Crise na Venezuela divide países da América Latina

CARACAS, 21 Fev 2014 (AFP) - A crise venezuelana gerou diferentes reações na América Latina, com Bolívia, Equador, Argentina e Cuba, encerrando fileiras com Nicolás Maduro; outros, como Brasil e Uruguai, pedindo respeito pelas liberdades; e Colômbia, Chile e Panamá irritando Caracas.

Em duras declarações, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, condenou na quarta-feira a "inaceitável" violência durante as manifestações e pediu ao governo que liberte os detidos. Pouco antes, o governo Maduro havia expulsado três diplomatas americanos de Caracas.

Entre os aliados, a Argentina manifestou seu "firme apoio" ao governo de Maduro. Em nota, a Chancelaria argentina denunciou "as evidentes tentativas de desestabilização". Também convocou os países da região a reafirmarem uma "solidariedade ativa e de defesa comum" frente a "grupos" que buscam, segundo a Argentina, "impor seus interesses setoriais e suplantar governos legítimos surgidos da vontade popular".

O presidente nicaraguense, Daniel Ortega, acusou setores extremistas dos Estados Unidos de estarem "conspirando" para tentar "derrubar" o governo de Maduro e desestabilizar a região.

Na mesma linha, o boliviano Evo Morales classificou os protestos de "aventura golpista", com as mãos dos Estados Unidos por trás. Já o equatoriano Rafael Correa acusou a "direita fascista" de cometer os distúrbios.

Cuba condenou o que considerou "tentativas em desenvolvimento de um golpe de Estado" e expressou seu "pleno apoio" a Maduro.



- Diálogo político - A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) pediu à Venezuela que propicie um diálogo com as forças políticas. Esse mesmo pedido foi feito pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e pela Organização de Estados Americanos (OEA). Essas instituições rejeitaram a violência e os distúrbios registrados nos protestos estudantis.

O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, apelou para "a responsabilidade do governo de evitar o uso da força por parte da polícia, ou grupos afins", e à oposição, "que se manifeste pacificamente, evitando provocações". Alertou ainda para a "urgência" de um diálogo político.

Diálogo também foi pedido por Brasil e Uruguai, ambos com boas relações com a Venezuela.

O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, disse que o Brasil "segue com atenção" a situação na Venezuela e mostrou sua esperança de "uma convergência dentro de um respeito à institucionalidade, à democracia" e sem conflitos.

O Uruguai deu um passo além e destacou seu "mais firme apoio e solidariedade" ao governo venezuelano. O governo liderado por José Mujica ressaltou, porém, que defende "fervorosamente" a liberdade de expressão.

Já as posturas de Panamá, Colômbia e Chile não caíram bem para Maduro.

As declarações do chanceler panamenho, Francisco Álvarez De Soto, que defendeu um diálogo para resolver o conflito, custaram uma chamada para consultas da embaixadora venezuelana no Panamá, acusada de ingerência por Maduro. A Chancelaria também havia pedido respeito dos direitos humanos na Venezuela, após várias denúncias da repressão excessiva aos estudantes.

O maior confronto foi com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos. Depois de pedir que "se respeitem e se fortaleçam os princípios democráticos" e o diálogo entre governo e oposição, Santos deflagrou a ira do presidente venezuelano, que considerou suas palavras como uma ingerência nos assuntos domésticos.

"Já chega, cacete! Já chega de se meterem nos assuntos internos da nossa Pátria! Os problemas dos venezuelanos devem ser resolvidos pelos venezuelanos", afirmou Maduro.

O presidente Sebastián Piñera disse que o Chile "respeita a autodeterminação dos povos", mas convocou a Venezuela a respeitar e a promover os direitos humanos e "as liberdades fundamentais como a livre expressão, a informação, a opinião e a manifestação". Por esse motivo, também foi acusado de ingerência por Maduro.

Nesta quinta, o peruano Ollanta Humala solicitou às forças políticas que ajam com calma e dialoguem para resolver suas diferenças para que a democracia "prevaleça". Sua mulher, Nadine Herdia, presidente do governista Partido Nacionalista, pediu o diálogo, porque "não podemos tapar o sol com a peneira".

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