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"Tenho que tomar cuidado com as palavras", diz Maia sobre substituir Temer

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) - Ueslei Marcelino - 29.jun.2017/Reuters
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) Imagem: Ueslei Marcelino - 29.jun.2017/Reuters

Do UOL, em São Paulo

17/07/2017 22h31Atualizada em 17/07/2017 23h01

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), buscou demonstrar cautela ao comentar a possibilidade de virar presidente da República caso Michel Temer (PMDB) seja afastado do cargo. Isso pode acontecer se os deputados federais aprovarem a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Temer por corrupção passiva. 

"Tenho que tomar cuidado com as palavras", disse Maia em entrevista ao jornalista Roberto D'Ávila exibida na noite desta segunda-feira (17) pelo canal de TV por assinatura GloboNews. 

O presidente da Câmara disse que, "nesse momento", não se vê como postulante ao cargo de presidente, mas que pode ser visto como uma alternativa "daqui a duas ou três eleições".

Maia marcou a votação da denúncia no plenário para o dia 2 de agosto, no retorno do recesso do Congresso. Se a acusação for aprovada, é encaminhada para análise do STF (Supremo Tribunal Federal). Caso a Corte aceite a denúncia, Temer vira réu, e o presidente da Câmara assume o comando do país de forma interina por 180 dias. Se o STF condenar Temer, ele perde o cargo, e um novo presidente deve ser escolhido em eleições indiretas --ou seja, apenas com o voto de deputados federais e senadores.

Segundo Maia, "o ideal para o Brasil" seria que a PGR oferecesse apenas uma denúncia contra Temer, para que o Congresso decidisse sobre o assunto de uma vez e continuasse com sua agenda "com o resultado que tivéssemos".

Há a expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente pelo menos outra denúncia contra Temer, pelo crime de obstrução de Justiça. Segundo investigação da Polícia Federal, há indícios de que o presidente atuou para incentivar executivos da JBS a dar dinheiro ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) supostamente em troca de seu silêncio.

A defesa de Temer nega que o presidente tenha cometido irregularidades e afirma que não há provas das acusações. 

Maia minimiza liberação de emendas

Na entrevista à GloboNews, Maia também afirmou que não faz nada para prejudicar Temer e que conversa "olho no olho" com o presidente. Segundo o deputado, Temer tem a vantagem de ser "querido" no Congresso, lembrando que o peemedebista foi três vezes presidente da Câmara.

Questionado sobre a liberação de emendas orçamentárias pelo Executivo para obter apoio no Congresso, Maia lembrou do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para minimizar a importância das verbas. "Tem muita espuma nessa história", disse.

O presidente da Câmara também declarou que as trocas realizadas pela base do governo na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) foram apenas "jogo político". As mudanças levaram à rejeição de um parecer favorável à denúncia da PGR.

"A troca em si resolve uma instância. O plenário todo vai votar", disse. 

Maia também falou sobre os inquéritos aos quais responde no STF, e disse ter certeza de que vai provar sua inocência. Os dois processos são derivados de delações de ex-executivos da Odebrecht. O presidente da Câmara é acusado de receber doações em troca de atuação favorável à empreiteira na Câmara. "Não existem provas em relação ao que foi dito", afirmou o político do DEM.

Reforma trabalhista foi "revolução"

Ao comentar as principais pautas do governo no Congresso, Maia disse que a reforma trabalhista foi uma "revolução" e negou que as mudanças diminuam direitos dos trabalhadores. "Nós tínhamos uma lei que falava em proteção e gerava desemprego", afirmou. Sobre a reforma da Previdência, disse que serão reduzidos "os privilégios de quem ganha muito para que o trabalhador simples tenha certeza que vai receber sua aposentadoria no futuro".

Na reforma política, defendeu o fim das coligações em eleições proporcionais (como ocorre hoje para o Legislativo) e a criação de uma cláusula de desempenho para partidos, além do voto distrital misto. "O sistema eleitoral brasileiro faliu", disse.

O presidente da Câmara falou ainda sobre a crise do Rio de Janeiro e disse cobrar "diariamente" o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), para a concretização do acordo de recuperação fiscal do Estado. Segundo Maia, o governo federal precisa entender que "não há mais tempo no Rio". "Nós perdemos completamente o controle da segurança pública no Rio", disse.