Deputada destituída é impedida de entrar no Parlamento da Venezuela

CARACAS, 01 Abr 2014 (AFP) - Em um desafio ao chavismo, a deputada opositora venezuelana María Corina Machado foi nesta terça-feira à sede do Parlamento em Caracas, mas foi impedida de entrar, depois de o Supremo Tribunal de Justiça ter ratificado sua destituição.

"Não desistimos, nos fizeram mais fortes, nos deram mais razões para lutar!", declarou Machado aos oficiais que impediram seu acesso, constatou um jornalista da AFP.

Pouco antes, após um ato numa praça do leste de Caracas, Machado, vários deputados e centenas de simpatizantes tentaram chegar até a sede do legislativo, mas foram dispersados por uma barreira formada pelas forças de segurança, que lançaram mão de bombas de gás lacrimogêneo.

"Com esta ação [a destituição] a República foi desmantelada", garantiu a deputada, um dos rostos mais conhecidos do setor radical da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), que conta com um terço dos 165 deputados do congresso venezuelano.

Com uma bandeira do país no pescoço e uma rosa branca na mão, Machado chegou ao centro a bordo de uma motocicleta e tentou entrar no Congresso com outros colegas opositores. Cerca de vinte chavistas gritaram "traidora da pátria" e "assassina", e jogaram objetos em sua direção.

Novos distúrbios foram registrados no distrito opositor de Chacao no início da noite desta terça-feira, quando centenas de manifestantes radicais entraram em confronto com as forças de segurança. Pelo menos cinco pessoas foram presas e um incêndio em instalações do ministério da Habitação foi registrado pela equipe da AFP.

- "Já não é deputada" - Machado, uma engenheira de 46 anos que recebeu uma das maiores votações nas eleições legislativas de 2010, foi à Assembleia Nacional mesmo após o recado dado pelo presidente da Casa, Diosdado Cabello, na segunda-feira. "Ela não vai entrar. Não é mais deputada", advertiu o número dois do governo.

Cabello e a maioria chavista do parlamento acusam a deputada opositora de promover a violência durante a onda de manifestações contra o presidente Nicolás Maduro, que em quase dois meses já deixou 39 mortos e mais de 550 feridos.

Machado é acusada de ter atuado como representante alternativa do governo do Panamá em uma reunião da OEA, violando a Constituição.

A Anistia Internacional (AI) advertiu nesta terça-feira contra "uma espiral de violência" na Venezuela.

"Ou os direitos humanos são colocados no topo da agenda política na Venezuela, ou a Venezuela corre o risco de entrar em uma espiral de violência", afirmou Esteban Beltrán, diretor da unidade espanhola da AI.

Se a tendência não for revertida, o país enfrentará um "número maior de abusos e violações dos direitos humanos", como violência policial, perseguição a jornalistas ou detenções arbitrárias, afirma o relatório "Venezuela: os direitos humanos em risco em meio aos protestos".

A deputada, que vai a Brasília participar de uma audiência no Senado brasileiro nesta quarta-feira, disse que apresentará "um recurso de amparo nos próximos dias ao Supremo Tribunal" venezuelano - garantiu seu porta-voz à AFP.

- "A saída" - Machado e o líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, preso há mais de um mês em um quartel militar, são os responsáveis pela estratégia "A Saída". O movimento consistia em ocupar as ruas para exigir a saída do presidente Nicolás Maduro.

Sem sua imunidade parlamentar, Machado também corre o risco de ser detida.

Também foram presos os opositores Enzo Scarano e Daniel Ceballos. Scarano foi deposto do cargo de prefeito de San Diego e condenado a dez meses de prisão, enquanto Ceballos foi tirado do comando da administração da cidade de San Cristóbal e sentenciado a um ano de prisão. Os dois são acusados de não impedir a violência nas manifestações.

Os protestos - iniciados contra a insegurança, a situação econômica e a escassez de produtos - perderam intensidade nas últimas semanas, mas ainda há focos de violência em Caracas e San Cristóbal.

O governo venezuelano aceitou, na semana passada, a designação de um mediador internacional para facilitar um diálogo com a oposição, mas continua considerando as manifestações como uma tentativa de golpe de Estado.

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