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Janot abre denúncia contra Temer e cúpula do PMDB com citação de membro histórico do partido

Ex-deputado federal Ulysses Guimarães, membro histórico do PMDB - Arquivo Agência Brasil
Ex-deputado federal Ulysses Guimarães, membro histórico do PMDB Imagem: Arquivo Agência Brasil

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

14/09/2017 19h32Atualizada em 14/09/2017 20h15

O presidente Michel Temer não foi o primeiro peemedebista a figurar na denúncia oferecida contra ele nesta quinta-feira (14) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Antes de o nome do presidente aparecer, a peça é aberta com uma frase de Ulysses Guimarães (1916-1992), um dos membros mais importantes da história do partido.

"O poder não corrompe o homem; é o homem que corrompe o poder. O homem é o grande poluidor, da natureza, do próprio homem, do poder. Se o poder fosse corruptor, seria maldito e proscrito, o que acarretaria a anarquia”, reproduziu o procurador-geral.

Assim como Temer, Ulysses foi presidente do PMDB e da Câmara dos Deputados. Os dois, aliás, foram colegas de Parlamento. Em 1988, Ulysses Guimarães presidiu a Assembleia Nacional Constituinte, da qual fazia parte o então deputado Michel Temer.

O nome de Ulysses, que era conhecido como o "Sr. Diretas", por ter liderado a mobilização popular pelas eleições diretas para presidente durante a ditadura militar, foi escolhido para batizar a Fundação Ulysses Guimarães, relacionada ao PMDB.

No ano passado, quando ele completaria 100 anos, Temer escreveu um artigo em sua homenagem. “Reverenciar e rememorar a figura do doutor Ulysses é rememorar e reverenciar um Brasil de valores positivos: honestidade, retidão, firmeza de propósito, austeridade e caráter”, escreveu o presidente da República, na ocasião.

“Seguiremos seus ensinamentos eternos, sempre nos curvando e reverenciando sua Excelência, o cidadão brasileiro", conclui Temer no texto.

Guimarães foi declarado morto após seu corpo desaparecer em 12 de outubro de 1992, num acidente aéreo. O helicóptero que o transportava caiu após sair de Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, com destino a São Paulo.

A denúncia

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou nesta quinta-feira (14) ao STF (Supremo Tribunal Federal) uma segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB), desta vez pelos crimes de organização criminosa e obstrução de justiça. A denúncia tem como bases principais as delações premiadas de executivos da JBS e do corretor de valores Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB.

Além de Temer, também são acusados de organização criminosa os ex-deputados Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures e Henrique Alves, o ex-ministro Geddel Vieira Lima e os atuais ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, todos do PMDB. Eles teriam recebido R$ 587 milhões em propinas. Ainda foram denunciados os executivos da JBS, Joesley Batista e Ricardo Saud, esses por obstrução de justiça.

Ao todo, a denúncia apresentada conta com 245 páginas divididas em capítulos. Um deles contém uma síntese das imputações enquanto outro detalha como a suposta corrupção aconteceu em diversos órgãos do governo.

Segundo a denúncia, os sete integrantes do PMDB praticaram atos ilícitos em troca de propina dentro de vários órgãos públicos, entre eles Petrobras, Furnas, Caixa Econômica e Câmara dos Deputados. Temer é apontado na denúncia como líder da organização criminosa desde maio de 2016.

Para a Procuradoria, Temer também cometeu o crime de obstrução de justiça ao dar aval para que o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, comprasse o silêncio de Lucio Funaro. Ricardo Saud, executivo do grupo, ficaria encarregado de pagar valores à irmã do operador, Roberta Funaro.

Em sua delação premiada, Funaro afirmou ter recebido dinheiro de Joesley para que não fechasse um acordo de delação. Para a Procuradoria, o silêncio do operador beneficiaria o grupo do PMDB próximo a Temer. O presidente nega que tenha dado aval ao executivo da JBS.

Para denunciar Joesley e Saud, Janot decidiu rescindir o acordo de delação premiada firmado por ambos. O acordo de colaboração da JBS, base para as duas denúncias apresentadas contra o presidente, ficou sob suspeita após novos áudios apresentados indicarem que o ex-procurador da República Marcello Miller pode ter auxiliado os delatores quando ainda estava ligado à Procuradoria. Miller nega a suspeita.