Massacre expõe ambiguidade da política externa dos EUA para o Egito
WASHINGTON, 14 Ago 2013 (AFP) - O banho de sangue no Egito coloca a diplomacia americana na berlinda, expondo as contradições de um governo que apoiou o golpe de Estado contra Mohamed Mursi, ao mesmo tempo em que pede o retorno da democracia.
Diante da crise de seu aliado egípcio, os Estados Unidos se encontram agora em uma delicada situação após a deflagração da chamada Primavera Árabe e a queda de Hosni Mubarak, no início de 2011.
Para analistas, o governo americano está há dois anos e meio entre a Irmandade Muçulmana, do presidente Mursi, e os "anti-islamitas liberais", que apoiaram o Exército. Mursi foi eleito democraticamente em 2012 e acabou destituído do poder e preso pelo Exército em julho.
Depois de um mês de instabilidade e de manifestações constantes, as forças da ordem evacuaram duas praças, nesta quarta, onde partidários de Mursi estavam acampados. Pelo menos 278 pessoas foram mortas. Em seguida, o governo decretou estado de emergência por um mês e toque de recolher.
Enquanto a comunidade internacional condenou o massacre nos termos mais duros, os Estados Unidos demoraram a reagir, dando sinais da delicada posição em que se encontra o governo Barack Obama.
O secretário de Estado John Kerry disse hoje que "os acontecimentos de hoje são deploráveis e vão contra as aspirações egípcias de paz, inclusão e genuína democracia".
"O governo interino e os militares - que juntos possuem a prerrogativa do poder nessa confrontação - têm a única responsabilidade de evitar mais violência e oferecer opções construtivas para um processo pacífico e inclusivo em todo o espectro político", completou.
"Isso inclui fazer emendas na Constituição e apoiar eleições parlamentares e presidenciais, convocadas pelo próprio governo interino", insistiu Kerry.
Já a Casa Branca condenou "fortemente o uso da violência contra os manifestantes no Egito" e fez um apelo a todas as partes para que "evitem usar a violência e que resolvam suas diferenças pacificamente".
Além disso, exigiu do governo interino que "respeite os direitos humanos básicos, omo a liberdade de associação pacífica", segundo a declaração divulgada pelo porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.
Oficialmente, Washington diz não tomar partido na crise egípcio.
"Os Estados Unidos estão em uma situação extremamente delicada, porque têm muito pouca influência no que está acontecendo no país", explicou à AFP Hussein Ibish, especialista em mundo árabe e pesquisador da American Task Force on Palestine, uma organização situada em Washington.
-- Ajuda militar milionária --
Por 30 anos aliado do regime autoritário e pró-Ocidente de Mubarak, os Estados Unidos vivem há dois anos e meio um dilema: Como apoiar as aspirações democráticas de uma parte dos egípcios e, ao mesmo tempo, continuar ligado a um de seus principais parceiros no mundo árabe.
Para Ibish, "os americanos estão bloqueados (...) entre a Irmandade Muçulmana e os anti-islamitas", entre "duas concepções opostas à democracia" no Egito.
O analista avalia que os Estados Unidos "têm a sensação de que não têm aliados naturais" - nem do lado dos militares, nem do lado da Irmandade.
Na Era Mursi, Washington se encontrou em um terreno ambíguo, trabalhando com o regime islamita do "novo Egito" e defendendo a democratização e o desenvolvimento econômico do país.
Em março passado, Kerry "deixou" para o governo um cheque de US$ 250 milhões em termos de ajuda orçamentária. Kerry também renovou o apoio às Forças Armadas e desbloqueou em maio US$ 1,5 bilhão de dólares que o Egito recebe todo ano, transformando o Exército egípcio no segundo receptor de ajuda americana, depois de Israel. A entrega de quatro caças F-16 já foi adiada.
O chefe da diplomacia americana chegou a manifestar, posteriormente, sua preocupação com o caráter autoritário que estava sendo adotado pelo governo Mursi. Ao mesmo tempo, soava com cada vez mais força em Washington a possibilidade de uma intervenção militar no Egito.
De fato, no início de agosto, Kerry pareceu apoiar a queda de Mursi, afirmando que o Exército interveio para "restabelecer a democracia" diante da demanda de "milhões e milhões de pessoas". Depois, o secretário recuou, fazendo um apelo pela recuperação da democracia com a realização de eleições.
O governo americano evita com muito cuidado empregar o termo "golpe de Estado" para manter o envio de US$ 1,3 bilhão de ajuda militar. A legislação americana determina que toda e qualquer ajuda deve ser suspensa de um governo civil for derrubado pelo Exército.
Diante do Senado, em abril, Kerry elogiou o papel decisivo dos altos comandos militares egípcios para evitar uma guerra civil após a queda de Mubarak. Também defendeu que a ajuda militar destinada ao Cairo foi "o melhor investimento que os Estados Unidos fizeram na região".
"Uma das características mais espantosas do golpe de Estado egípcio (...) é essa concepção universal que os liberais desse país adotaram, que preferem um regime militar a um regime islamita eleito", criticou o especialista James Traun em seu blog, na revista "Foreign Policy".
nr-tq/tt/dm
Diante da crise de seu aliado egípcio, os Estados Unidos se encontram agora em uma delicada situação após a deflagração da chamada Primavera Árabe e a queda de Hosni Mubarak, no início de 2011.
Para analistas, o governo americano está há dois anos e meio entre a Irmandade Muçulmana, do presidente Mursi, e os "anti-islamitas liberais", que apoiaram o Exército. Mursi foi eleito democraticamente em 2012 e acabou destituído do poder e preso pelo Exército em julho.
Depois de um mês de instabilidade e de manifestações constantes, as forças da ordem evacuaram duas praças, nesta quarta, onde partidários de Mursi estavam acampados. Pelo menos 278 pessoas foram mortas. Em seguida, o governo decretou estado de emergência por um mês e toque de recolher.
Enquanto a comunidade internacional condenou o massacre nos termos mais duros, os Estados Unidos demoraram a reagir, dando sinais da delicada posição em que se encontra o governo Barack Obama.
O secretário de Estado John Kerry disse hoje que "os acontecimentos de hoje são deploráveis e vão contra as aspirações egípcias de paz, inclusão e genuína democracia".
"O governo interino e os militares - que juntos possuem a prerrogativa do poder nessa confrontação - têm a única responsabilidade de evitar mais violência e oferecer opções construtivas para um processo pacífico e inclusivo em todo o espectro político", completou.
"Isso inclui fazer emendas na Constituição e apoiar eleições parlamentares e presidenciais, convocadas pelo próprio governo interino", insistiu Kerry.
Já a Casa Branca condenou "fortemente o uso da violência contra os manifestantes no Egito" e fez um apelo a todas as partes para que "evitem usar a violência e que resolvam suas diferenças pacificamente".
Além disso, exigiu do governo interino que "respeite os direitos humanos básicos, omo a liberdade de associação pacífica", segundo a declaração divulgada pelo porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.
Oficialmente, Washington diz não tomar partido na crise egípcio.
"Os Estados Unidos estão em uma situação extremamente delicada, porque têm muito pouca influência no que está acontecendo no país", explicou à AFP Hussein Ibish, especialista em mundo árabe e pesquisador da American Task Force on Palestine, uma organização situada em Washington.
-- Ajuda militar milionária --
Por 30 anos aliado do regime autoritário e pró-Ocidente de Mubarak, os Estados Unidos vivem há dois anos e meio um dilema: Como apoiar as aspirações democráticas de uma parte dos egípcios e, ao mesmo tempo, continuar ligado a um de seus principais parceiros no mundo árabe.
Para Ibish, "os americanos estão bloqueados (...) entre a Irmandade Muçulmana e os anti-islamitas", entre "duas concepções opostas à democracia" no Egito.
O analista avalia que os Estados Unidos "têm a sensação de que não têm aliados naturais" - nem do lado dos militares, nem do lado da Irmandade.
Na Era Mursi, Washington se encontrou em um terreno ambíguo, trabalhando com o regime islamita do "novo Egito" e defendendo a democratização e o desenvolvimento econômico do país.
Em março passado, Kerry "deixou" para o governo um cheque de US$ 250 milhões em termos de ajuda orçamentária. Kerry também renovou o apoio às Forças Armadas e desbloqueou em maio US$ 1,5 bilhão de dólares que o Egito recebe todo ano, transformando o Exército egípcio no segundo receptor de ajuda americana, depois de Israel. A entrega de quatro caças F-16 já foi adiada.
O chefe da diplomacia americana chegou a manifestar, posteriormente, sua preocupação com o caráter autoritário que estava sendo adotado pelo governo Mursi. Ao mesmo tempo, soava com cada vez mais força em Washington a possibilidade de uma intervenção militar no Egito.
De fato, no início de agosto, Kerry pareceu apoiar a queda de Mursi, afirmando que o Exército interveio para "restabelecer a democracia" diante da demanda de "milhões e milhões de pessoas". Depois, o secretário recuou, fazendo um apelo pela recuperação da democracia com a realização de eleições.
O governo americano evita com muito cuidado empregar o termo "golpe de Estado" para manter o envio de US$ 1,3 bilhão de ajuda militar. A legislação americana determina que toda e qualquer ajuda deve ser suspensa de um governo civil for derrubado pelo Exército.
Diante do Senado, em abril, Kerry elogiou o papel decisivo dos altos comandos militares egípcios para evitar uma guerra civil após a queda de Mubarak. Também defendeu que a ajuda militar destinada ao Cairo foi "o melhor investimento que os Estados Unidos fizeram na região".
"Uma das características mais espantosas do golpe de Estado egípcio (...) é essa concepção universal que os liberais desse país adotaram, que preferem um regime militar a um regime islamita eleito", criticou o especialista James Traun em seu blog, na revista "Foreign Policy".
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