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Irregularidades com a Petrobras começaram em 2002, diz empreiteiro na CPI

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

26/05/2015 11h06Atualizada em 26/05/2015 14h06

O ex-vice-presidente da Camargo Corrêa Eduardo Hermelino Leite afirmou nesta terça-feira (26) que os contratos ilícitos da empreiteira com a Petrobras foram “celebrados a partir de 2002”. Ele depõe hoje à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara dos Deputados que investiga as irregularidades na estatal.

“A partir de setembro 2009, quando assumi a diretoria de Óleo e Gás, recebi da empresa uma situação pré-existente de meus antecessores. A situação pré-existente da Camargo Corrêa consistia em combinações e contratos que foram celebrados através de consultorias a partir de 2002, conforme cópias de documentos já entregues ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal”, declarou Leite ao se referir aos pagamentos de propina.

É a primeira vez que um empreiteiro menciona contratos anteriores ao governo do PT no país -- em 2002, o presidente era Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Questionado pelo relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), sobre a origem do esquema, o executivo disse que não lhe "foi passado o histórico".

"Minha única disposição é a de falar a verdade. Mais que arrependimento, tenho uma profunda frustração profissional, de ter batalhado e estar hoje envolvido neste escândalo de grandes dimensões", disse o empreiteiro. 

Leite realizou acordo de delação premiada com o Ministério Público. Ele se emocionou ao ser indagado sobre os motivos que levaram a colaborar com as investigações e se possui filhos. Eu penso nisso [fazer delação] desde que a operação começou. [...] Essa questão da delação é um processo individual e não é uma boa decisão jurídica é uma decisão pessoal", declarou Leite.

Ainda respondendo o que o motivou a fazer a delação, o empresário confirmou que tem filhos e chorou. "Prefiro que isso não seja um choro. [Há] um prejuízo de imagem à minha família, não me é agradável", disse.

O empreiteiro reafirmou que o doleiro Alberto Youssef, os ex-diretores da estatal Renato Duque e Paulo Roberto Costa, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto participavam do esquema de pagamento de propina de empreiteiras à petrolífera.

"O volume de propina que tínhamos que pagar era um absurdo, era um desconforto absurdo", declarou Leite.

Ele também reafirmou que pagava propina de 1% do valor dos contratos para as diretorias de Serviços e Abastecimento. Leite declarou aos deputados da CPI que a relação da empreiteira com a estatal seria "muito difícil" se não houvesse o pagamento de propina a diretores.

Leite, em depoimento da delação, afirmou aos procuradores que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto cobrou pessoalmente uma suposta dívida da empreiteira superior a R$ 10 milhões de "pagamentos de vantagem indevida frente a contratos da construtora com a Petrobras" e determinou que o valor fosse pago ao PT como doação oficial eleitoral ao partido.

Leite disse ainda que que a propina não era um tema discutido entre os acionistas da companhia, e sim considerado um "custo" para a construtora.

O PT sempre negou que as doações eleitorais fossem provenientes de pagamento de propina e tivessem origem ilegal.

Leite foi preso em novembro de 2014 por suspeita de participar de um esquema de formação de cartel de empreiteiras que pagaram propina a diretores da Petrobras. Ele agora cumpre prisão domiciliar após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) no início de maio.