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Peregrinação, mea-culpa e Suplicy: as estratégias do PT de SP por votos e filiados

Luiz Marinho, presidente do PT-SP, fala a militantes do partido em Votuporanga (SP) - Reprodução/Facebook
Luiz Marinho, presidente do PT-SP, fala a militantes do partido em Votuporanga (SP) Imagem: Reprodução/Facebook

Venceslau Borlina Filho

Do UOL, em São Paulo

01/09/2017 04h00

Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva promove sua "Caravana da Esperança" pelo Nordeste, uma outra frente do PT está em andamento no Estado de São Paulo, comandada pelo presidente estadual do partido, Luiz Marinho.

A peregrinação dos líderes do diretório paulista do partido busca reagrupar a militância, que se dispersou com as denúncias de corrupção que atingiram o PT, e estabelecer estratégias para conquistar votos nas eleições de 2018.

Os encontros já aconteceram em diversas regiões do Estado, passando por cidades como Marília, São José do Rio Preto, Bauru, Assis e Pindamonhangaba, e devem seguir pelo menos até outubro.

Além de remanescentes do partido, participam das reuniões líderes de centrais sindicais (CUT), de movimentos sociais (MST) e de grupos de esquerda (Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo).

Ato reúne petistas e integrantes de movimentos sociais em Bauru (SP) - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Ato reúne petistas e integrantes de movimentos sociais em Bauru (SP)
Imagem: Reprodução/Facebook

“Queremos eleger o ex-presidente Lula [em 2018] para retomarmos o projeto de crescimento econômico, de inclusão do trabalhador na economia e voltar a gerar oportunidades que os governos Lula e Dilma tinham”, afirmou Marinho em entrevista ao site do PT.

“Também queremos reivindicar o direito do PT de governar pela primeira vez o Estado de São Paulo. Para alguns, isso pode ser uma coisa distante, mas eu diria que temos condições de motivar a militância e que é possível disputar o governo em 2018”, completou.

Só no Estado de São Paulo, o PT perdeu 7.068 filiados desde o fim do primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, em dezembro de 2014, de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em todo o Brasil, houve uma redução no número de filiados --chegou a 1.588.426 em maio de 2016, quando Dilma foi afastada da Presidência, mas agora está em 1.581.867 militantes.

Por outro lado, o PSDB –principal concorrente do PT— apresenta aumento no número de filiados partidários. Desde dezembro de 2014, a alta em São Paulo foi de 9,66%. No Brasil, foi de 7,5%.

Conversa

No começo de agosto, em Votuporanga, região noroeste do Estado, Marinho afirmou que para restabelecer a confiança da militância será preciso “muita conversa” e assumir os “erros cometidos”.

Entre os erros, ele citou a mudança de discurso adotado por Dilma na posse, em 2015, em relação ao apresentado durante a campanha de 2014, e a falta de condições para reformas, como a tributária.

“Nós cometemos erros. A presidenta Dilma, quando iniciou o segundo mandato, ela fez um discurso na eleição e fez uma argumentação diferente, onde começou botando o Levy [Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda] fazendo outro discurso. Aí que nós perdemos credibilidade”, disse em entrevista a uma rádio local.

“Nós precisamos dizer isso para o povo, para assumir, para retomar o processo de credibilidade e criar as condições para voltar a governar o Brasil. O presidente Lula fez uma grande revolução”, completou o presidente estadual do PT.

De acordo com Marinho, entre as estratégias está a de delegar novos dirigentes partidários, repensar a atuação do partido, fazer as autocríticas necessárias e buscar devolver a “esperança”.

Coordenador do PT na região de São José do Rio Preto, no noroeste paulista, Luciano Bitencourt afirmou que a melhor estratégia para reconquistar o eleitor será a conversa “olho no olho”.

Para ele, a ex-presidente Dilma Rousseff errou ao perder a capacidade de diálogo com o Congresso Nacional. Já o partido também falhou ao fazer alianças que poderiam ter sido evitadas.

“O que queremos agora é melhorar a qualidade dos nossos políticos. Temos sido mais seletivos. O mais importante é compartilhar da nossa ideologia, das bandeiras que sempre levantamos, como os direitos sociais, do trabalhador e dos direitos humanos”, afirmou.

Eduardo Suplicy

Tido como exemplar raro da política brasileira em razão da ausência em escândalos, o vereador paulistano mais votado da história, Eduardo Suplicy, com 301.446 votos, é uma das apostas –e alvo de disputas internas-- do PT para as eleições de 2018.

Uma ala do partido quer que ele seja candidato ao Senado; outra defende que ele seja candidato a deputado federal, isso porque ele arrastaria mais políticos do partido à Câmara Federal. E há ainda quem defenda sua candidatura ao governo do Estado.

O vereador eleito mais votado de São Paulo, Eduardo Suplicy (PT), conversou com jornalistas dos estúdios do UOL, em São Paulo - Lucas Lima/UOL - Lucas Lima/UOL
O vereador mais votado de São Paulo, Eduardo Suplicy (PT)
Imagem: Lucas Lima/UOL

Na esteira de Suplicy, estão nomes como o próprio Luiz Marinho, que trabalha sua candidatura ao governo estadual, e Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, cotado para a candidatura ao Senado.

O vereador, porém, está disposto a concorrer pelo Senado. “É mais natural eu concorrer ao Senado do que como deputado federal. Como senador, terei mais condições de pedir votos aos candidatos a deputados federais”, afirmou.

Apesar disso, Suplicy afirmou estar à disposição do partido, inclusive para disputar prévias. Em 2002, ele perdeu a vaga para Lula na disputa da candidatura à Presidência da República. “Tenho um bom diálogo com todos no partido e estou à disposição”, disse.

Rivais de petistas, tucanos vivem indefinição em SP

No ninho dos tucanos paulistas, a disputa para suceder Geraldo Alckmin (PSDB) no governo do Estado é grande. São ao menos oito nomes que, se prevalecerem até o final do ano, participarão das prévias do partido em, no máximo, fevereiro de 2018.

Entre os mais próximos da disputa estão o atual secretário de Estado da Saúde, David Uip; o cientista político Luiz Felipe D´Ávila, genro do empresário Abílio Diniz e recém-filiado ao PSDB; o prefeito paulistano João Doria; e o senador José Serra.

No caso de Doria, segundo uma liderança tucana, ele só participaria se houvesse ameaça à hegemonia do partido no Estado –o PSDB governa São Paulo desde 1995. Numa possível disputa com Alckmin à Presidência da República, Doria estaria mais para “cabo eleitoral”.

Alguns dos nomes já se movimentam. São jantares em busca de apoio e também para mostrar força. Na última terça (29), D´Ávila se reuniu com cerca de 30 prefeitos na sede do Instituto FHC, do qual é integrante da diretoria, e se colocou como candidato a governador.

Já na última segunda (28), o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, um dos nomes também cotados para a sucessão de Alckmin, promoveu um jantar com prefeitos que contou com a presença do governador.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) durante evento com evangélicos - Paulo Lopes/Estad?o Conte?do - Paulo Lopes/Estad?o Conte?do
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que deve concorrer à Presidência da República
Imagem: Paulo Lopes/Estad?o Conte?do

David Uip, por sua vez, reuniu a classe médica em um jantar oferecido no mês passado pela SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), em um buffet em Higienópolis, na região central da cidade, e teve sua trajetória enaltecida.

José Serra é cotado em razão do histórico de experiência, mas nesta semana o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou investigação contra ele por suspeita de praticar caixa 2 na campanha presidencial de 2010, o que o deixa sob suspeita. O senador nega a prática.

Dois outros concorrentes integram o secretariado do governo estadual atualmente. São eles: Márcio Elias Rosa (Justiça e Defesa da Cidadania) e Floriano Pesaro (Desenvolvimento Social), vistos como bons gestores e profissionais das suas áreas.

Além deles, o ex-deputado federal e presidente do ITV (Instituto Teotônio Vilela), José Aníbal, também integra a lista. Porém, poderia assumir a Presidência Nacional do PSDB em 2018. A convenção do partido está marcada para 9 de dezembro.