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'Não resolveremos desigualdade com um monte de gente branca', diz Huck

O apresentador Luciano Huck durante o Fórum da Revista Exame 2019, com o tema "Como recuperar o foco no desenvolvimento" - RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O apresentador Luciano Huck durante o Fórum da Revista Exame 2019, com o tema "Como recuperar o foco no desenvolvimento" Imagem: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo*

09/09/2019 19h46Atualizada em 10/09/2019 01h10

Em um evento que reuniu nomes que já se desenham como possíveis adversários de Jair Bolsonaro (PSL) em 2022, o apresentador Luciano Huck, 48, defendeu que se debata "o abismo social no Brasil".

Diante de uma plateia, assim como ele, majoritariamente branca, Huck também criticou a falta de diversidade no debate público brasileiro. "Não vamos resolver desigualdade com um monte de gente branca e rica sentada na Faria Lima", afirmou o global.

"Precisamos discutir mobilidade social no Brasil. O país já teve mobilidade social, não tem mais. Hoje, se você nascer pobre numa favela, a chance de morrer pobre numa favela do Brasil é enorme", afirmou o apresentador.

Vestindo jeans e com ar visivelmente mais informal do que os demais palestrantes do Fórum Exame, foi o único aplaudido de pé durante toda a programação - que teve também fala dos governadores João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ).

Huck foi um dos últimos a discursar no evento voltado para empresários e políticos.

Huck diz que não tem "projeto de poder"

Na TV há mais de duas décadas, Huck afirmou que não tem projeto de poder ou político, mas sim de país.

"Se a gente não fizer nada, o Brasil vai implodir", afirmou.

Nas últimas eleições, Huck cogitou se apresentar como candidato à presidência, mas recuou. Hoje, diz que sua atuação política se dá em debates e em organizações suprapartidárias.

"Quero contribuir como for possível para que o Brasil seja um país cada vez mais eficiente e mais afetivo, com menos desigualdade", afirmou.

"O que posso trazer como contribuição neste momento são as minhas andanças pelo Brasil", disse.

Huck também falou que um "tsunami político" atingiu sua vida nos últimos dois anos.

"Eu tinha dois caminhos: um era continuar a ser um peixinho dourado no aquário, protegido pelos muros do Projac [estúdio da TV Globo], sendo alimentado com bastante fartura, fazendo o que eu faço tranquilo —e gosto— ou me jogar no oceano e tentar contribuir de alguma forma para que o Brasil seja um país melhor no futuro", disse Luciano.

Brasil profundo

Huck também defendeu ter conhecimento profundo do país.

Contou que chegou até a fronteira brasileira no Acre de barco acompanhando o atendimento médico às populações ribeirinhas. Que visitou refugiados venezuelanos em Roraima. Conheceu pessoas herdeiras da pobreza provocada pela escravidão até os dias de hoje -que virou pauta de seu programa aos sábados, e deve ir ao ar nas próximas semanas.

Ele disse que contou sete favelas no caminho do aeroporto até a sua casa, no Rio de Janeiro, onde também visitou projetos no Morro do Alemão.

"Ninguém me contou, eu vi. Ando dois, três estados por semana ininterruptamente, quase 52 semanas por ano. Digo aos meus filhos que estou com o dedo no pulso do Brasil", disse o apresentador.

Polarização

Huck também disse que não convive bem com a polarização política que existe atualmente na sociedade brasileira, defende a união e o diálogo, sem aceitar que o debate político vire um "ringue de luta livre".

O apresentador também afirmou que não é filiado a nenhum partido político, mas comentou sua atuação junto a grupos parlamentares como o Renova e o Agora, que defendem a renovação política. "A régua é a ética: não importa como você pensa contanto que o sarrafo ético esteja na altura correta", diz.

"É ali que a gente pretende que nasça um projeto de país. Não é um projeto político nem eleitoral. Não é do Luciano. Não é de ninguém, é de quem quiser olhar, é open source", diz, em referência aos programas de computador em que os desenvolvedores contribuem para a construção do software.

Huck não citou o presidente Bolsonaro nenhuma vez em quase 1h de discurso e perguntas.

Depois que desceu do palco, foi cercado e posou para selfies com fãs, políticos e empresários. Distribuiu autógrafos e saiu sem falar com a imprensa.

*Colaborou Lucas Borges Teixeira