Angelina Jolie lidera reunião para combater violência sexual nas guerras

LONDRES, 10 Jun 2014 (AFP) - A atriz Angelina Jolie, que preside a partir desta terça-feira uma reunião internacional sem precedentes para tentar acabar com a violência sexual em tempos de guerra, declarou que deveria se envergonhar de sobreviver a um estupro.

"Temos que enviar uma mensagem a todo o mundo, não há que se envergonhar de ter sobrevivido a um estupro, a vergonha recai sobre o agressor", afirmou Jolie durante a abertura da cúpula.

A estrela de Hollywood, embaixadora da boa vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), afirmou na sexta-feira que este será um encontro "como nenhum outro".

A reunião, que prosseguirá até sexta-feira, é a primeira sobre o tema e também é presidida pelo chanceler britânico William Hague.

O encontro tem delegações de mais de 100 países, de organizações não governamentais, religiosas, analistas militares e jurídicos e membros da sociedade civil.

"Em nosso caminho para a conferência, conversamos (com Hague) sobre as mulheres que encontramos recentemente em um viagem. Em particular uma que não contou ao filho que foi violentada porque se sentia tão humilhada que não podia sequer admitir", disse Jolie.

"Sentia que, sem justiça para este crime particular, em sua situação particular, e vendo o homem que a estuprou caminhando livre pela rua, se sentia abandonada pelo mundo", narrou a atriz americana.

"Este dia é dedicado a ela", concluiu Jolie.

"Oremos por todas as vítimas da violência sexual nos conflitos e por aqueles trabalhando para acabar com este crime", escreveu o papa Francisco no Twitter.

Quarenta e oito ministros das Relações Exteriores estarão no evento, assim como vítimas, testemunhas e outras figuras que lutam contra a violência, como o ginecologista congolês Denis Mukwege, que atende mulheres estupradas na República Democrática do Congo (RDC).

Além das reuniões oficiais, o encontro propõe um programa aberto ao público com oficinas, conferências, exposições e filmes para sensibilizar a todos sobre um problema que geralmente passa despercebido entre os horrores da guerra.

Os números são aterrorizantes. Segundo a ONU, 36 mulheres e crianças são estupradas diariamente na RDC, onde mostram que mais de 200.000 mulheres foram vítimas de violência sexual desde 1998.

Entre 250.000 e 500.000 mulheres foram violentadas no genocídio de Ruanda em 1994. Mais de 60.000 no conflito de Serra Leoa. E pelo menos 20.000 na guerra da Bósnia nos anos 1990.

Angelina Jolie e William Hague receberão na sexta-feira o secretário de Estado americano John Kerry, que trava contra este problema "um combate pessoal", segundo suas palavras.

Kerry e Hague assinaram em fevereiro um artigo no qual afirmaram: "Vimos o horror. A questão agora é saber se podemos unir ações e energia para impedir".

"Muitos lugares que visitei como secretário de Estado ainda têm as cicatrizes de um tempo o qual o estupro foi usado como tática de opressão e intimidação", insistiu Kerry em um artigo publicado na segunda-feira no jornal britânico Evening Standard.

Kerry afirmou que os estupros durante guerras devem ser considerados "um crime internacional maior e não apenas uma consequência inevitável de qualquer conflito".

Melhorar os sistemas judiciais, formar os militares e apoiar as vítimas são outros aspectos que serão abordados.

Na quinta-feira acontecerá uma reunião dedicada exclusivamente ao sequestro de mais de 200 adolescentes nigerianas pelo grupo islamita Boko Haram. William Hague receberá o colega nigeriano e representantes dos países vizinhos - Camarões, Chade, Níger e Benin - para discutir os meios de derrotar a organização.

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