Exército convoca diálogo no Egito em meio a manifestações nas ruas

CAIRO, 11 dez 2012 (AFP) - Milhares de opositores ao presidente egípcio Mohamed Mursi protestaram nesta terça-feira diante de seu palácio, a alguns quilômetros de uma manifestação de militantes favoráveis ao chefe do Estado, em um clima de forte tensão que levou o Exército a convocar uma reunião para quarta-feira.

O ministro da Defesa e comandante das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Sissi, convocou "os parceiros da pátria", incluindo o presidente islamita, seu governo e as forças políticas de todos os campos.

Esta iniciativa marca um retorno ao primeiro plano da instituição militar para tentar tirar o país de sua mais grave crise desde a eleição de Mursi, primeiro presidente civil do Egito, em junho.

À tarde, milhares de manifestantes contrários à realização no sábado de um referendo constitucional conseguiram transpor uma barreira de blocos de cimento e barras de metal, erguida para proteger o complexo presidencial em Heliópolis, subúrbio do Cairo.

Eles também penetraram no perímetro de segurança do palácio do presidente, em torno do prédio protegido por muros de mais de quatro metros de altura, soldados e tanques.

"As pessoas que se sacrificaram para se livrar de uma ditadura laica vão ficar com uma ditadura islamita, e isso é pior", disse Miral Brinjy, uma manifestante de cerca de vinte anos.

Impulsionada pela Frente de Salvação Nacional (FSN), a oposição protestava também na Praça Tahrir, grande palco da contestação no centro da capital.

A FSN, que reúne partidos e grupos de tendência majoritariamente liberal e de esquerda, rejeitou o referendo de sábado e o projeto de Constituição que deve ser submetido a votação, por considerar que o texto abre caminho para uma islamização mais ampla da legislação e que não oferece garantias para as liberdades.

Diante disso, o campo islamita, que apoia Mursi, estava reunido em Nasr City, a alguns quillômetros do palácio presidencial. Dezenas de milhares de pessoas se manifestaram perto da mesquita Rabaa, segundo um jornalista da AFP.



Pedido de empréstimo ao FMI adiado

"Estou aqui para apoiar a Constituição e a estabilidade que ela nos oferece", afirmou Ahmed Hassan, que se disse favorável à "lei islâmica".

Confrontos entre opositores e partidários de Mursi deixaram 7 mortos e centenas de feridos na noite de 5 para 6 de dezembro nas imediações da Presidência.

No início da manhã desta terça, onze pessoas ficaram feridas quando homens armados abriram fogo com balas de festim e jogaram coquetéis Molotov em manifestantes na Praça Tahrir, segundo o Ministério da Saúde.

Mursi concedeu na segunda-feira poderes policiais ao Exército, incluindo o direito de prender civis, até o anúncio no sábado do resultado do referendo constitucional.

Com este decreto, o Exército tem a autoridade para prender civis, uma prerrogativa muito criticada durante o período em que os militares governaram o país após a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, e até a eleição de Mursi, em junho de 2012.

Organizações de defesa dos direito humanos como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch denunciaram o risco de violações dos direitos humanos como as que marcaram o período em que o Exército mantinha o poder durante a transição.

O influente Exército egípcio vinha se mantendo discreto desde que seu chefe, o marechal Hussein Tantawi, teve determinada a sua reforma.

A crise apenas agrava a incerteza que pesa sobre a economia egípcia. Nesta terça, o governo do país decidiu adiar seu pedido de ajuda de 4,8 bilhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em razão do contexto conturbado.

"Pedimos oficialmente o adiamento de um mês das negociações com o FMI, em razão da situação política no país", declarou o primeiro-ministro Hicham Qandil.

Em Washington, o FMI indicou que está preparado para apoiar o Egito.

As autoridades do Cairo e as equipes do FMI haviam chegado a um acordo no final de novembro sobre este plano de ajuda que ainda deveria ser aprovado pelo conselho de administração do Fundo até o final do ano.

AFP/dm



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