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Se houver "3ª via", eleições serão definidas 'por pessoas', diz Sardenberg

Gabriel Toueg

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/06/2021 14h38

O comentarista de economia e política Carlos Alberto Sardenberg afirmou hoje que a eleição de 2022 "será definida por pessoas", ao sugerir que, se houver sucesso na criação de uma chamada "terceira via", alternativa à disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), há "uma chance boa". Sardenberg foi o convidado do Jornalistas e Etc., programa apresentado pela colunista do UOL Thaís Oyama. Você pode assistir a toda a programação no Canal UOL.

"Temos dois candidatos já postos, o Bolsonaro e o Lula, mas eu acredito que se aparecer uma terceira via, que consiga empolgar a população e mostrar que os dois lados estão errados [...], eu acho que tem uma boa chance", disse o jornalista, que é comentarista da Rede Globo.

[Esse possível nome] precisa ser capaz de mostrar que você não pode voltar a um capitalismo de estado, de amigos, assim como você não pode aprovar a tortura, o terror, o fascismo. [...] Mas, como diz o [ex-presidente] Fernando Henrique (PSDB), tem que ter uma cara que represente isso e na qual a população confie. Se não aparecer, paciência!"
Carlos Alberto Sardenberg

Segundo o jornalista, embora os temas econômicos sejam geralmente determinantes nas eleições no país, em 2022 eles terão peso menor. "[Há] uma expectativa de algum crescimento, mas [...] é sobre uma base muito pequena, e a geração de emprego é muito baixa", lembrou.

"Nós vamos ter um número de desempregados muito elevado, [vamos] entrar em 22, mesmo com recuperação, com um grupo muito grande de desempregados, e uma economia que vai, mal e mal, repor o que perdeu-se", explicou. Sardenberg lembrou que as perdas vêm de antes da pandemia, após a recessão no governo Dilma Rousseff (PT). "Depois disso o Brasil vinha crescendo 1% ao ano, são perdas acumuladas durante muito tempo".

Sardenberg contou que tem sido criticado nas redes sociais igualmente por bolsonaristas e pela esquerda, o que o deixa "sossegado". E revelou:

As minhas netas são de esquerda, é claro, mas elas me entendem bastante bem, leem meus artigos e gostam de alguns deles."
Carlos Alberto Sardenberg

Quase filósofo, quase jogador de futebol

Ao longo da conversa com Oyama, Sardenberg detalhou sua trajetória intelectual, que teve início em movimentos estudantis de esquerda, na década de 1960, e o levou, anos mais tarde, a entender o liberalismo como melhor saída que o socialismo, que ele diz ter "fracassado".

Eu passei a pensar que as liberdades individuais, os direitos individuais, os direitos humanos devem ser a base da sociedade e que o único sistema econômico que é capaz de gerar riqueza é o capitalismo."
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

O comentarista, contudo, reconhece nas desigualdades a maior fraqueza do capitalismo. "O verdadeiro debate econômico não é entre capitalismo e socialismo, [mas] como é possível ter uma melhor distribuição de renda dentro do capitalismo, que gera riqueza, não há dúvida, mas gera também desigualdades. A questão é como igualar as oportunidades dentro dos regimes capitalistas", disse.

Ao narrar fatos marcantes de sua vida, Sardenberg contou que cursou a faculdade de Direito e Filosofia da Universidade de São Paulo, e que acabou no jornalismo de forma acidental. "Eu fui procurar emprego e acabei no jornalismo. A minha expectativa era ficar no jornalismo por algum tempo e, [quando] as coisas retomassem, eu voltaria para a faculdade", lembrou. "Quando isso se tornou possível, lá nos anos 1970, eu já estava tão envolvido com o jornalismo que não quis mais voltar."

O comentarista também teve uma passagem pelos campos: "Sempre gostei de futebol, joguei futebol minha vida toda. Brilhei no meio de campo da Associação Atlética Botucatuense, era bom de bola, nunca fui reserva".

Foi por esse motivo, aliás, que o jornalista foi escalado pela direção da revista IstoÉ, que tinha Mino Carta como editor-chefe à época, para cobrir a Seleção na Copa de 1982, na Espanha. A publicação não tinha uma editoria de Esportes, mas tomou a decisão de acompanhar o time, considerado como favorito à época.

"Era tão certo que o Brasil ia ganhar que o Falcão e um jogador da Itália, muito amigo do Falcão, que jogava no mesmo time, no Roma, estavam combinando férias, antes do jogo", lembra Sardenberg. "E o cara dizia pro Falcão 'Bom, depois do jogo eu vou lá pra Grécia e quando terminar o campeonato você vai lá pra me encontrar', tão certo era que o Brasil ia ganhar", conta. A Itália acabaria vencendo o torneio, tornando-se tricampeã e se igualando aos títulos brasileiros à época.

Nessa cobertura, sua única passagem pelo jornalismo esportivo, Sardenberg conta que conheceu o escritor e jornalista peruano Mario Vargas Llosa, que noticiava para um jornal mexicano.

Eu estava na fila pra pegar a credencial no estádio do Real Madrid, olho pro lado, fiquei desconfiado e perguntei pra um colega. 'Escuta, não é o Mario Vargas Llosa?' E a gente foi lá, 'Como vai o senhor?' E ele contou que estava cobrindo para um jornal mexicano."
Carlos Alberto Sardenberg