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Ausência de mulheres e negros em ministérios mostra descuido com país, diz Dilma

Dilma Rousseff concede entrevista ao jornalista Glenn Greenwald - Glenn Greenwald
Dilma Rousseff concede entrevista ao jornalista Glenn Greenwald Imagem: Glenn Greenwald

Do UOL, em São Paulo

19/05/2016 09h59

A presidente afastada, Dilma Rousseff, declarou em entrevista ao jornalista norte-americano Glenn Greenwald, do site "The Intercept", que a ausência de mulheres e negros nos ministérios do presidente interino, Michel Temer, mostra descuido do atual governo com o Brasil.

Dilma concedeu a entrevista na última terça-feira (17), em Brasília. Nesta quinta-feira (19), Greenwald divulgou um trecho em vídeo no qual Dilma comenta a composição feita pelo vice-presidente Temer e sua equipe. Ele disse que a versão completa da entrevista será divulgada ainda hoje.

"O que está me parecendo é que esse governo interino e ilegítimo será bastante conservador em todos os aspectos. Um deles é ter ministérios de homens brancos, sem negros, em um país que no último Censo, de 2010, mais de 50% se declarou de origem afrodescendente. Não ter mulher e não ter negros no governo mostra um certo descuidado com que país você está governando", completou.

Criticado por formar o primeiro ministeriado sem mulheres desde Ernesto Geisel (1974-1979), que também não tem nenhum ministro negro, Temer indicou posteriormente a economista Maria Sílvia Bastos Marques à presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a procuradora e professora Flávia Piovesan como secretária de Direitos Humanos do Ministério da Justiça.

Sobre a formação de seus ministérios, o vice-presidente disse em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, no domingo (15), que escolheu os melhores nomes indicados pelos partidos aliados. Segundo o presidente interino, seus escolhidos são "notáveis politicamente e administrativamente".

Já Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, afirmou que "não foi possível" ter mulheres nas pastas, citando a redução de ministérios (de 32 para 23) e o tempo limitado após a saída de Dilma. "Nós tentamos, e vocês mesmo noticiaram. Em várias funções nós tentamos buscar mulheres, mas, por razões que não vêm ao caso aqui nós discutirmos, não foi possível", disse Padilha na sexta passada (13). 

O tema do preconceito na classe política também foi abordado por Dilma sobre a acusação que enfrenta no Senado. Dias antes da votação na Casa, Dilma disse que o fato de ela ser mulher teve influência na abertura do processo de impeachment. "A história ainda vai dizer o quanto de violência contra a mulher, o quanto de preconceito contra a mulher tem nesse processo de impeachment golpista", disse, na ocasião.

O jornalista Glenn Greenwald foi o responsável pela divulgação de dados fornecidos pelo ex-agente de segurança norte-americano Edward Snowden no final de 2012. Os primeiros documentos foram divulgados por Greenwald em junho de 2013, o que criou uma saia-justa para o governo de Barack Obama, que teve de explicar o monitoramento de informações e e-mails de autoridades de países espionados pelo NSA, a Agência de Segurança Nacional dos EUA. Na época, a presidente Dilma Rousseff chegou a cancelar uma visita ao presidente norte-americano após ter conhecimento de que sua correspondência digital fora violada.

Em abril, o jornalista norte-americano havia entrevistado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, Lula afirmou que o processo de impeachment era "tramado por um grupo que deseja chegar ao poder desrespeitando o voto popular".