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Câmara deve votar novamente impeachment, diz Cardozo

Dilma pede cautela após decisão da Câmara

UOL Notícias

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

09/05/2016 15h55Atualizada em 09/05/2016 17h01

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, disse nesta segunda-feira (9) que a Câmara deve votar novamente a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). "Se determinou a nulidade da autorização dada ao Senado para que processe o impeachment. A partir deste momento, o que cabe é realizar novamente a sessão de votação (na Câmara)", declarou em entrevista a jornalistas nesta tarde. O representante da AGU disse ainda acreditar que uma nova votação possa reverter o resultado -- na votação de 17 de abril, a presidente Dilma foi derrotada.

As declarações foram dadas durante uma entrevista coletiva convocada por Cardozo logo após a divulgação da decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), que determinou a anulação da votação do processo de impeachment contra a presidente Dilma.

“Qual a expectativa que tenho em relação à decisão do presidente Maranhão? Que diga que é interna corporis. Não creio que o Supremo vai mudar de posição”, disse Cardozo sobre um eventual recurso sobre o tema junto ao STF. "Eu acredito sinceramente que numa nova votação feita sem orientação partidária, podemos ter um placar diferente. Diferente ao ponto que reverta", declarou.

Cardozo elencou o que considerou como "vícios" do processo de impeachment contra a presidente Dilma na Câmara. "Quais os vícios? O primeiro vício diz respeito ao fato de que a lei que disciplina o processo de impeachment, a 1079, proibir expressamente o encaminhamento de votações", disse. "Vários líderes fizeram uso da palavra e disseram que sua bancada estaria votando de acordo com uma certa orientação", completou.

O segundo ponto, segundo Cardozo, foi que os deputados não poderiam ter declarado seus votos alegando motivações que não estavam relacionadas aos motivos pelo qual Dilma estava sendo processada.

Outro item da defesa da AGU é que caberia à defesa da presidente Dilma fazer um pronunciamento após a leitura do relatório de Jovair Arantes (PTB-GO), o que foi solicitado, mas não foi acatado pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Questionado sobre uma nota de Eduardo Cunha criticando a reunião com Maranhão, Cardozo disse achar "curioso". “Imaginar que um advogado, ao conversar com um presidente da Câmara, interfira na decisão significaria ter a posição de que um advogado não possa conversar nem com um juiz. Eu fiz aquilo que qualquer advogado faria”, disse Cardozo. Na nota, Cunha afirma que a "participação do AGU, José Eduardo Cardozo, e do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), na confecção da decisão mostra a interferência indevida na tentativa desesperada de evitar a consumação, pelo STF, da instauração do impeachment da presidente". 

O advogado também foi questionado sobre declaração do senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos braços direitos do vice-presidente Michel Temer. “Já fui três porquinhos, agora sou três patetas. Não muda muito. Não vejo qualquer problema que qualquer um coloque os apelidos. Tenho o senador Jucá em alta conta”, disse Cardozo sobre a declaração em que Jucá afirmava que a anulação da votação do impeachment teria sido orquestrada por “três patetas”: Waldir Maranhão, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e José Eduardo Cardozo.

Cardozo brinca com apelido: "agora sou 'três patetas'"

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Oposição deve recorrer de decisão de Maranhão

A decisão de Maranhão gerou críticas por parte de políticos de oposição e da área técnica da Câmara. 

Líderes de oposição prometeram recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a decisão de Maranhão. O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), classificou o presidente da Câmara de desequilibrado. “É uma decisão de uma pessoa desequilibrada, de um títere, é uma decisão de uma pessoa que está subserviente ao terminal governo do PT”, afirmou o deputado.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), porém, comemorou a decisão e disse que, com a saída de Eduardo Cunha  (PMDB-RJ) da presidência da Câmara, o governo volta a ter uma chance de barrar o impeachment caso a votação tenha de ser refeita.

Cunha foi afastado da Presidência da Casa e teve seu mandato suspenso por uma decisão do STF na última quinta-feira (5) que considerou que ele estaria utilizado seu mandato para obstruir investigações da Operação Lava Jato e do Conselho de Ética da Câmara.

O presidente da comissão do impeachment no Senado, Casa para onde o processo de impeachment contra Dilma foi encaminhado, Raimundo Lira (PMDB-PB), disse que a anulação da votação feita por Maranhão não terá “efeito prático” na tramitação do processo no Senado

Nesta segunda-feira, estava prevista a leitura do parecer elaborado e aprovado pela comissão. A votação em plenário do parecer estava prevista para a próxima quarta-feira (11). 

Durante a coletiva, Cardozo voltou a admitir que se encontrou com Waldir Maranhão antes de o deputado determinar a anulação do processo de impeachment. Foram dois encontros: o primeiro foi na última sexta-feira (6) e o segundo no último domingo (8). 

“No exercício do direito de defesa eu procurei o presidente da Câmara, Maranhão, para questioná-lo sobre o recurso que estava sendo posto e a ausência de resposta. Isso foi feito na última sexta-feira (6). Essa era a minha intenção caso não houvesse decisão e informei que tinha a intenção de judicializar a matéria. Lembrando que essa questão poderia até ser encaminhada à CIDH [Corte Interamericana de Direitos Humanos]. Seria muito desagradável que não tivéssemos uma decisão no Brasil e levar (o problema) para um órgão dessa natureza”, afirmou Cardozo. O titular da AGU disse que o fato de seus encontros com Maranhão não constarem em sua agenda oficial não indica nenhuma ilegalidade. “Eu encontrar um parlamentar não tem nada de não republicano, especialmente quando estou tentando convencê-lo sobre a atuação em causas em que eu, como advogado, estou atuando”, afirmou.

"É uma ilusão se imaginar que um processo ilegal como esse dará legitimidade a algum governo que nasça disso”, finalizou Cardozo.