Em negociações, PP cobra pasta robusta e Republicanos pode desalojar PSB

As entradas de PP e Republicanos no governo Lula (PT) estão fechadas, com nomes já indicados pelos partidos — problema a ser resolvido é quais pastas vão ocupar. Com a pressão pelo Ministério do Desenvolvimento Social, a articulação política tenta organizar o xadrez na Esplanada para encaixar os dois partidos.

O que está em jogo

O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) recebeu hoje os deputados cotados embarcar no governo: André Fufuca (PP-MA), líder do partido na Câmara, e Sílvio Costa Filho, o Silvinho (Republicanos-PE). O objetivo da gestão é tentar rearrumar a Esplanada para conseguir maior estabilidade nas votações do Congresso.

Nas conversas, o PP deixou claro que precisa de uma pasta robusta para conseguir a maioria dos seus quase 50 deputados. Após negativa de entrega do Ministério da Saúde, o partido tem insistido na pasta do Desenvolvimento Social, de Wellington Dias (PT), responsável pelo Bolsa Família.

O Republicanos também negocia o que conseguiria em prol dos seus 41 deputados. O partido queria Esportes, mas ouviu outra negativa de Lula —pelo menos por ora.

As conversas foram para "alinhar expectativas". Com Lula na Europa e o Congresso em recesso, nenhuma decisão deve ser anunciada nos próximos 15 dias.

Há também a possibilidade de um encontro do petista com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para tratar do tema ainda nesta semana.

Como resolver o xadrez

Lula não queria mexer em pastas que considera estratégicas, mas o governo já admite que concessões terão que feitas. No momento, a articulação do governo enfrenta os seguintes impasses:

  1. Cobiça pela pasta do Desenvolvimento Social. Com o Bolsa Família, a "menina dos olhos" de Lula, o MDS é um dos ministérios que ele fazia questão de deixar com o PT, evitando até aliados. Com a insistência do PP, a saída de Dias para um ex-opositor, antes impensável, passa a ser colocada na mesa.
  2. Lula não quer tirar mais mulheres do governo. Após a troca de Daniela Carneiro (União) pelo deputado Celso Sabino (União) no Turismo, o presidente tem pedido que aliados achem outras soluções para que não haja mais baixas de ministras. O Esporte, de Ana Moser, também entra nesta conta.
  3. Quem não tem mandato tem prioridade para ficar. Uma solução, como o UOL já indicou, seria tirar uma das três vagas do PSB, em especial Portos e Aeroportos de Márcio França. O problema é que o ex-governador não tem mandato e conta com força entre a bancada.
  4. "Liberar" o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços)? Uma saída seria deixar Geraldo Alckmin (PSB) só como vice-presidente e "repassar" o ministério para França, liberando Portos para o Republicanos. Isso criaria um problema, no entanto, junto ao empresariado, onde o vice tem livre acesso, bem no melhor momento da relação entre governo e mercado.
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Nenhuma dessas alternativas é vista como ideal pelo Planalto. Lula não gostaria de fazer uma reforma ministerial com menos de um ano de governo, mas, da forma com que a relação com o Congresso se estabeleceu, o governo tem colocado como prioridade não ficar dependente de emendas, como tem acontecido —só pré-votação da reforma tributária foram R$ 7,5 bilhões liberados.

Nas conversas, os partidos afirmam, também por intermédio de Lira, que essas trocas garantiriam os votos necessários para deixar o governo "tranquilo" na Câmara, dado que só PP e Republicanos somam quase cem votos. Aliados de Lula, por outro lado, desconfiam o quanto desses votos estariam realmente garantidos, já que o União Brasil, mesmo com três pastas, tem dado um certo sufoco ao governo em algumas votações.

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