Após fama com prisão de Cunha, 'Lenhador da Federal' tira férias
O agente Lucas Valença, que ficou conhecido como "Lenhador da Federal" ou "Hipster da Federal" ao escoltar o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), tirou férias após polêmicas aparições em programas de TV.
A informação foi confirmada por fontes do UOL na PF (Polícia Federal). Valença teria sido "aconselhado" a tirar férias após a fama. Procurada pela reportagem, a instituição não se pronunciou até a publicação da reportagem.
Consultada a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), diz que o agente antecipou suas férias em duas semanas por vontade própria.
Tudo começou com a prisão de Cunha na semana passada. Valença chamou a atenção ao aparecer ao lado do preso em imagens que rodaram o Brasil. Em posts em seu perfil nas redes sociais antes da fama, ele declarou voto em Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014 e sugeriu que a vitória de Dilma Rousseff (PT) fora fraudada.
Após a repercussão, agentes da PF receberam a orientação de ir mascarados à escolta de Cunha para o IML (Instituto Médico Legal) no dia seguinte à prisão.
A última polêmica surgiu após o agente ter participado dos programas "Encontro", da TV Globo, e "Programa do Porchat", da TV Record, o que teria desagradado a PF.
A instituição, inclusive, vai apurar se o agente cometeu irregularidade administrativa ao conceder entrevistas a veículos de comunicação, segundo o jornal "Folha de S.Paulo".
Em nota divulgada na segunda (24), Valença disse que participou das atrações "na condição de cidadão". "Lucas reitera todo o seu respeito com a Instituição Policial Federal e, principalmente, em relação às investigações protagonizadas por nossos profissionais, sempre protegidas pelo sigilo e confidencialidade. Continuaremos construindo a Polícia Federal que a sociedade confia com muito zelo e responsabilidade”.
A Fenapef criticou a PF sobre a apuração de irregularidade administrativa. "Procedimentos disciplinares devem ser sigilosos, até que se apure as responsabilidades. A exposição, ainda mais por ter dado entrevista no gozo de férias, tem cheiro de abuso de autoridade e assédio moral", diz a entidade em nota, que colocou sua assessoria jurídica estará a disposição de Valença.
Rosto escondido
Com a popularidade que alguns agentes têm conquistado ao aparecerem junto a detidos pela Operação Lava Jato, a PF, informalmente, passou a obrigar que todos usem balaclava, uma máscara de lã que deixa apenas os olhos à mostra.
Em nota, a Fenapef liga a medida à notabilidade obtida por Valença e Newton Ishii, o "Japonês da Federal".
“A visibilidade repentina que Lucas Valença conseguiu provocou reação rápida dos delegados, que não querem rivalizar os holofotes. Determinaram que a partir de agora todos os agentes usem a balaclava, uma espécie de burca da PF”, disse a entidade, em mensagem assinada por seu presidente, Luís Boudens.
Para a Fenapef, a medida "fere o direito dos policiais federais". "Padroniza algo que deve ser avaliado caso a caso", avalia Boudens. Na visão dele, a escolta de Cunha, por exemplo, não haveria necessidade da balaclava por ser uma operação discreta.
Ao jornal "Folha de S. Paulo", a assessoria da PF afirmou que uso do acessório é "uma prerrogativa de cada agente."
Questionada pela reportagem, a ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal) afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "desconhece uma nova determinação sobre o uso obrigatório de balaclava".
Ainda na sua resposta ao UOL, a associação acrescenta que "é importante consignar que o trabalho policial exige discrição e, muitas vezes, sigilo. O policial trabalha em campo, buscando informações. Tem que entrevistar pessoas, localizar foragidos e, até mesmo, ser infiltrado em organizações criminosas. A exposição excessiva do policial federal pode limitar e, até mesmo, impedir a atuação futura do servidor no combate ao crime organizado."
Era escolha
Na última quinta (20), o presidente do Sintef-PR (Sindicato dos Policiais Federais do Paraná), Francisco Breus, disse ao UOL que a decisão de usar a balaclava era pessoal de cada agente, que avaliava a utilização da peça.
Normalmente, o senso de preservação da própria imagem acaba sendo o principal motivo, seja por privacidade ou por precaução contra represálias de criminosos. "O policial fica muito exposto [por causa da cobertura da imprensa]. Ele tem família e trabalha nas ruas. Existe a perseguição de facções do crime organizado a certos agentes", diz. "Há policiais de várias áreas e alguns deles atuam no combate ao narcotráfico. Como estão na rua investigando, facilmente seriam detectados".
Os policiais não mascarados na condução dos presos estariam cientes dos riscos, segundo Breus. "Todos são alertados sobre a preservação da imagem mas alguns acabam não se prevenindo", explica.
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