Otan suspende cooperação civil e militar com a Rússia

BRUXELAS, 01 Abr 2014 (AFP) - A Otan suspendeu nesta terça-feira sua cooperação civil e militar com a Rússia, em resposta à intervenção na Ucrânia, mas mantém o diálogo político com Moscou por uma solução para a crise.

Além disso, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, não confirmou o início da retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia, como havia anunciado na véspera o presidente russo, Vladimir Putin.

Esse anúncio oficializa uma decisão tomada em nível de embaixadas em 5 de março.

O secretário-geral não indicou quais seriam os programas de cooperação afetados, mas ressaltou que todos aqueles ligados ao Afeganistão ou à luta contra o tráfico de drogas não sofreriam mudanças.

"Acredito que os projetos de cooperação ligados ao Afeganistão, sobre as rotas de trânsito ou os helicópteros, deverão prosseguir, porque nós temos um interesse comum em garantir o êxito de nossa missão no Afeganistão", afirmou.

A Otan e a Rússia também colaboram, com terceiros, na luta contra a pirataria no Oceano Índico e em programas contra o terrorismo.

Reunidos em torno no americano John Kerry, os chefes da diplomacia quiseram demonstrar firmeza, sem, contudo, "jogar lenha na fogueira", porque "não se pode oferecer pretextos à Rússia para relançar a escalada", resumiu um diplomata.

A Otan também procura tranquilizar os membros mais preocupados com a atitude de Moscou, entre eles Polônia e os países bálticos, que pedem uma presença maior dos aliados.

"Ficaríamos satisfeitos com uma presença mais forte da Otan", declarou o ministro polonês, Radek Sikorski.

A Aliança garante que está pronta para "adotar as medidas necessárias frente a qualquer ameaça de agressão contra seus membros", indicaram os ministros, sem entrar em detalhes sobre questões operacionais.

Por enquanto, a Otan mobilizou aviões radar do tipo AWACS no espaço aéreo da Polônia e da Romênia. Os Estados Unidos enviaram caças F-15 e F-16 à Polônia e aos países bálticos. Ao mesmo tempo, mantêm no Mar Negro o destróier "USS Truxtun".

"Esses meios são suficiente por enquanto", assegurou uma autoridade militar.

Manobras com a Otan

"Não é preciso mobilizar tropas na fronteira com a Rússia", considerou o ministro holandês das Relações Exteriores, Frans Timmermans.

Sobre o anúncio da retirada das tropas russas, Rasmussen indicou: "Infelizmente, não posso confirmar que a Rússia está retirando suas tropas. Não é o que temos visto".

"Este deslocamento militar em massa não pode de forma alguma ser considerado uma queda na tensão, algo que todos queremos que aconteça. Por isso, continuaremos exigindo que a Rússia retire suas tropas e inicie um diálogo construtivo com a Ucrânia", completou Rasmussen.

Os Estados Unidos já haviam recebido com prudência na segunda-feira as afirmações do Ministério russo da Defesa sobre a retirada de um batalhão da fronteira com a Ucrânia.

Na segunda-feira, Putin informou à chanceler alemã, Angela Merkel, que a Rússia estava em um procedimento de retirada parcial das tropas da fronteira com a Ucrânia.

O Ministério russo da Defesa anunciou no mesmo dia que o 15º Batalhão de Infantaria Notorizada do Distrito Militar do Centro havia concluído as manobras na região de Kadamovski, perto da fronteira com a Ucrânia, e retornaria para a base em Samara.

A presença militar russa na fronteira com a Ucrânia despertou o temor de uma invasão do leste do país, com uma grande comunidade de língua russa.

O anúncio de uma retirada será considerado pelos ocidentais um sinal de apaziguamento, após semanas de tensão que culminaram com a anexação da Crimeia à Rússia.

Paralelamente, o Parlamento ucraniano aprovou a realização de manobras militares conjuntas em seu território com os países da Otan, entre maio e outubro.

Os exercícios também acontecerão no Mar Negro, que banha a península da Crimeia, anexada pela Rússia após um referendo organizado pela população local, em sua maioria de origem e língua russa. Grande parte da comunidade internacional considerou o processo ilegal.

A instituição também aprovou o desarmamento dos grupos paramilitares que participaram dos protestos contra o governo e que ainda controlam o centro de Kiev.

A votação aconteceu um dia depois de um tiroteio provocado por um integrante do movimento de ultradireita Pravy Sektor na capital.

Neste contexto, a Rússia continua a fazer pressão econômica sobre a Ucrânia.

A empresa russa Gazprom anulou nesta terça-feira o importante desconto do preço do gás que concedia ao país.

A Gazprom havia concedido em dezembro uma redução no preço do gás fornecido ao governo do então presidente pró-Moscou Viktor Yanukovytch, que foi destituído em fevereiro pelo Parlamento e substituído por um governo pró-Ocidente.

O fim do desconto representa um aumento de mais de um terço no preço do gás, que passará a custar 385,5 dólares os 1.000 metros cúbicos, anunciou o presidente da Gazprom, Alexei Miller.

O aumento, que já era esperado, agrava as perspectivas econômicas da Ucrânia. O país recebeu uma ajuda de 14 a 18 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar uma quebra.

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