Protestos se alastram por todo o Brasil

RIO DE JANEIRO, 21 Jun 2013 (AFP) - Ao menos 1 milhão de brasileiros saíram às ruas de mais de cem cidades do país para exigir serviços públicos de qualidade e denunciar os gastos com a Copa do Mundo, apesar da redução das tarifas de transporte público obtida nos últimos dias.

No Rio de Janeiro, uma enorme multidão tomou conta de toda a extensão da Avenida Presidente Vargas, no centro da cidade, em um protesto que reuniu mais de 300 mil pessoas, segundo avaliação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Confrontos foram registrados entre manifestantes e policiais, alguns a cavalo, nas imediações do prédio da Prefeitura. Um jornalista da Globonews foi ferido na cabeça por uma bala de borracha.

Um veículo do SBT foi incendiado por manifestantes e segundo a secretaria municipal da Saúde, 33 pessoas ficaram feridas nos confrontos em torno da sede da prefeitura, na Cidade Nova.

Em Brasília, o protesto reuniu mais de 30 mil pessoas e no início da noite milhares de manifestantes tentaram invadir o Congresso Nacional, sendo reprimidos pela Polícia de Choque, que utilizou bombas de gás lacrimogêneo.

A multidão seguiu então para o Palácio do Itamaraty, onde tentou entrar no prédio por uma das rampas de acesso, provocando um confronto que destruiu parte da fachada do prédio.

Em Salvador, a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra cerca de 20 mil manifestantes concentrados na zona do estádio onde Nigéria e Uruguai se enfrentavam pela Copa das Confederações. Algumas pessoas jogaram pedras para tentar furar a barreira policial e se aproximar mais da Fonte Nova, segundo jornalistas da AFP no local.

Pelo menos um manifestante ficou ferido atingido por um disparo de bala de borracha nos confrontos, que também deixaram um policial ferido.

Milhares de pessoas gritaram "O gigante acordou!" e entoaram lemas contra a presidente Dilma Rousseff, contra a homofobia e o racismo.

Em São Paulo, o protesto reuniu mais de 100 mil pessoas na Avenida Paulista, onde houve brigas entre manifestantes quando um grupo denominado "Os Nacionalistas" tomou bandeiras do PT e do PSTU das mãos de militantes, queimando-as em seguida.

Membros da UNE, do PSOL e de outras organizações também foram hostilizados na capital paulista.

Também ocorreram distúrbios em Porto Alegre, onde 15 mil pessoas protestaram, e em Belém, 13 mil.

Em Campinas, no interior de São Paulo, a TV local informou sete feridos em incidentes em torno da prefeitura.

No Recife, outra sede da Copa Confederações, mais de 50.000 pessoas tomaram as ruas, segundo a Polícia. À medida que a multidão avançava pacificamente pelo centro da cidade, as pessoas jogavam papel branco picado do alto dos edifícios.

Em Vitória, outra manifestação reuniu mais de 100 mil pessoas no centro da cidade, e um pequeno grupo atacou com rojões o prédio do Tribunal de Justiça.

Os protestos também mobilizaram 15 mil pessoas em Belo Horizonte, 30 mil em Cuiabá, 20 mil em Aracaju, 70 mil em Manaus, 10 mil em João Pessoa, 8 mil em Fortaleza e 4 mil em Curitiba.

Nada permite prever o fim deste movimento apolítico, sem uma liderança claramente identificada.

Nesta quinta, alguns sindicatos, organizações da sociedade civil e partidos políticos - incluindo o PT - declararam sua intenção de participar das passeatas, mas muitos de seus membros foram repelidos por outros manifestantes.



-- Indignação geral --



Os protestos, que deixaram a classe política brasileira perplexa, começaram exigindo a revogação do aumento do preço das passagens de ônibus, metrô e trem, mas rapidamente outras reivindicações e denúncias foram feitas, como os 15 bilhões de dólares dos contribuintes destinados à Copa das Confederações e ao Mundial de 2014.

Os manifestantes, em sua maioria jovens de classe média, expressam sua indignação pelo aumento do custo de vida e pela má qualidade dos serviços públicos, no momento em que o país registra um crescimento econômico decepcionante e uma inflação em alta.

Também denunciam a corrupção arraigada na política brasileira e exigem maiores investimentos em educação, saúde e segurança.

Estes são os maiores protestos na história do Brasil.

Nem a desistência de mais de dez prefeituras e governos estaduais em aumentar os preços das passagens de metrô, trem e ônibus serviu para reduzir o entusiasmo dos manifestantes.

As cidades de Belo Horizonte e Campo Grande comunicaram planos para baixar o preço do transporte público, seguindo os passos de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Cuiabá, Recife e João Pessoa.

O lema dos protestos passou a ser "Não é só por vinte centavos", em referência ao aumento do preço da passagem de ônibus anulado, e fóruns relacionados aos movimentos nas redes sociais tinham até um milhão de seguidores.

Em Washington, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou nesta quinta-feira sua preocupação com a violência das forças de ordem contra manifestantes e jornalistas.

"A Comissão pede às autoridades que investiguem o possível uso excessivo da força, e se for o caso, que julguem e punam os responsáveis", destaca um comunicado.

O Estado brasileiro "deve garantir e proteger a integridade física e a segurança de manifestantes e jornalistas".



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