Kofi Annan desembarca na Síria e afirma estar horrorizado

DAMASCO, 28 Mai 2012 (AFP) -O emissário da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, desembarcou nesta segunda-feira em Damasco, onde se declarou "horrorizado" pela recente matança de Houla, que coloca em perigo seu plano de paz e foi duramente condenada pelo Conselho de Segurança da ONU.

"É um ato repugnante, de graves consequências", completou Annan, que prevê se reunir com o presidente sírio, Bashar al Assad, representantes da oposição e o general Robert Mood, chefe da missão de observadores na Síria.

O ministro sírio de Relações Exteriores, Walid Muallem, recebeu Kofi Annan e o general Mood na tarde desta segunda-feira, constatou um fotógrafo da AFP.

Segundo a agência oficial Sana, o chanceler sírio explicou a Annan "a verdade sobre o que ocorre na Síria e os ataques contra a ordem que pretendem semear o caos", apesar das "reformas que a Síria está adotando em todos os âmbitos".

No momento em que Annan chegava a Damasco, França e Grã-Bretanha anunciaram a decisão de "atuar juntos para aumentar a pressão da comunidade internacional sobre Bashar al Assad", e confirmaram a próxima realização em Paris da terceira conferência de "Amigos do Povo Sírio".

Por sua vez, a oposição síria pediu aos países que a apoiam a entrega de "meios eficazes" para se defender da repressão do regime, e criticou a ONU.

Chamamos os amigos do povo sírio a "conceder imediatamente e antes que seja demasiado tarde os meios eficazes de auto-defesa", afirma um comunicado do Conselho Nacional Sírio (CNS), que qualifica de "complacente e vergonhosa" a declaração adotada pelo Conselho de Segurança da ONU.

Esta visita de Annan à Síria, a segunda depois de sua designação como emissário, há três meses, ocorre no momento em que o cessar-fogo instaurado no dia 12 de abril como parte de seu plano é mais do nunca ignorado.

No domingo, 87 pessoas foram mortas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), um dos registros mais pesados depois do estabelecimento da trégua.

Nesta segunda-feira, mais 64 pessoas morreram, sendo 36 soldados, 24 civis e quatro desertores.

O OSDH, com sede em Londres, informou que a cidade de Hama, um dos focos dos protestos, foi atacada com foguetes e disparos de metralhadoras. Sete menores e cinco mulheres estão entre as vítimas.

A ofensiva ocorreu no momento em que o Conselho de Segurança da ONU condenava de forma unânime, em Nova York, as autoridades sírias pelo massacre de sexta-feira contra um bairro residencial em Houla, que deixou pelo menos 108 mortos, incluindo mais de 30 crianças.

"A ONU nos mata" Grandes manifestações foram realizadas pelo terceiro dia consecutivo para denunciar o massacre de Houla.

Em Habite, na província de Idleb (noroeste), era possível ler em uma faixa "A ONU nos mata", uma expressão do descontentamento crescente dos militantes com a comunidade internacional, acusada de não agir.

O Conselho de Segurança da ONU condenou as autoridades pelo ataque a Houla, denunciando em uma declaração adotada por unanimidade "uma série de bombardeios efetuados por tanques e pela artilharia das forças do governo contra um bairro residencial".

O Conselho exigiu que Damasco pare imediatamente de utilizar armas pesadas e retire suas forças das cidades, em conformidade com o plano Annan.

Os 15 países membros reafirmaram o seu apoio aos esforços do emissário e o encarregaram de transmitir "nos termos mais claros" suas exigências ao governo sírio.

A Rússia, aliada de Damasco, se juntou aos seus 14 parceiros, antes de considerar que as "duas partes", regime e rebeldes, estavam envolvidas no massacre, citando a presença de pessoas feridas a queima-roupa, além de vítimas de disparos de artilharia.

Moscou, sob pressão crescente para condenar Damasco, evita adotar uma postura mais incisiva contra Assad, acusando alguns países de alimentar a violência, tendo como objetivo derrubar o regime de Damasco.

"Nós não apoiamos o regime sírio, apoiamos o plano de Kofi Annan, mas as potências internacionais têm que atuar no mesmo jogo, que é trabalhar para aplicar o plano de Annan e não para obter uma mudança do regime", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

O presidente francês, François Hollande, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, decidiram "aumentar a pressão" sobre Bashar al-Assad e confirmaram a realização em Paris da terceira conferência dos "Amigos do povo sírio".

"Meios eficazes de autodefesa" O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão da oposição, exigiu aos países que o apoiam que forneçam "meios eficazes de autodefesa" para que enfrente a repressão.

Ele lamentou que o Conselho de Segurança tenha publicado "uma declaração não vinculante no momento em que crianças são massacradas com o total conhecimento do mundo inteiro", denunciando "um ato de complacência vergonhoso".

Damasco negou "totalmente qualquer responsabilidade do governo nesse massacre terrorista".

Teerã e Pequim, que apoiam Damasco, condenaram o massacre, considerando que é preciso identificar os responsáveis, tentando poupar as autoridades.

Uma comissão conjunto Exército-justiça, encarregada por Damasco de investigar a violência, os mais graves desde a entrada em vigor do cessar-fogo, deve divulgar suas conclusões na quarta-feira.

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch exigiu uma investigação da ONU, considerando que "enquanto os combatentes puderem operar com toda a impunidade, os horrores na Síria vão continuar".

Em 14 meses, os episódios de violência deixaram mais de 13.000 mortos, sendo pelo menos 1.881 desde o início da trégua há um mês e meio, segundo o OSDH.

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