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Emilio Odebrecht diz que só ele, e não Marcelo, tratou com Lula sobre Atibaia

O empresário Emilio Odebrecht em foto de 2008 - Caio Guatelli-21.ago.08/Folhapress
O empresário Emilio Odebrecht em foto de 2008 Imagem: Caio Guatelli-21.ago.08/Folhapress

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

14/06/2018 21h43

Em declaração enviada ao juiz federal Sergio Moro nesta quinta-feira (14), o empresário Emilio Odebrecht, ex-presidente do grupo Odebrecht, diz que apenas ele tratou sobre o sítio de Atibaia (SP) com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O empresário afirma que seu filho, Marcelo Odebrecht, “não se envolveu em tratativas com Lula em relação a esse assunto, nem direta, nem indiretamente”.

O documento foi anexado aos autos de uma ação penal que investiga se o ex-presidente recebeu propina de R$ 1,02 milhão das empresas Odebrecht, OAS e Schahin por meio de obras feitas no sítio, que era frequentado por ele e sua família. Emilio, Marcelo e Lula são réus no processo.

O MPF (Ministério Público Federal) também acusa o petista de ser o real proprietário do sítio. Sua defesa nega e diz que o ex-presidente jamais solicitou ou recebeu qualquer vantagem indevida.

No texto, Odebrecht menciona elementos que já foram relatados em seu acordo de delação. O empresário afirma que as benfeitorias no sítio foram realizadas com sua autorização, sem qualquer participação de Marcelo. Segundo ele, seu filho sequer foi consultado sobre o envio de recursos humanos e financeiros da construtora Odebrecht em São Paulo para a execução das obras.

Odebrecht volta a afirmar que o pedido para que fossem feitas as obras foi realizado pela ex-primeira-dama Marisa Letícia a Alexandrino Alencar, ex-executivo da empreiteira que também assinou acordo de delação premiada. 

O empresário afirma ainda que Marcelo reportava a ele temas que tratava diretamente com Antônio Palocci e Guido Mantega que tinham relação ou envolviam Lula. Isso porque, segundo Odebrecht, a “relação pessoal” com Lula sempre foi dele no âmbito da empreiteira --e assim continuou sendo, mesmo após Marcelo assumir a presidência do grupo.

“Hoje sei que Marcelo tratava também com os mesmos interlocutores do PT [Palocci e Mantega] sobre temas de interesse da Odebrecht junto ao Governo Federal e que alguns desses temas estão refletidos na chamada Planilha Italiano”, descreve o empresário.

Odebrecht diz então que, com a exceção desses temas, “Marcelo não se envolveu em nenhuma tratativa direta ou indireta com Lula, cuja responsabilidade pela relação no Grupo Odebrecht era minha”.

O empresário termina o documento dizendo que busca manter o “compromisso de colaborar com a justiça e com a elucidação dos fatos” dos quais participou ou tomou conhecimento e que foram relatados em seu acordo de delação premiada homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), em 2016.

O acordo de delação premiada da Odebrecht foi o pivô de um rompimento nas relações entre Marcelo e Emilio. Enquanto o filho se sentiu injustiçado, o pai viu no acordo a única maneira de preservar a empresa. 

Sinais de reaproximação entre pai e filho vieram apenas em abril deste ano, quando os dois publicaram uma nota conjunta. No texto, que foi enviado a funcionários da empreiteira, Marcelo e Emilio afirmam que têm "como objetivo comum a preservação e o fortalecimento das empresas do Grupo Odebrecht".