Kerry reitera apoio dos EUA ao Egito em primeira visita desde a destituição de Mursi


CAIRO, 03 Nov 2013 (AFP) - O secretário de Estado americano John Kerry assegurou neste domingo no Cairo que seu país continuará a trabalhar com as autoridades egípcias, em sua primeira visita ao país após a destituição há quatro meses do presidente islamita Mohamed Mursi pelo Exército.

Kerry chegou no Cairo ao meio-dia, na véspera do julgamento do chefe de Estado, com o objetivo de fortalecer os laços entre Washington e Egito, aliados de longa data, mas em crise desde o golpe contra o primeiro presidente democraticamente eleito e a repressão a seus partidários.

"Nos comprometemos a trabalhar em conjunto e continuar nossa cooperação com o governo interino", declarou Kerry a jornalistas, pedindo às autoridades "eleições livres, juntas e com a participação de todos".

"Temos muitas questões a serem discutidas e o ministro (das Relações Exteriores Nabil) Fahmy e eu conversamos esta manhã sobre os desafios que teremos pela frente", acrescentou.

Kerry afirmou ainda que "os Estados Unidos são amigos dos egípcios e do Egito, e somos parceiros".

Desde o golpe militar, Washington congelou parcialmente a sua ajuda, exacerbando a "fase crítica" em suas relações bilaterais, segundo a diplomacia egípcia.

Os Estados Unidos apoiaram durante três décadas a presidência do predecessor de Mursi - Hosni Mubarak, derrubado por uma revolta popular no início de 2011 - fazendo do país árabe mais populoso seu grande aliado para tentar manter a estabilidade na região.

Em 10 de outubro, os Estados Unidos "recalibraram" a ajuda de US$ 1,5 bilhão - sendo US$ 1,3 bilhão em ajuda militar - em represália à sangrenta repressão aos partidários do presidente islâmico Mohamed Mursi, deposto pelo Exército em 3 de julho.

Os Estados Unidos não chegaram a classificar a derrubada de Mursi como "golpe de Estado" - o que teria obrigado o governo americano a pôr fim à ajuda por lei -, mas condenaram uma repressão "lamentável", exigindo o fim do estado de emergência e eleições democráticas em 2014.

Insatisfeito com esta posição, o Egito afirmou por sua vez seu desejo de "expandir (suas) opções" em favor dos interesses nacionais", segundo o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Badr Abdelaty.

Kerry deve reunir-se durante o dia com o presidente interino Adly Mansur e com novo líder do país, o chefe do Exército, o general Abdel Fattah al-Sissi, em sua primeira etapa de um longo giro pelo Oriente Médio e Golfo.

As discussões vão se concentrar na transição política prometida pelos militares após o golpe e seus avanços, a fim de determinar quando "será possível retirar o congelamento (da entrega) de alguns equipamentos", segundo um funcionário do Departamento de Estado.

Kerry também deve pedir para que esta transição seja "viável", "democrática" e que inclua "todas as partes", enquanto as autoridades continuam com sua repressão sangrenta à Irmandade Muçulmana, confraria à qual Mursi pertence.

Milhares de partidários de Mursi morreram na repressão e mais de 2.000 islamitas foram presos, entre eles quase toda a direção da Irmandade Muçulmana.

Mursi responderá a partir de segunda-feira, e junto a outros 14 coacusados, por "incitação ao assassinato" de manifestantes ante o palácio presidencial em 5 de dezembro de 2012.

Kerry, que deve passar apenas seis horas no Cairo, também deve encontrar membros da sociedade civil e discutir as preocupações dos defensores dos direitos Humanos.

O roteiro de transição apresentado pelos militares após o golpe prevê um referendo sobre uma nova Constituição, a ser elaborada, e eleições parlamentares e presidenciais em meados de 2014.

Mas, na véspera do julgamento de Mursi, algumas autoridades egípcias evocam pedidos adicionais do governo americano.

O Cairo é a primeira etapa de um giro de 12 dias que deve levar Kerry à Arábia Saudita, Israel, aos Territórios Palestinos, à Jordânia, aos Emirados Árabes Unidos, à Argélia e ao Marrocos.

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