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Dilma diz que ficará "muito triste" se for afastada antes da Olimpíada

Blog do Planalto/Divulgação
Imagem: Blog do Planalto/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

28/04/2016 15h51

A presidente Dilma Rousseff disse que ficará "muito triste" se for afastada do cargo antes do começo dos Jogos Olímpicos de 2016, a serem realizados no Rio de Janeiro, em entrevista exclusiva à emissora norte-americana CNN, transmitida nesta quinta-feira (28). "Estivemos muito engajados nisso. Eu ajudei no esforço para a construção da competição desde o primeiro dia. A Olimpíada deixará um legado", afirmou.

Ainda sobre a Olimpíada, a petista ressaltou o apoio do governo federal às obras de urbanização e transporte que estão sendo feitas no Rio rumo aos Jogos e também citou a aceitação de novos "conceitos arquitetônicos" como parte desse legado. Na sequência, lembrou o "sucesso" da Copa do Mundo de 2014, sediada no país, para reforçar sua argumentação. 

Em outro momento da entrevista, Dilma relacionou a crise política à crise econômica vivida no Brasil -- a qual tem origem na quebra financeira mundial de 2008, avaliou. Questionada sobre os escândalos de corrupção que surgiram no seu mandato, a presidente considerou que a identificação destes problemas se deve à maior transparência de seu governo e ao fortalecimento das instituições desde que Lula assumiu o poder, em 2003.

A petista defendeu, por outra, que a corrupção é “endêmica” no mundo e que até mesmo a crise de 2008 foi ocasionada em decorrência disso. Dilma disse crer que o Brasil precisa passar por reformas econômicas e políticas, mas reclamou que o Congresso só se mobiliza para tirá-la do cargo e não para promover mudanças significativas nos rumos do país.

A mandatária reconheceu que o Brasil enfrenta problemas por causa da queda nos preços de commodities e disse que qualquer país em situação similar cortaria gastos e aumentaria impostos. "Não há milagre", afirmou. Quanto à reforma política, avaliou que são necessárias alterações no sentido de permitir melhores condições de governabilidade ao presidente e reduzir os custos de campanhas eleitorais.

Dilma afirmou também que lutará "pela democracia" e contra um "golpe de Estado" até o último minuto. Apesar de manter discurso otimista publicamente, no entanto, a aliados próximos a presidente já admite que seu afastamento temporário do cargo é "inevitável", segundo o que apurou o jornal Folha de S. Paulo. Dilma será afastada por até 180 dias caso o Senado, em votação prevista para o dia 11 de maio, aprove a admissibilidade do seu processo de impeachment.

Ainda à CNN, a petista afirmou que o "sexismo" brasileiro contribuiu para que o impeachment avançasse. "Eles [a oposição] dizem muitas vezes que sou uma mulher dura, ao que respondo que sou uma 'mulher dura' rodeada por homens fofos, educados, gentis e bondosos", disse, ironicamente. A presidente assegura que na verdade é uma mulher forte, e que é necessário ser assim para enfrentar o machismo na política nacional. 

A entrevistadora da emissora norte-americana, Christiane Amanpour, citou Hillary Clinton, que na atual corrida presidencial dos Estados Unidos (ela é pré-candidata pelo Partido Democrata) disse não ter tanta habilidade política quanto seu marido, Bill Clinton. Dilma avaliou que entre ela e Lula a relação é a mesma, e que de certa forma isso é prejudicial em tempos de crise. "Lula é certamente um político melhor do que eu. Não sou uma política tão boa quanto ele, sou uma pessoa dedicada a meu povo".

O governo tem adotado estratégia de denunciar o que considera um "golpe de Estado" à imprensa internacional desde março. Na última sexta-feira (22), Dilma Rousseff foi a Nova York para cerimônia de assinatura do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, na sede das Nações Unidas (ONU), e a expectativa era de que ela elevasse as críticas ao processo de impeachment a um outro patamar, falando diretamente a líderes de países estrangeiros. Naquela oportunidade, contudo, a presidente adotou discurso menos agressivo. 

"Não posso terminar as palavras sem mencionar o grave momento que vive o Brasil. É um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é trabalhador e com grande apreço pela liberdade. Não tenho dúvidas de que saberá impedir quaisquer retrocessos", declarou a Dilma na ONU, sem citar o termo "golpe" ou se defender abertamente do processo de impeachment. No fim, ela se disse "grata" aos líderes que expressaram solidariedade a ela.

Dilma decide não fazer transição com Temer*

O Palácio do Planalto e a cúpula do PT já começaram a traçar estratégias de reação a uma eventual gestão do vice-presidente Michel Temer e decidiram que não farão qualquer tipo de transição de governo.

A ordem no Planalto para todos os ministérios controlados pelo PT é deixar Temer "à míngua", sem informações sobre a administração, e acelerar programas em fase de conclusão para que sejam lançados pela presidente Dilma Rousseff.

Em reunião a portas fechadas com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e com o presidente do PT, Rui Falcão, deputados foram informados na quarta-feira (27) de que a atual equipe não vai respaldar um governo "ilegítimo" e, por isso, não haverá transição para Temer. Até arquivos com dados estratégicos da administração estariam sendo apagados.

Com a certeza de que Dilma será afastada por até 180 dias no primeiro julgamento no plenário do Senado, que deve ocorrer em 11 de maio, governo e PT já preparam os próximos passos do divórcio litigioso.

A ideia é reforçar a estratégia de carimbar Temer como "golpista" e "vice 1%", numa referência à sua falta de densidade eleitoral.

(*Com Estadão Conteúdo)