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Em 30 dias, Rollemberg corta R$ 200 mi e enfrenta greves de 4 categorias

Agnelo Queiroz (esq.) passa a faixa para o governador Rodrigo Rollemberg (PSB): trinta dias de crise no DF - Joel Rodrigues - 1º.jan.2015/Estadão Conteúdo
Agnelo Queiroz (esq.) passa a faixa para o governador Rodrigo Rollemberg (PSB): trinta dias de crise no DF Imagem: Joel Rodrigues - 1º.jan.2015/Estadão Conteúdo

Edgard Matsuki

Do UOL, em Brasília

30/01/2015 06h00

Desde que assumiu o governo do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB) não tem conseguido fazer outra coisa senão tentar lidar com o rombo nos cofres públicos deixado pelo ex-governador Agnelo Queiroz (PT). Nos primeiros 30 dias, o novo governador teve que lidar com greves, manifestações, cortou R$ 200 milhões em gastos e anunciou um pacote que visa arrecadar R$ 400 milhões até o fim do ano.

Com alguns funcionários sem receber salários relativos ao mês de dezembro do ano passado, o janeiro da capital federal foi marcado por paralisações de quatro categorias: médicos, vigilantes, rodoviários e funcionários terceirizados (que englobam mais de 100 funções, como, por exemplo, na limpeza urbana e administrativas e somam 86 mil trabalhadores). Outras categorias como a dos professores e taxistas realizaram protestos, mas ainda não chegaram a parar.

Para tentar estancar o rombo de R$ 1,8 bilhões herdado da gestão anterior, o atual governo foi obrigado a adiar promessas de campanha como a construção de novas creches, a isenção de impostos para remédios e implantação do bilhete único para o transporte público.

Em vez de investir, Rollemberg teve de apertar o cinto para cortar gastos na gestão. O número de secretarias de governo foi reduzida de 38 para 24, e o de administrações regionais de 31 para 24. Alguns locais alugados para ser sede de secretarias foram devolvidos e 3.137 cargos comissionados foram cortados.

Para recolher mais fundos, o novo governo também propõe o aumento de impostos para 2016. A lista foi divulgada no último dia 27 e inclui mudanças na Taxa de Limpeza Urbana, aumento do IPTU, mudanças no cálculo do ITBI (imposto pago por quem compra imóveis), aumento do ICMS para a telefonia e fim da isenção do IPVA no primeiro ano de quem comprou carros novos.

Durante anúncio do pacote de medidas, chamado de “Pacto por Brasília”, Rollemberg apontou que a situação do Distrito Federal é muito delicada. “Nós precisamos tirar o Distrito Federal desta crise e nós só conseguiremos isso com o esforço coletivo.”

Para o chefe da Casa Civil do DF, Hélio Doyle, o aumento da arrecadação é necessário para o Distrito Federal não quebrar: “A economia do DF corre o risco de travar se a gente não sair da situação de crise em que estamos", alertou.

Carnaval, corrida e Fórmula Indy: sem repasses

Eventos como o Carnaval e a Corrida de Reis também foram afetados pela política de austeridade do novo governo. A prova da Fórmula Indy que seria realizada em Brasília no dia 8 de março foi cancelada nesta quinta-feira (29).

O repasse de R$ 12 milhões para a Liga de Escolas de Samba, o aporte de R$ 1,2 milhão para a corrida e a licitação de 238 milhões para reforma do Autódromo Nelson Piquet foram cancelados. 

Mesmo com o pacote de medidas, o governo estima que ainda haverá um rombo de R$ 1,2 bilhão para cobertura de gastos administrativos em 2015. Para fevereiro, já está previsto um deficit de R$ 359 milhões para o pagamento da folha. Para março, a previsão é de um deficit de R$ 681 milhões.    

Para tentar minimizar o rombo, o governo pediu a ARO (Antecipação de Recursos Orçamentários) de R$ 400 milhões para o governo federal. O pedido deve ser votado no início de fevereiro pela Câmara Legislativa do DF.

Sindicatos preveem ano difícil para funcionários

Outra medida tomada por Rollemberg tem sido a negociação com categorias para parcelamento de dívidas. Porém, os sindicatos têm enfrentado resistência perante as propostas. Pelo o que a reportagem do UOL apurou, há grandes chances de novas paralisações durante o ano.

O diretor de comunicação do Sindicato dos Professores, Cláudio Antunes Correia, há muitas chances de os professores do Distrito Federal começarem o ano já em greve. “Como em janeiro a categoria não pode fazer greve, os professores ficaram sem receber salários. No primeiro dia letivo, vamos fazer uma paralisação e votar a greve”.

Correia aponta que, se a ARO for liberada, os atrasados dos professores devem receber os salário. Mesmo assim, poderá haver greve. “Há outras questões como o fim dos coordenadores pedagógicos e o adiamento do início das aulas que estão deixando os professores insatisfeitos. Sabemos que o novo governo herdou dívidas, mas não temos nada com isso”, diz.

O representante do Sindicato dos Trabalhadores Terceirização Antonio de Pádua Lemos também prevê novas greves. “Cozinheiras devem voltar de férias agora em fevereiro e elas estão vendo se retornam em paralisação, já que estão sem receber”, aponta. Atualmente, 84 recepcionistas de hospitais estão sem trabalhar no DF. “Acho que tudo aponta que o ano deve ser bem complicado”, completa.

Para o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho, a situação do Distrito Federal na saúde é a mais dramática em toda história. “A situação de desabastecimento e os atrasos no pagamento de fornecedores e de servidores (como nunca antes ocorreu no Distrito Federal), confirmam o diagnóstico feito pela atual equipe de governo de que o quadro das contas públicas é dramático”, diz.

Apesar de reclamar da situação, Fialho diz que há poucas chances de os médicos entrarem em greve novamente. “Se o governo cumprir os acordos assumidos, não há razão para que a categoria volte e parar”, diz.

A reportagem do UOL tentou entrar em contato com o ex-governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, mas, de acordo com a assessoria de imprensa do PT, ele está nos Estados Unidos desde que entregou o cargo para Rollemberg.