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Dilma mentiu ao negar tentativa de barganha, diz Cunha; ministro rebate

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

03/12/2015 12h10Atualizada em 03/12/2015 15h26

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta quinta-feira (3) que a presidente Dilma Rousseff (PT) "mentiu à nação em rede de televisão" ao negar ter havido barganha. O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, rebateu e acusou: "quem mente é ele".

Nesta quarta-feira (2), o presidente da Câmara acolheu o principal pedido de impeachment protocolado na Câmara por partidos da oposição contra a presidente. A abertura do processo de impeachment ocorreu no mesmo dia em que deputados do PT anunciaram que votarão contra o peemedebista no Conselho de Ética da Câmara, onde ele é investigado por suposta participação no escândalo da Lava Jato.

Após o acolhimento do pedido, Dilma fez pronunciamento em que disse que "nunca fez barganha". "Nos últimos tempos, a imprensa noticiou que haveria interesse na barganha dos votos de membros da base governista no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em troca, haveria o arquivamento dos pedidos de impeachment. Eu jamais aceitaria quaisquer tipos de barganha, muito menos aquelas que atentem contra o funcionamento das livres instituições democráticas deste país", disse a petista. 

"A presidente ontem mentiu à nação quando disse que não autorizava qualquer barganha. A barganha veio, sim, veio proposta pelo governo e eu recusei a barganha", declarou o peemedebista.

 

Segundo o presidente da Câmara, o ministro da Casa Civil Jaques Wagner levou o deputado André Moura (PSC-SE), aliado de Cunha, a uma audiência com Dilma na qual foi proposta a troca do apoio pela aprovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras) pelos três votos de deputados do PT no Conselho de Ética, que analisa a cassação de Cunha. O governo tem interesse em aprovar a CPMF para ajudar no chamado ajuste fiscal, pacotes de medidas para diminuir o rombo nas contas públicas.

"O ministro Jaques Wagner esteve com o deputado, levou ao gabinete da presidente, e lá a presidente queria que tivesse o comprometimento com a aprovação da CPMF", disse. O ministro convocou uma entrevista em seguida para rebater as críticas de Cunha e disse que foi o deputado peemedebista quem mentiu.

Wagner rebateu, em entrevista coletiva em Brasília poucas horas depois de Cunha falar na Câmara. "O deputado Moura não esteve com a presidente, esteve comigo. Eu sempre discuti pauta econômica com ele, [que funcionava] como emissário da Câmara. Eu nunca conversei com André Moura sobre arquivamento ou não de pedido de impeachment", reagiu Wagner.

 

Segundo Cunha, a participação de Moura na suposta negociação ocorreu à sua "revelia", pois ele não o teria autorizado a barganhar apoio no Conselho de Ética. "Não sou responsável pelos atos daqueles que de certa forma, digamos assim, são pessoas que tem simpatia ou por ventura estejam me defendendo", disse Cunha.

De acordo com o peemedebista, ele não revelou o teor da negociação ontem porque não tinha ainda a autorização de Moura para falar sobre a participação dele. “O ministro Jaques Wagner esteve com o deputado, levou ao gabinete da presidente, e lá a presidente queria que tivesse o comprometimento com a aprovação da CPMF”, afirmou Cunha.

Mas, de acordo com Jaques Wagner, os encontros com André Moura ocorreram para discutir "pauta econômica". "O deputado Moura não esteve com a presidente, esteve comigo. Eu sempre discuti pauta econômica com ele, [que funcionava] como emissário da Câmara. Eu nunca conversei com André Moura sobre arquivamento ou não de pedido de impeachment", declarou Wagner.

Ele também negou que a abertura do processo de impeachment seja resultado de "chantagem" com o Palácio do Planalto. "Não quero agredir a presidente. A decisão [de acatar o impeachment] é factual, é concreta, tem tipificação clara."

“Estou apenas relatando um fato para rebater e dizer que a presidente da República mentiu à nação em rede de televisão”, disse Cunha. “E só o fato de a presidente vir à televisão mentir, já é uma coisa muito grave”, afirmou.

O pronunciamento de Dilma na noite de quarta-feira, no entanto, não foi feito por meio de convocação de rede nacional de rádio e TV, mas em um pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, que foi transmitida pelas emissoras.

Cunha também afirmou não ser sua intenção “agredir” a presidente ou travar uma discussão no “nível pessoal”. Na quarta, Dilma fez críticas indiretas a Cunha, ao afirmar não ter ocultado contas no exterior ou ser suspeita e desviar dinheiro público. Cunha foi denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de receber em contas na Suíça propina ligada ao esquema de corrupção da Petrobras.

“Achar que fazer o contraponto da discussão num nível pessoal vai resolver o problema só mostra o desespero de não conseguir resolver o problema”, afirmou o presidente da Câmara.