No Congresso, Lobão diz que Comissão da Verdade é "ridícula"
No dia em que foi divulgado o relatório final da Comissão da Verdade que pede a responsabilização das Forças Armadas pelos crimes cometidos durante a ditadura, o músico Lobão disse, durante vista ao Congresso Nacional, que a comissão é "ridícula".
Nos últimos anos, Lobão se transformou em uma das vozes mais ativas da oposição ao governo petista. Ao falar sobre a CNV, o cantor disse que a comissão é ridícula e assimétrica. “Essa Comissão da Verdade é ridícula. Ponto. Porque ela é partidária, parcial, assimétrica, ela é doutrinária e ela está forjando a história brasileira”, disse.
O cantor que vem participando de diversas manifestações contra o governo, disse que é injusto apurar apenas as violações de direitos humanos cometidas contra militantes de esquerda contrários à ditadura. O cantor diz que seria necessário apurar os crimes supostamente cometidos pelos movimentos contrários ao regime.
“E os torturadores do outro lado? E quem despedaçou corpos? Isso não é um crime? Por que esses crimes não são investigados? Por que eles são menos qualificados? Porque esses crimes de justiçamento, amputações (...) porque somente um lado está sendo visto?”, questionou o cantor.
Acompanhado por militares, Lobão disse ser contrário a uma das principais recomendações feitas pela CNV, a de que os agentes públicos envolvidos na repressão sejam responsabilizados criminal ou administrativamente. “Eu sou contra um tipo de julgamento assimétrico. Se vamos julgar crimes hediondos, não importa a proveniência deles. Na medida em que esses crimes são direcionados para um lado, esse é o ponto”, afirmou.
Para Lobão, a “culpa” pela ditadura militar foi dos movimentos de esquerda, e não dos militares.
“O pivô de termos passado 20 anos com ‘milico’ nas nossas costas foram eles (militantes de esquerda). Eles queriam a ditadura do proletariado. O movimento comunista é que fez eclodir a ditadura militar e eles estão escondendo isso da história do Brasil. Isso é hediondo”, disse o cantor.
Lobão também esteve presente no Congresso na semana passada, quando foi protestar pelo acesso dos manifestantes às galerias do plenário da Câmara.
O relatório divulgado hoje pede a responsabilização de 377 militares, incluindo os ex-presidentes do regime militar, pelas violações aos direitos humanos. De acordo com o documento, 196 pessoas apontadas como tendo feito parte do aparato repressor estão vivas, enquanto outras 136 já teriam morrido. Ainda há 45 pessoas sobre quem a comissão não soube informar se ainda estão vivas ou não.
Repercussão do relatório final da Comissão da Verdade
Junto-me ao Brasil para honrar a memória daqueles que sofreram com o resultado das brutais e sistemáticas violações dos direitos humanos que ocorreram entre 1946 e 1985
A comissão foi criada para apurar graves violações de direitos humanos no período entre 1946 e 1988, mas só descobriu violações praticadas por agentes do Estado. As violações que ocorreram do outro lado não constam no relatório. O atentado do aeroporto do Guararapes não consta no relatório. O assassinato do tenente Mendes, da polícia de São Paulo, não consta no relatório
Existe uma relação intrínseca entre a impunidade dos torturadores, a violência policial e o sistema político vigente com o processo inacabado de democratização do país. A violência do Estado que perseguiu, torturou e matou centenas de militantes políticos é a mesma que hoje possui em sua estrutura os autos de resistência
O relatório não deve ser considerado como o final do processo. (...) Os membros do Ministério Público devem usar os fatos trazidos à luz pela Comissão da Verdade para redobrar os esforços voltados à responsabilização dos autores desses graves crimes
Eu considero muito importante o trabalho que eles fizeram, um avanço grande. Agora seria preciso fazer uma Comissão da Verdade e da Justiça para poder separar, nas Forças Armadas, o joio do trigo. Não é conveniente que todas as Forças Armadas sejam consideradas cúmplices. Há militares favoráveis à democracia que carregam o ônus. A Argentina, Chile e Uruguai, ao apurarem quem foram os responsáveis e distingui-los dos demais colegas, deram um novo alento ao processo democrático na América Latina
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