prisão ilegal e centro clandestino de tortura a presos políticos durante o regime militar. Segundo as testemunhas, Curió usava o codinome “doutor Luchini”.

Região da Guerrilha do Araguaia - Arte/UOL - Arte/UOL
Região onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia, entre Tocantins e Pará
Imagem: Arte/UOL

Também participaram da visita à "Casa Azul" pesquisadores da Comissão Estadual da Verdade do Pará. Segundo um membro da comissão, Curió ainda hoje exerce forte influência na região e impõe medo às testemunhas da guerrilha.

Paulo Fonteles Filho, membro da comissão estadual, conta que o vendedor Raimundo Cacaúba, que colaborou com o Exército passando informações sobre os guerrilheiros na ditadura, foi assassinado em junho de 2011 um mês após passar a contar o que sabia sobre as graves violações aos direitos humanos cometidas pelos militares. De acordo com a comissão, ele foi morto três dias após Curió deixar a região. Antes de ser assassinado, um outro ex-colaborador do Exército avisou Cacaúba que sua “cabeça estava a prêmio”.

Durante a diligência, o ex-soldado Manoel Messias Guido Ribeiro afirmou que o senador e ex-superintendente da Polícia Federal Romeu Tuma, morto em 2010, também atuou na "Casa Azul" como agente da repressão à guerrilha. Segundo a comissão estadual, seu codinome era "doutor Silva". O colegiado acredita que Tuma atuou na região na década de 1970. A Comissão Nacional da Verdade ainda vai apurar melhor essa informação.

Para o coordenador nacional da comissão, Pedro Dallari, a diligência confirmou suspeitas das pesquisas históricas, pois as testemunhas reconheceram a "Casa Azul" como local de prisão clandestina.

“Com esse cuidado de documentar toda a história do país o que está sendo feito o resgate da memória. O que é importante é criar essa percepção verdade já que boa parte da população não era nascida quando essas graves violações aos direitos humanos ocorreram”, disse Dallari.

*A jornalista Bruna Borges viajou a Marajá a convite da Comissão Nacional da Verdade