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Quem quer uma Polo Ralph Lauren como a do Doria?

João Doria (PSDB) usa jaqueta Ralph Lauren - Eduardo Anizelli/Folhapress - Eduardo Anizelli/Folhapress
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

André Carvalho e Marcela Sevilla

Do UOL, em São Paulo

13/10/2016 05h17

"Algum dia, quem sabe, todos os brasileiros vão poder usar Polo Ralph Lauren". Foi assim que o prefeito eleito de São Paulo, João Doria Júnior (PSDB), rebateu o questionamento de jornalistas a respeito de sua imagem, durante evento realizado em São Paulo no último sábado (8).

Na mesma ocasião, disse ter "incorporado" o apelido de coxinha. "Em vez de combater, eu assumi", afirmou o empresário, que declarou à Justiça Eleitoral possuir um patrimônio de quase R$ 180 milhões.

A reportagem do UOL foi saber o que os paulistanos da rua 25 de Março, meca do mercado informal em São Paulo, acharam da declaração e, mais, saber se aumentaram as vendas da Polo Ralph Lauren após a vitória do tucano. 

Já foi o tempo

Na região do comércio popular, alguns comerciantes e consumidores não gostaram da declaração de Doria, já que os produtos da marca são caros e pouco acessíveis. Principalmente em tempos de crise.

Fernando Viana, chefe de cozinha, compra réplicas de camisas Polo Ralph Lauren no mercado popular - Reprodução - Reprodução
Fernando Viana compra réplica de camisa Polo Ralph Lauren no mercado popular
Imagem: Reprodução

Outros concordam que seria bom se os brasileiros tivessem como comprar uma Polo Ralph Lauren original. Enquanto esse dia não chega, muitos deles se viram mesmo com a "réplica" que é vendida pelos camelôs.

O baiano Gilberto, 33, acha "até que boa" a declaração de Doria. Mas ressalta: "Ele só falou, se fosse para realizar e dar uma [camisa] polo para cada um, todo mundo ia querer, né?".

O Doria está desatualizado. Já foi a época da Polo [Ralph Lauren]. Dois anos atrás, a gente até podia falar que vendia bem. Hoje em dia, não Paulo Barbosa, 21, vendedor há 3 anos na 25 de Março

Para Barbosa, a declaração do prefeito eleito foi infeliz: "Como você vai pagar R$ 250 em uma camisa polo? Quem tem condição com essa crise toda? Nunca que eu ia gastar R$ 250 em uma camiseta. Prefiro juntar dinheiro para comprar alguma coisa para o meu filho".

O empresário Marcelo de Souza, 47, acha que o "estímulo" de Doria em meio à crise econômica "vai dar força à [rua] 25 de Março. Vai estimular o comércio informal". Mesma opinião tem a analista comercial Izabela Juncioni, 28: "Aqui na [rua] 25 [de Março], todo mundo pode ter uma [camisa] polo".

Vendedora há 40 anos, Socorro do Nascimento, 59, afirma ter votado em João Doria, mas não gostou do que ele disse. "Eu acho que o pessoal está precisando mais é de emprego, de comida, não de roupa de luxo. Ele tem que dar para o povo é emprego. Pobre precisa disso, de nome limpo, saúde, educação, dignidade. Entendeu, João Doria?"

Houve também quem gostasse. "O prefeito [eleito] foi bem na declaração. Todo mundo gosta de uma [camisa] polo. Se todo mundo vestisse, seria muito melhor, porque polo cai bem em qualquer ocasião. Seria ótimo", disse o funcionário público Luciano Chagas, de 41 anos.

"A jaqueta do Doria já esgotou aqui"

No shopping Iguatemi, a loja oficial da Polo Ralph Lauren recebe um público bem diferente daquele que frequenta a rua 25 de Março. São consumidores dispostos a pagar um alto valor para ostentar o famoso cavalinho no peito. Para se ter uma ideia, a jaqueta de nylon bastante usada por Doria em campanha sai por R$ 950. Um conjunto de calça, camisa e moletom exposto na vitrine custa R$ 1.970.

A reportagem do UOL também esteve em uma das lojas oficiais da marca --em São Paulo, há apenas duas unidades. Questionado se as vendas haviam aumentado com a "propaganda" do prefeito eleito, um vendedor, que não se identificou, foi sucinto: "A jaqueta de nylon do Doria praticamente esgotou nesta semana".

Para o vendedor, os consumidores da marca admiram o tucano. "Olha só, para não falar que vendemos todas as jaquetas do modelo que ele usa, sobrou esta, de tamanho P."