Kerry: qualquer movimento militar russo na Ucrânia será 'grave erro'

WASHINGTON, 27 Fev 2014 (AFP) - O secretário de Estado americano, John Kerry, alertou nesta quarta-feira que qualquer intervenção militar da Rússia na Ucrânia seria "um grave erro", mas não antecipou como Washington reagiria nesse cenário.

"Qualquer tipo de intervenção militar que viole a soberania, a integridade territorial de Ucrânia, será um grave erro", disse o chefe da diplomacia americana a jornalistas em seu gabinete no departamento de Estado.

Kerry descartou, porém, que essa declaração se apoie em uma visão herdada da Guerra Fria, período marcado pelo confronto permanente com o gigante soviético.

"Muita gente está tentando ver e definir isso no contexto da Guerra Fria, dos velhos confrontos. Quero destacar que isso não é 'Rocky 4'", declarou, referindo-se ao famoso filme, no qual o lutador americano enfrenta o soviético Ivan Drago.

"Isso não é um jogo de soma zero", reafirmou.

De acordo com o chefe da diplomacia americana, essa visão é coerente apenas com a posição defendida pela Rússia em outros cenários.

"Para um país que falou de forma tão eloquente e tão forte no último ano contra qualquer intervenção estrangeira na Síria, é importante que atendam a essas advertências enquanto pensam nas opções para a nação soberana da Ucrânia", afirmou.

Para Kerry, a prioridade dos novos líderes ucranianos deveria ser formar um novo governo de unidade. Em apoio a esse processo, Washington oferece garantias para um empréstimo de US$ 1 bilhão. Além disso, os EUA consideram a possibilidade de uma assistência direta ao novo governo de Kiev.

"A prioridade número um é formar um novo governo, tão rápido quando for possível e com uma coalizão tão ampla quanto for possível construir. A prioridade número dois são as reformas (...), e a número três é o Fundo Monetário Internacional (FMI)", defendeu.

Durante o dia, um porta-voz da Casa Branca fez um apelo para que "atores externos" evitem qualquer ação, ou retórica de provocação na Ucrânia, depois que a Rússia anunciou um reforço das medidas de segurança na Crimeia (sul).

"Convocamos os atores externos na região a respeitar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia" e a "evitar ações e retórica de provocação", disse o porta-voz Josh Earnest, a bordo do avião Air Force One.

Earnest também pediu a esses "atores externos" que "recorram a sua influência para apoiar a unidade, a paz e um caminho para o futuro".

O presidente russo, Vladimir Putin, colocou nesta quarta-feira de "prontidão" suas tropas nos distritos militares do oeste e do centro, segundo o ministro da Defesa, Sergei Shoigu.

Shoigu também anunciou o reforço da proteção da frota russa do Mar Negro, que tem sua base no porto de Sebastopol, na Crimeia, república autônoma da Ucrânia.

"O comandante-em-chefe colocou as forças armadas de prontidão para lidar com situações de crise que representem uma ameaça para a segurança militar do país".

As divisões do distrito militar do oeste - um vasto território que faz fronteira com a Ucrânia, Belarus, Estados Bálticos, Finlândia e Ártico - assim como as forças do distrito militar do centro, o comando de defesa espacial e as tropas aeroportuárias foram "colocadas de prontidão às 14h00" (08h00 no horário de Brasília), indicou.

O estado de alerta deve durar até 3 de março, e envolverá 150.000 soldados, segundo um vice-ministro da Defesa.

Shoigu assegurou que a prontidão "não está ligada aos eventos na Ucrânia".

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